Um buraco vazio
Cresci a ouvir a minha avó a falar sobre os dois filhos que tinha perdido. Eu era uma miúda e isso fazia-me confusão. Não percebia o motivo de ela com sete filhos vivos e com saúde estar constantemente a relembrar os que tinham falecido. Ouvi as mesmas histórias vezes sem conta de como tinham falecido por doenças com muitos poucos dias de vida. Mesmo assim a minha avó lembrava-se deles, do dia em que tinham nascido, do seu cheiro, do seu choro.
Anos mais tarde, quis o destino que eu também perdesse um bebé. Um bebé que para os médicos ainda não era um bebé. Um bebé que nunca conheci, que nunca abracei, que nunca ouvi o choro mas que já amava com todo o meu coração.
Já passaram sete anos, tive três filhos depois mas o vazio daquela perda continua no meu coração. Pensei que o Leonardo iria preencher aquele buraco que cá ficou, mas isso não aconteceu. Seguiram-se os gémeos e eu pensei que iria ficar com o coração cheio mas a verdade é que aquele canto continua cá. Já me conformei que será sempre um espaço vazio, que nunca ficará cheio de recordações e lembranças. È um espaço que foi guardado para alguém que nunca teve hipótese de o preencher. Um espaço no qual nunca guardarei aquele primeiro sorriso, os primeiros passos, as primeiras palavras.
Agora percebo porque a minha avó falava tanto nos filhos que perdeu. No fundo nunca nos esquecemos e nunca deixamos de os amar.