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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Aquele dia X no calendário

As pessoas que me rodeiam queixam-se que eu ando de mal humor. Eu também já o notei e até vejo mais do que um simples mau humor. Vejo uma tristeza grande dentro de mim, muitos são os sorrisos falsos que coloco na cara para que as pessoas não se percebam o que cá vai dentro. Foi uma coisa que chegou de mansinho mas tem vindo a crescer. Tristeza, desanimo, revolta. Sinto uma raiva dentro de mim e não sei o que despoletou. Não gosto do que vejo em mim e então faço o que sei fazer melhor, isolo-me. Deixo de participar nas conversa e brincadeiras. Refugiu-me no trabalho e na leitura. Faço tudo para desligar os meus sentimentos para não disparatar à mínima coisa.

Dou por mim a pensar se estarei deprimida. Questiono-me se é culpa do Outono porque dizem que faz estas coisas às pessoas. Procuro uma explicação porque não percebo o que originou isto. Depois olho para o calendário e percebo. É engraçado como o nosso subconsciente funciona. Como a dor chega antes mesmo que nos apercebermos que estamos outra vez na época negra do ano. Não à nada a fazer se não continuar e esperar que a dor volte para o sitio de onde saiu. Sei que ainda vai doer mais do que doí hoje mas também sei que vai acabar por passar. A lembrança tem destas coisas não trás só boas recordações.

Depois das férias!

As férias passaram e chegou o mau humor, veio acompanhado pela tristeza de não poder aproveitar mais uns dias. Passamos o ano à espera destes dias mágicos que supostamente nos vão repor as energias e vitalidade mas a verdade é que não costuma ser assim. Por norma as férias são épocas de excessos. Aproveitamos os dias ao máximo. Por vezes roubamos umas horas ao sono para ter a certeza que fazemos render bem o peixe. Corremos para cá e para lá a tentar fazer um milhão de coisas que idealizámos, no fim percebemos que aspirámos demais e só metade foi cumprida.

Quando temos crianças então a coisa é ainda pior. Queremos que façam praia porque faz bem. Que passem uns dias no campo porque o ar puro faz milagres. Queremos que conheçam museus para que tenham cultura. Queremos passear, ir ao parque, montar puzzles e jogar jogos de tabuleiro. Queremos desfrutar dos nossos filhos ao máximo porque sabemos que estão a crescer e, cedo, vai chegar a hora em que já não quererão nada connosco.

Depois os escassos dias de férias chegam ao fim e eu fico com a sensação de não ter aproveitado o suficiente. Instala-se o mau humor de ter que voltar ao trabalho. Fico enraivecida com o facto de ter que estar nove, dez horas fora de casa e apenas duas ou três com os rapazes. É tão difícil passar uns dias tão bons e depois ter que abrir mão. 

Por isso sim, estou rabugenta, chateada e de mau humor. Ando com cara de poucos amigos e vou andar assim mais uns dias. Entretanto vou habituar-me ao ritmo novamente, vou voltar a sentir a adrenalina do trabalho. Talvez recupere o gosto pelo que faço, ou talvez não mas isso já é outra história, e esta nuvem negra que paira sobre a minha cabeça vai acabar por se dissipar.

Nunca estamos prontos para dizer adeus

Na segunda-feira fomos à escola dos mais velhos tratar da transferência para a nova escola. Primeiro fomos tratar da do Leonardo com a professora dele. Durante o tempo que tivemos  na sala a professora fartou-se de dizer que ia ter saudades do rapaz. Seguiram-se muitos beijos e abraços entre os dois e as lágrimas subiram-me aos olhos.

De seguida fomos à sala do Guilherme tratar de toda a papelada. Mais uma vez a professora disse ao rapaz que ia ter saudades dele. Recomendou-lhe que continuasse a ser o doce de menino que têm sido até agora e que tivesse juízo para continuar com as boas notas. Notei na professora que estava a ser uma época difícil, acredito que não deva ser nada fácil deixar partir um monte de crianças as quais cuidamos durante anos e aprendemos a amar. No fim tive direito a um abraço que me partiu o coração. A professora agradeceu-me por tudo e eu repliquei que éramos nós que tínhamos a agradecer todo o trabalho que fez com o rapaz. Consegui sair da sala sem chorar embora as lágrimas teimassem em subir aos olhos.

No recreio da escola seguiu-se a despedida mais difícil. A auxiliar Filó agarrou-se aos dois e as lágrimas correram-me pela cara. Vi aquela mulher que tem um coração do tamanho do mundo, que cuida dos 66 alunos da escola como se fossem todos netos dela. Uma pessoa que lá esteve todos os dias para os receber de manhã e para lhes dizer adeus à tarde. Quer estivesse frio ou calor lá estava ela todos os dias sem falta. Uma pessoa que cuida dele no recreio, que os aconchega quando se magoam, que os ouve quando choram. É uma pessoa maravilhosa e com um jeito imenso para crianças. Num ano conseguiu fazer o Leonardo comer sopa quando muitos outros tinham tentado e falhado durante anos a fio. 

O abraço entre os três foi demorado e apertado. O Leonardo dizia que ia ter muitas saudades dela e ela desejava-lhe que encontrasse uma senhora como ela na nova escola. Eu abri a boca e disse que uma Filó como ela não existia e lado nenhum mas fui traída pela minha voz que me saiu trémula e sentida. Afastamos-nos então para evitar prolongar o momento. Afastamos-nos na esperança que a tristeza ficasse para trás, em parte como fazemos com o penso rápido que arrancamos de uma vez para não doer mais. A verdade é que não resultou e ainda hoje penso como tivemos sorte em nos termos cruzado com estas pessoas na nossa vida.

Nunca na vida vamos conseguir agradecer o suficiente pela forma como cuidaram dos nosso filhos. Ás vezes acho que cuidaram deles ainda melhor do que eu própria e isso faz crescer um receio sobre a escola nova. Será que os rapazes vão conseguir ser felizes depois de conhecerem um ambiente como conheceram? Será que se vão sentir seguros numa escola tão grande? Será que alguém os aparará se caírem?

Não sei como será o nosso futuro mas sei que as pessoas que deixamos  vão estar sempre na nossa vida. Certamente vamos fazer visitas e mesmo quando não estivermos juntos vamos recordar sempre. É caso para dizer que não é um adeus mas um até breve.