Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Anos que parecem meses, meses que passam como dias e dias que fogem como segundos. Tempo que passa demasiado rápido, sem que tenhamos tempo de o acompanhar. Num dia estamos a festejar o Ano Novo, dois dias depois gozamos férias de Verão e num piscar de olhos já estamos a preparar o Natal. Por vezes pergunto-me que raio de vida é esta. O que é que gozamos? O que é que vivemos? Como é que conseguimos manter amizades? Quando é que damos atenção aos nosso filhos?
A vida foge-nos por entre os dedos e não a conseguimos agarrar. Vivemos com a esperança que o amanhã vai ser diferente. Vamos ganhar o euromilhões, ficar ricos e ter tempo para tudo. Vamos conseguir aquela promoção, para a qual temos trabalhado anos a fio, quando formos promovidos podemos relaxar e aproveitar a vida. Estamos a trabalhar que nem loucos com um objectivo e quando o alcançamos vamos poder levar as coisas com mais calma. Podemos, pura e simplesmente, aceitar que vamos trabalhar assim por mais uns anos, até chegar à idade da reforma e depois vamos gozar à brava.
No entanto.... O euromilhões nunca chega. A promoção apenas significa mais trabalho. Uma vez atingido o objectivo surge um outro no horizonte. A reforma vêm acompanhada da idade e das suas mazelas o que nos limita o gozar à brava.
Depois somos confrontados com problemas de saúde de pessoas próximas. Descobrimos que um está doente, depois sabemos que outro também está, seguido de outro e mais outro. Vemos estas pessoas lutarem por mais um precioso dia de vida e pensamos que raio de vida é esta que levamos.
Uma pessoa levanta-se mais cedo pois tem que ir atestar o carro. Ainda o marido está a sair já os miúdos estão todos acordados. Que bom, hoje não vou estar meia hora a chama-los, pensei. Preparei os biberões para os gémeos e disse aos mais velhos que se fossem vestir. Estou a dar os biberãos e só oiço:
-Mãe estes calções são aborrecidos. Não quero levar estes.
- Leonardo os outros dois da praia estão sujos, tens que levar esses.
-Os dos Guilherme são fixes e os meus não.
Acabo de dar os biberãos e lá vou tentar encontrar uns calções que lhe agradem. Encontro uns enormes mas ele diz que são fixes, aperto-os bem na cintura e digo-lhe que ainda vai ficar com a pilinha à mostra. Mesmo assim não o convenço e saiu com eles vestidos. Depois foi a camisola, lá procurei uma igual à que tinha dado ao Guilherme para vestir.
Chego à sala e o Guilherme anda a brincar com a t-shirt. Resmungo pelo facto de ainda não estar vestido. responde que não quer aquela camisola:
- Também tu? Veste lá essa que o teu irmão vai levar uma igual, se tu mudas agora vou ter mais fita.
Vou preparar o pequeno almoço e o Guilherme aparece a dizer que o irmão não se importa que ele troque de t-shirt. Lá vou eu procurar outra camisola. Finalmente vestidos, hora do pequeno almoço.
-Mãe o meu cerelac está muito duro! - diz o Guilherme
-Claro está ai à meia hora à espera. - digo enquanto acrescento um pouco de leite.
-Mãe eu não gosto destes iogurtes. - diz o Leonardo.
Eu conto até um milhão. Ainda estou para perceber porque é que come os iogurtes bi-compartimentados do Aldi mas não os do Lidl, são iguais até já os provei e sabem ao mesmo.
Lá lhe dei um iogurte para beber.
-Agora quero duas fatias de panrico torradas.
-O pão rico acabou. Vou torrar-te metade desta carcaça.
-Mãe tens que ir as compras comprar iogurtes, panrico e mortadela para mim.
Tomei nota mental para ir às compras à hora de almoço.
Saímos de casa à mesma hora, já não consegui por combustível no carro. Deixei-os na escola e segui para o trabalho do marido a rezar para que o carro não entrasse na reserva.
Chego ao trabalho do marido e ligo-lhe para que venha buscar a chave do carro. Estaciono, tiro o outro carro do lugar, ponho as minhas coisas no carro e o marido nada. Acabo por entrar, entregar a chave a uma colega e peço que lha entregue por favor.
Cerca de três quilómetros mais à frente apercebo-me que a carteira e a chave de casa do marido estão na carrinha que eu levo. Dou meia volta, volto ao trabalho do marido, ligo-lhe e ele nada. Entro mais uma vez, cruzo-me com um amigo. Eu devia estar com uma cara tão boa que ele olhou muito espantado para mim e disse-me:
-Então está tudo bem? Estás bem?
-Estou. Faz-me um favor, entrega isto ao Rodrigo que eu já estou atrasada.
Entro no carro, são 8:47. Acelero, apanho a auto-estrada e faço o percurso todo em excesso de velocidade, sempre atenta a ver se não vem a policia. 8:56 estou a estacionar o carro na empresa. Ufa cheguei a tempo. Apercebo-me que não trouxe iogurte para comer a meio da manhã. Como não posso ter nada nas gavetas por causa das formigas vou ter que esperar pela hora de almoço.
Vou trabalhar, passo a vida a puxar as calças para cima. Tomo nota mental para comer melhor, estou outra vez a ficar mais magra. Faço uma lista de compras, vou aproveitar a hora de almoço para ir a correr ao supermercado.
Depois disto tudo é caso para dizer: uma pessoa ou morre ou fica doida!