Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Há uma semana que me sinto assim. Mais concretamente desde que os mais velhos foram para casa dos avós. Sinto a falta deles, das conversas, das brincadeiras, até sinto a falta das zangas. Não passa uma hora no dia em que não me apeteça entrar no carro e ir busca-los. No entanto sei que se o fizesse estaria a ser egoísta. Estaria apenas a pensar em mim e não neles. A mudança de trabalho do marido traduziu-se também numa mudança de horário. Ganhamos porque deixou de sair de casa de madrugada e de se deitar muito cedo. Perdemos porque deixou de estar as tardes em casa, o que nos permitia manter os rapazes em casa durante as férias.
Agora temos que nos adaptar a esta nova realidade. Não podemos ter os rapazes dias e dias sozinhos em casa. Sei que o melhor é estarem acompanhados mas mesmo assim o meu coração é egoísta e não aceita o que a mente concluiu.
No fundo não sou só eu que sofro. Os pequenos perguntam constantemente pelos irmãos. Perguntam quando voltam. Dizem que querem brincar com eles, que tem saudades. Não brincam com nada. Passam o tempo todo de volta de nós. Querem que brinquemos com eles como os irmãos costumam fazer.
Eu cá continuo a fazer comida para seis em vez de para quatro. Continuo a procurar a roupa deles nos cestos de roupa que lavo. Continuo à espera de ouvir um adoro-te mãe ou receber um dos belos beijos deles. Um dia de cada vez e dentro em breve tudo volta ao normal.
Os mais velhos foram passar uma semana fora com os avós e nós não somos os mesmos sem eles. O som da casa é diferente. Os risos são menores, os banhos mais rápidos, a pilha de roupa suja é menor e as camas são menos para fazer. Sinto falta do meu Guilherme que anda sempre a dar-me abraços e a dizer que me adora. Sinto falta da forma como demora uma eternidade a explicar a coisa mais simples. Sinto falta de olhar para ele e sentir que está quase da minha altura. De olhar para a forma como o seu corpo está a mudar.
Sinto falta do meu Leonardo e da sua voz histérica. Sinto falta das suas gargalhadas que se ouvem até ao fim da rua. Sinto falta de ouvir o ruído de fundo que faz o dia todo. Passo a vida a pedir-lhe pare de andar sempre a melodiar pela casa mas até desse hábito irritante sinto falta.
Dou por mim a fazer compras para seis, comer para seis e depois somos apenas quatro para o comer. Os pequenos também sentem a falta dos irmãos. Perguntam por eles o dia todo. Quando vão comer perguntam se os irmãos estão a comer. No banho perguntam se os manos estão a tomar banho. À noite perguntam se também estão a dormir.
Uma parte de mim agradece esta ausência. Estou cheia de trabalho, tenho trabalhado mais horas que o habitual. Já ouve dias em que o marido teve que sair para ir buscar os pequenos e tratar deles porque eu nem os conseguia ir buscar a tempo. Agradeço o facto de ter apenas dois para tratar o que torna tudo mais fácil mas sinto falta deles na mesma.
Agradeço também o facto de poderem ter este tipo de relação com os avós. Gosto do facto de poderem criar laços mais fortes. Lembro-me das férias que passei com os meus avós, do quanto me diverti e de como quero o mesmo para os meus filhos. Não quero de forma alguma ser uma mãe que não os deixa viver, que os mantém sempre debaixo das asas mas é difícil abdicar do controle. É tão difícil que não consegui deixar ir os mais novos apesar de os avós os querem levar a todos. Acabamos por chegar a um meio termo, foram dois ficaram dois. Pode ser que para o ano tenha coragem de os deixar ir a todos. Os pequenos já estarão mais crescidos e deve ser mais fácil tomar conta de todos. Se assim for a casa vai ficar ainda mais vazia.
Não vale a pena sofrer por antecedência. Por agora limito-me a sentir falta dos mais velhos e a contar os dias para os ter de volta em casa.
E a verdade é essa. Divertimos-nos sim mas nunca deixamos de pensar e falar sobre eles. Comentamos como ficariam aborrecidos no museu, como iriam gostar de explorar a catedral, como iriam adorar o parque infantil e qual seria a reacção à capela dos ossos.
Ser pai ou mãe significa trazer os nosso filhos sempre no coração.
O tempo que passamos juntas foi curto demais. Treze foram as semanas em que te transportei dentro de mim e mesmo assim deixaste uma marca profunda no meu coração. Não passa um dia em que não pense em ti e como poderia ser o nosso presente, se a vida tivesse seguido um rumo diferente. Embora pense em ti todos os dias por esta altura do ano custa mais. Começo a recordar a suspeita, os exames, a confirmação e a decisão que tivemos que tomar. Penso muitas vezes se foi a decisão correcta. Sei o que os médicos me explicaram. Passei horas infindáveis a procurar algo que os contradissesse e não encontrei nada. A minha mente diz-me que a decisão só poderia ser esta mas o meu coração reclama que o teu caso poderia ser diferente.
Existe sempre a esperança que o nosso caso seja diferente ou seja um milagre e ai reside a minha dúvida. Será que fiz bem em desistir de ti?
Essa é uma pergunta que ficará sempre sem resposta. A ciência diz-me que foi a melhor opção. Estavas em sofrimento e ias acabar por morrer. Eu tinha dores que nunca tinha sentido e que depois me explicaram que era o meu corpo a combater a gravidez.
Acabei por aceder à interrupção médico assistida não por não gostar de ti mas sim por te amar demais. Não queria que sofresses. Não queria ver-te nascer só para me morreres nos braços como sei que aconteceu a tantos outros. Sabia também que o meu apego por ti ia continuar a crescer enquanto estivesse dentro de mim embora soubesse que estavas condenada.
Cedi então para terminar o nosso sofrimento. Nunca penses que não te amei nem que desisti de ti. Amar é querer o melhor para a pessoa que amamos e o melhor para ti era partir. Hoje penso em ti com carinho e saudade. É engraçado como podemos sentir saudades de alguém que nunca vimos nem conhecemos mas a verdade é que sinto saudades.
A tua passagem na nossa vida marcou-nos. Ensino-nos que não devemos dar nada por garantido e que devemos agradecer por tudo o que temos. Hoje em dia não choro por ti porque sei estás comigo e que um dia ainda nos voltaremos a encontrar.