Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Por aqui o ano escolar tem inicio hoje. Os rapazes já saíram e não pude deixar de notar as diferenças entre eles.
O Leonardo estava animado e até ansioso pela hora de sair. Foi o primeiro a acordar e a ficar pronto. Tagarelava animado sobre rever os amigos, as funcionárias e a professora. Noto que está sedento de aprender, no fundo é uma criança que precisa de estimulo diário e demonstrava já um certo cansaço desta monotonia de férias.
O Guilherme, por sua vez, também acordou satisfeito e ficou pronto num instante. Apesar desta proatividade notei nele um certo "vamos lá que tem que ser". No fundo encara sempre a escola como uma obrigação e não um sitio que lhe abre a porta a todo um mundo.
São posturas diferentes que, cada vez mais, me fazem mais acreditar que o ensino deveria ser mais dinâmico. A verdade é que todos os alunos são seres com personalidades e capacidades diferentes e todos sabemos que não existem duas pessoas iguais. Eu tenho o maior exemplo disso nos gémeos. Iguais, o mesmo ADN, educados da mesma forma, sujeitos ao mesmo ambiente e cultura e não poderiam ser mais diferentes. Ora se todas as crianças são diferentes como podem esperar que todas aprendam da mesma forma? Como pode um professor chegar de igual forma a vinte e muitos alunos que estão dentro da mesma sala? Não sei a resposta a estas perguntas e duvido que alguém as saiba mas gostava de ver algumas coisas mudarem. Gostava para que as crianças que não conseguem ter boas notas não se sintam inferiores aos colegas. Gostava porque já é tempo de aprender que diferente não significa mau, apenas significa outras capacidades.
Como mãe só me resta olhar para o novo ano lectivo com ansiedade, sem saber bem o que nos vai trazer mas sabendo que o que quer que seja não nos vai derrubar sem luta. Vamos levar um dia de cada vez e tentar apoiar os rapazes o melhor possível. Por agora resta-me esperar que regressem a casa e me contem tudo sobre o primeiro dia.
Meu filho os onze anos trouxeram mudanças em ti. Estás mais alto e forte. Tens uma rouquidão que insiste em voltar e que eu sei que é um indicio que a tua voz está a mudar. Vejo-te mais preocupado com o espelho e comentas todas as diferenças que encontras. Por estes dias andas todo contente porque os pelos do bigode começaram a escurecer.
Eu fico contente por ti mas não consigo deixar de sentir uma tristeza grande. Sei de fonte segura que os teus melhores anos estão a chegar ao fim e isso dói demais. Sim são os melhores anos, bem sei que pensas que a vida vai ser fantástica quando cresceres mas a verdade não é bem essa. A nossa infância é o melhor da nossa vida, são esses dias que recordamos sempre. Já reparaste que até a tua bisavó passa a vida a falar dos seus tempos de criança no campo? Isso não é ao acaso.
Não existe época melhor que a nossa meninice. Quando podes sonhar de dia e de noite com histórias de heróis e vilões. Quando podes fazer construções e simular tsunamis que destroem toda a cidade que construiste. Quando podes ser um dinossauro que aterroriza pessoas. Brincar, brincar livremente, é o melhor que alguma vez podes fazer. Deixar essa cabeça voar e sonhar acordado.
É uma etapa pura em que quase não existe maldade. Sabes que teu amigo brinca contigo porque sim. Podes dizer tudo o que te está na mente porque às crianças ninguém leva a mal. Tens quem se preocupe contigo. Quem garanta que tens sempre comer na mesa e roupa lavada. Quem te ajuda a fazer trabalhos e brinca contigo. Quem te ama mais do que tudo mas também te repreende quando é preciso. Tens quem se rale se a roupa te serve e se o teu calçado está em condições. Quem te relembre que são horas do banho ou de lavar os dentes. Quem te trate quando estás doente e te aconchegue na hora de dormir. Não tens preocupações porque existe quem as tenha por ti.
Sei que pensas, tal como todos nós já pensamos,que quando cresceres é que vai ser bom. Contudo a verdade é que o crescimento trás obrigações, responsabilidade e deveres. Trás preocupações com trabalho e dinheiro.
Por isso não tenhas pressa. Aproveita esses últimos anos de criança em que os dias passam num ritmo diferente. Ainda me recordo como as férias de verão duravam tanto tempo que até ficávamos fartos delas e como o Natal levava uma vida a chegar. Agora que cresci nem dou pelos dias passarem, correm uns a seguir aos outros e parece que anos passam num piscar de olhos.
Por isso já vês que o melhor é aproveitares ao máximo os últimos anos que te restam. Fecha os olhos e sonha. Dá asas à imaginação. Grita, brinca, corre e salta. Aproveita e não percas tempo a ter pressa em crescer.
Por vezes acordo sobressaltada, quase sempre devido a sonho mau. Por norma nesses sonhos um ou mais de os meus filhos não estão em segurança. Acordo em absoluto pânico e tento voltar a adormecer. Dou voltas e voltas na cama enquanto repito a mim mesma que estamos todos bem, mas nada acalma o meu coração acelerado.
Acabo por me levantar e fazer a única coisa que sei que me trará alivio. Vou ao quarto dos rapazes e deixo-me estar em silêncio a ouvir os diferentes ritmos da respiração. Mentalmente associo a respiração ao filho que a emite. É engraçado como até no escuro os consigo destingir apenas pelos sons que produzem. Quando me asseguro que todos os quatro estão bem e seguros volto ao meu quarto. Deito-me e adormeço de imediato.
Hoje é um dia bom e um dia mau tudo ao mesmo tempo. É um dia bom porque o Santiago vai ser finalmente operado e esperamos que os problemas respiratórios melhorem. É um dia mau porque o Santiago vai ser operado e isso trás imensas preocupações.
É a terceira vez que passo por isso mas parece que cada vez custa mais. Estou ansiosa e algo nervosa. Dormi mal com medo de me deixar dormir e não conseguir estar no hospital a horas. Tivemos que mandar os mais velhos para casa dos avós para que pudessem ir à escola. Tive que fazer planos para deixar o Salvador na creche logo ao abrir.
Estou preocupada com a operação, com o recobro e com a recuperação. Pergunto-me como é que vou impedir o rapaz de comer pão que tanto adora. Como é que vou dar de comer aos irmãos sem que ele veja. Como é que vou manter este rapaz a líquidos durante três dias. Prevejo muito choro e muito pedinchice. Adivinham-se dias difíceis mas cada coisa a seu tempo.
Possivelmente à hora que lerem isto já deve estar no bloco ou talvez até despachado. É uma cirurgia rápida e ele deve ser o primeiro. Vamos esperar que tudo corra bem.
Estou aqui sentada na secretária cheia de frio e não consigo deixar de pensar nos rapazes.
Será que estão bem?
Será que têm frio?
Será que lhes mandei roupa suficiente?
Será que vestiram o casaco para brinca no recreio?
Será que colocaram os gorros e as luvas?
Levantei-me três vezes de noite para verificar se estavam tapados. Ouvi o Leonardo espirra pelo que lhe mandei um casaco ainda mais quente. Saíram do carro com aparência de quem engordou dez quilos durante a noite mas mesmo assim estou inquieta. Entraram na escola e foram encaminhados para a sala para fugirem ao frio mas nos intervalos devem tê-los deixado sair para a rua. Sinceramente espero que não, a escola está ali numa zona tão fria. Fica um pouco isolada e desabrigada o que faz com que o frio seja maior. Sai de casa com cinco graus que desceram até ao zero no portão do estabelecimento. Vou continuar aqui, preocupada até os ter todos no quente da nossa casa.
Ontem foi o primeiro dia das actividades de férias. Ás 8h lá estava eu a deixar o Gui e o Leo na escola. Vi os respectivos grupos, informei a monitora que estava no portão e ela tratou de encaminhar os meus meninos.
Subi as escadas e, como sempre, olhei para dentro da escola só para ter certeza que estava tudo bem. Vejo então os meus filhos, de mãos dadas, no meio do pátio da escola. Fiquei um pouco há espera para ver e eles não se mexiam, lá continuavam agarrados um ao outro com um ar perdido e desnorteado.
A minha vontade foi ir busca-los imediatamente mas depois pensei que tenho que os deixar crescer e desenrascar. Olhei de novo, vi que algumas monitoras já estava a tratar de os separar e encaminhar para os respectivos grupos.
Vim trabalhar e passei o dia todo a pensar se estariam bem? Será que comeram? Será que se divertiram? Será que puseram os bonés? E o protector solar?
Sai as 18H e apressei-me para chegar a casa. Assim que entrei fui logo questionar como correu o dia. A resposta que obtive foi que o dia foi muito fixe. Ser deve ter sido pois estavam tão cansados que nem quiseram jantar.