Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Faz hoje um ano que obriguei o vosso pai a colocar os ovos no carro. Chegamos ao hospital, a médica perguntou como é que vocês estavam e eu respondi que estavam prontos para vir para casa. A médica perguntou à enfermeira e esta confirmou que estavam prontíssimos para vir para casa. O meu coração quase que parou, fiquei eufórica, finalmente a família iria ficar completa.
Preparamos tudo para a alta, fomos buscar os vossos ovinhos para fazerem o testes da apneia. Vocês portaram-se lindamente e nós recebemos recebemos aquele papelinho mágico para vos podermos trazer connosco.
Faz hoje um ano que beberam o primeiro biberão em nossa casa. Lembro-me que não beberam quase nada. O vosso pai ficou todo chateado, dizia que eu tinha tido pressa de vos trazer. Lá percebemos que deviam estar cansados. Afinal não é todos os dias em que se dá o primeiro passeio de carro e estava tanto calor. Dormiram as três horas seguintes e na hora do outro biberão já eram os bebés famintos a que estávamos habituados.
Foi um dia de primeiras coisas. Primeira vez que partilharam o berço, sim porque durante os três primeiros meses vocês dormiram juntinhos. Primeira vez que vos aconcheguei na vossa caminha. Primeira vez que acordei de noite para vos dar biberão, devo dizer que nunca fiquei tão feliz por acordar de 3 em 3 horas. Primeira vez que ouvi o vosso choro em casa. Primeira vez que ligamos os intercomunicadores para vos ouvir. Primeira vez que dei com os vossos irmãos a olharem, enamorados, para vocês a dormir.
Este dia fica para sempre na nossa memória, não foi o final da batalha mas foi uma nova etapa.
A primeira batalha começou assim.
E terminou assim
Já viram como cresceram em 24 dias. Obrigado meus filhos por nos ensinarem uma lição de vida tão grande.
O Santiago nasceu com 2,015kg e o Salvador com 1,575kg. Ao contrario do que seria de esperar o Santiago portou-se pior que o Salvador. Após nascer esteve um pouco apático durante uns minutos e só ficou melhor quando o irmão chegou ao pé dele. Este laço que os gémeos partilham... O pai foi logo vê-los, veio embora todo babado é cheio de fotos. Eu só consegui ir vê-los no dia seguinte, ainda pensei ir por volta das 22h hora em que me podia levantar mas não consegui, as minhas pernas pareciam gelatina. No dia seguinte logo de manhã subi a neo para os ver, eu estava de rastos ( depois de cinco meses praticamente acamada é natural). Uma das enfermeiras disse-me que eu estava muito bem, mas eu sentia-me como se tivesse sido atropelada por um camião, respondi que se me tivesse visto depois dos partos dos meus outros filhos aí sim estava bem, até parecia que ainda tinha energia para correr a maratona. Namorei um pouco com os meus meninos lindos e depois fui descansar para o quarto. Depois de almoço subi com o marido para ver os meninos. Entrei nos cuidados intermédios mas só vi o Salvador, gelei e não consigo descrever o que me passou pela cabeça naqueles milésimos de segundos. Uma das mães apercebeu-se da minha aflição e disse-me para ir falar com a enfermeira mas as minhas pernas não se mexiam. Finalmente a enfermeira veio ter comigo e disse-me que o meu bebé estava nos cuidados intensivos. Fomos falar com a médica que nos explicou que o menino tinha uma infecção e já estava a antibiótico mas, devido à infecção,estava com dificuldade respiratória e teve de ser ligado ao cpap com o oxigénio no máximo. No dia seguinte foram pesados, o Salvador tinha perdido 75g e o Santiago 110g. O Santiago continuava ligado ao cpap se bem que a pouco e pouco iam diminuindo a intensidade do oxigénio.
No domingo tive alta, custou tanto deixar os meus bebés. ainda por cima quando os fui ver antes de me ir embora uma das enfermeiras deixou-me pegar no Salvador enquanto comia pela sonda. Era leve como uma pena, a cabeça cabia perfeitamente na minha mão e eu tenho umas mãos pequenas, mal chegava ao meu cotovelo de cumprimento ( com as pernas encolhidas, claro). Assim que mo colocaram nos braços fiquei com as lágrimas nos olhos, completamente enamorada por aquele ser. Passados dois dias já tinham recuperado o peso com que nasceram, o Santiago voltou para ao pé do irmão nos cuidados intermédios estava a recuperar bem. estavam a fazer tratamento para a Icterícia. Três dias depois entro nos cuidados intermédios e não vi o Santiago, perguntei imediatamente a enfermeira pelo meu filho. Ela respondeu-me que estava no mesmo sítio. No lugar da incubadora estava um berço com o nome do meu bebe. Destapei o berço ( as incubadoras e os berços estão tapados com um pano para reduzir a luminosidade e ajudar os bebés a descansar), espreitei lá para dentro e não é que lá estava o meu menino. A partir do momento em que vão para o berço passam a ser as mães que lhes tem que dar banho. Eu claro andava felicíssima pois podia interagir mais com ele. Cinco dias depois foi a vez do Salvador passar para o berço, mais uma vitória para nós. Deixaram de comer por bomba e passaram a comer por gravidade. Ligávamos seringa cheia de leite à sonda, retirávamos a peça interior da seringa e a gravidade empurrava o leite para o estômago dos meninos. O objectivo era comerem cada vez mais rápido. Passados mais cinco dias começamos a tentar o biberão, eles mamavam uns 5 ml e depois cansavam-se. Continuamos a tentar, umas vezes mamavam um pouco, outras estavam muito cansados e não mamavam nada. Entretanto fizeram as 36 semanas ( sexta-feira) e as médicas diziam que já era tempo mamarem tudo mas não pareciam interessados. O Santiago mamava um pouco melhor que o irmão, entretanto arrancou a sonda pela milésima vez e a enfermeira não lha colocou a ver o que acontecia. Quando regressei no sábado de manha descobri que tinha mamado os biberões todos sozinho. Falaram-me que na segunda-feira deveria ir para casa. Fiquei feliz mas triste ao mesmo tempo pois não queria levar um e deixar o outro. Como que a adivinhar a separação eis que o Salvador começou a mamar tudo também. Na segunda feira quando chegaram as médicas ambos mamavam tudo há mais de 24 horas, assim tiveram alta e pudemos trazer os nossos meninos para casa. Ao todo estiveram 24 dias na neonatologia de Santa Maria e só posso dizer que foram uns meninos muito mimados. A equipa é espetacular e só podemos agradecer pois é graças a eles que temos estes dois bebés.
Cheguei ao bloco de partos por volta das 12:30H encaminharam-me para um quarto de uma cama. Colocaram-me o soro, o CTG e fizeram-me mil e uma perguntas enquanto escreviam o meu processo. Depois deixaram entrar o meu marido e disseram-me que a doutora já me viria ver. Entretanto entraram duas anestesistas que queriam colocar-me a epidural referi que não tinha dores pelo que ainda não queria qualquer anestésico. Fui conversando com o marido para acalmar a ânsia. Afinal os meninos só tinham 33 semanas e apesar de os médicos disseram que o parto era necessário fica sempre uma duvida. Por volta das 13:30H veio a médica, mandou o marido sair e fez-me o toque, estava de 4/5 dedos. Não fiquei admirada afinal as contracções nunca tinham parado. Disse-me que viria um enfermeira colocar-me oxitocina para ajudar a dilatar.
O marido voltou a entrar e continuamos na conversa, cerca de 15 minutos mais tarde entrou a enfermeira e colocou-me o dito medicamento. Por volta das duas e pouco apareceu o medico que me seguiu no internamento ( chefe do departamento de obstetrícia), queria saber se eu estava bem e tranquilizar-me pois iria entrar ao serviço no turno seguinte e seria a equipa dele a fazer-me o parto. De repente olhou para mim e saiu a falar alto do quarto. Voltou segundos depois acompanhado pelas anestesistas exigindo saber porque motivo não tinha eu o acesso da epidural. As doutoras referiram que eu não queria e eu argumentei que ainda não tinha dores pelo que não havia necessidade. Por fim lá saíram todos e deixaram-me a sós com o marido que estava morto de fome. Disse-lhe que fosse comer até porque estava quase na hora da mudança de turno e teria de sair de qualquer forma. Assim fiquei sozinha mas não durante muito tempo pois passados alguns minutos entraram no quarto algumas enfermeiras, estavam a passar o turno e iam de quarto a quarto explicar tudo. Fiquei novamente sozinha e as contracções ficaram um pouco mais fortes, ainda não tinha dores mas sentia uns apertões fortes na barriga. Num desses apertões rebentaram-me as aguas, fiquei toda encharcada. Toquei a chamar a enfermeira mas como estavam na mudança de turno demoraram um pouco. Passados cinco minutos lá apareceu a enfermeira que ao ver como eu estava foi chamar ajuda. De repente fiquei com o quarto cheio de gente. Eram 15:25H, as enfermeiras tentavam mudar a cama comigo lá em cima, entretanto uma lembrou-se de me perguntar se eu queria epidural eu respondi que já não devia ir a tempo. Outra enfermeira dizia que não sabia se me havia de fazer o toque ou não, finalmente decidiu fazer e estava com 8 dedos. Apressaram-se a ir chamar os médicos. A anestesista entrou no quarto e ainda me disse para me deitar de lado para me dar a anestesia mas eu já não conseguia. Estava em pânico sentia que os meninos iam nascer mas ainda não estava nada preparado, não bastava serem prematuros ainda iam nascer sem um médico presente. De repente entram os médicos completamente à civil, o doutor diz-me para ter calma e não fazer força. Eu juro que não fiz força, acho que nem abri as pernas e de repente sai um dos meninos disparado. Uma das médicas ainda o tentou agarrar mas não conseguiu. Eu só vi um bebe gordinho em cima da cama, o doutor olhou para o menino e disse-me:" Que grande bebé." Eram 15:40H, cortaram o cordão e apressaram-se a levar o meu Santiago embora. "Agora podemos respirar um pouco" disse uma da médicas enquanto vestiam as batas descartáveis que nem tinham tido tempo de vestir. Uma das enfermeiras apareceu a correr com um ecografo para terem a certeza que o Salvador não teria dado a volta impossibilitando o parto normal. Felizmente estava pronto a nascer apareceram uns ferros para colocar as pernas, nem sei bem de onde, e disseram-me para fazer força. Às 15:54H nasceu o Salvador a doutora mostrou-mo e entregou-o a outra que saiu apressadamente com ele. Vi imediatamente que era bem mais pequeno que o irmão, afinal os doutores estavam certos. Esperamos um pouco para que saísse a placenta, entretanto vieram dizer-me que os meninos estavam bem e que a neonatologia viria falar connosco pais. Deram-me uma anestesia para me cozer mas acho que não fez efeito. No meio disto tudo a anestesista veio dar-me os parabéns por ter tido gémeos sem anestesia e uma das enfermeiras veio pedir-me desculpa por não terem chamado o pai dos bebes mas não tinha dado tempo. Eu respondi que não havia problemas afinal ele dizia que não sabia se queria assistir a dois a nascerem assim ao menos não teve que dar parte fraca, tem sempre a desculpa que não chegou a tempo. Eu pedi desculpa as enfermeiras pela confusão. Finalmente depois de estar toda arranjada chamaram o marido que vinha branco ( ainda bem que não assistiu ao parto). A primeira coisa que faz é dar-me um raspanete que quase o matava do coração. Afinal ele tinha chegado para entrar mas ainda estavam na mudança pelo que o mandaram esperar, no mesmo instante começa a aperceber-se de um grande alvoroço. Disse que os médicos estavam a entrar no bloco ( passaram por ele que estava a porta) e que assim que abriram a porta ouviu as enfermeiras a gritarem para eu aguentar. Disse que só se acalmou quando uma das enfermeiras lhe foi dizer que estava tudo bem. Homens.... Passado um pouco veio uma médica da neonatologia dizer que os meninos estavam bem, iam ficar em incubadora nos cuidados intermédios. Saiu-nos um peso de cima mas ainda não podíamos respirar descansados. Foi uma sexta-feira diferente no hospital de Santa Maria. Ainda hoje por vezes quando me perguntam onde nasceram e eu digo que nasceram lá em Julho, dizem-me não me diga que foram uns gémeos que nasceram numa sexta-feira. Eu aceno com a cabeça e recebo um grande sorriso de volta.
Fui para o internamento mas fui informada que a qualquer momento poderia ser levada para o bloco de parto. Passou um dia, dois, três e estava tudo espantado por ainda nos estarmos aguentar. Os médicos vinham fazer as rondas e explicavam a cada grávida que exames iam fazer e mais ou menos quando iam para casa, a mim só me diziam para ver se os gémeos aguentavam mais uns dias. Passou-se uma semana e continuava tudo na mesma. Passava os dias deitada na cama só me levantava para comer e ir à casa de banho. Pelo menos, tive a sorte de ir tendo umas boas companheiras de quarto o que ajudava a passar o tempo, mas já começava a ficar aborrecida. Fazia CTG uma vez por semana e todos os dias às enfermeiras vinham ouvir os bebés 3 vezes. Os meus meninos não tinham espaço para se mexer pelo que nem tínhamos que procurar o coração para ouvir. Eu já indicava as enfermeiras onde colocar o aparelho. Finalmente o médico disse-me que se aguentasse as 34 semanas ia para casa estava a fazer as 32 pelo que estava quase. Os dias continuaram a passar e eu dizia a toda a gente que ia para casa as 34, já estava a fazer planos, uma enfermeira disse-me que agora até acreditava que eu ia aguentar. As 32 semanas e 3 dias fui fazer uma eco e os fluxos estavam todos alterados. Voltei para o internamento e disseram-me que iria repetir a eco nos dia seguinte. Repeti as injecções de maturação pulmunar pois as primeiras já tinham perdido o efeito. No dia seguinte por volta das duas da tarde fui repetir a eco. A médica que fez a eco disse que não via nada de mal com os bebés, e pediu-me para esperar fora da sala na cadeira de rodas pela auxiliar. Fora da sala ouvia ligar para o bloco de partos e para a neonatologia a avisar que afinal não iam fazer o meu parto. Fiquei um pouco pensativa afinal os fluxos deviam estar muito mal para já terem tudo preparado para o parto. Voltei para o internamento onde passei mais dois dias. Na sexta-feira disseram me que tinha que ir repetir a eco. Lá fui eu fazer um novo passeio de cadeira de rodas pelo hospital. O Dr. demorou imenso tempo a fazer a eco e quando terminou disse-me que os fluxos estavam muito mal e estava preocupado com os bebés . Fiquei à espera enquanto foi em busca do chefe da obstetrícia. Voltaram os dois para me perguntar se estava pronta para subir para o bloco de partos. Estava com 33 semanas e não estava de forma alguma pronta, afinal os bebês seriam prematuros mas se eles achavam que estavam em perigo quem era eu para duvidar. Desci ao internamento para arrumar as minhas coisas, liguei ao marido e a mais meia dúzia de pessoas a dizer que os meninos iam nascer e fui encaminhada para o bloco de partos.