Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Dissemos aos rapazes que eram horas de ir para a cama. Vieram despedir-se e subiram. Ouvi as gargalhadas dos quatros na casa de banho enquanto lavavam os dentes e se preparavam para dormir. Foram para o quarto e deitaram-se. Preparei-me para passar a próxima meia hora a ouvir os seus sussurros. No escuro contam histórias e piadas e depois riem-se que nem perdidos mas desta vez não foi bem isso que aconteceu.
- Pum!
- O que foi isto? - perguntei ao marido
- Deviam ter algum brinquedo em cima da cama e caiu para o chão.
- Pum!
- Outra vez?
- Pum!
- Vou lá a cima ver o que se passa.
- Pum!
Abro a porta do quarto, vejo a luz acesa e um monte de peluches caídos no chão. Os rapazes riem-se que nem perdidos.
- Mas o que é que se passa aqui?
- Ó mãe ninguém se queria levantar para apagar a luz por isso estávamos a atirar peluches para ver se conseguíamos acertar nos interruptores.
Precisava aviar o antibiótico para o Salvador. Não me pareceu viável perder tempo a ir deixa-los a casa para depois ir à farmácia. Analisei alternativas e resolvi experimentar uma farmácia em que os medicamentos são avisados em drive in. Claro que como sou um pessoa cheia de sorte a dita farmácia estava fechada. Não me restou outra hipótese se não ir à normal.
Entrei com os rapazes e disse-lhe que fossem brincar no espaço para as crianças. Não tínhamos ninguém à nossa frente pelo que a nossa estadia na farmácia será breve. Eis que o Santiago grita:
- Quero fazer xixi e cocó!
Ouvem-se gargalhadas na farmácia e eu procuro algo que indique uma casa de banho. Como não vi nada digo ao rapaz para aguentar. Olho desesperada para os nove posto de atendimento para ver qual fica disponível para mim e o Santiago grita:
- Estou a fazer! Não aguento!
O nosso numero aparece no ecrã corro para o posto atiro as receitas para o farmacêutico enquanto lhe pergunto onde é a casa de banho. Ele indica-me o caminho com um ar surpreso, eu digo-lhe que pode preparar o antibiótico enquanto corro com os dois rapazes para a casa de banho. Chegada ao cubículo tento fechar a porta com os três lá dentro. Quando fecho a porta já o Santiago está sentado na sanita, o Salvador baixa a calça e diz que está aflito para fazer xixi. O Santiago continua na sanita e eu peço para que o Salvador aguentar. Minutos depois conseguimos sair da casa de banho, os pequenos apressam-se para a casinha de brincar e eu dirijo-me ao posto de atendimento que está vazio. Penso que quando o farmacêutico voltar vou estar à espera como uma pessoa normal quando o Santiago grita novamente:
- Mais cocó.- enquanto corre para a casa de banho
A mim só me resta pegar no Salvador e correr atrás. No caminho para a casa de banho passo pelo farmacêutico que se dirige ao local de trabalho já com o nosso antibiótico preparado. Digo adeus à minha hipótese de parecer uma pessoa normal. Nova ginástica na pequena casa de banho, regresso à frente da farmácia a tempo e dar os dados e fazer o pagamento. Agradeço e saiu envergonhada ciente que tão depressa não volto ao local do crime.
Como já referi várias vezes é raro o dia em que não vou às compras e não volto com pelo menos um saco de comer. Assim que coloco o saco dentro de casa tenho quatro cabeças a espreitar as magnificas coisas que foram adquiridas. Para perceberem a importância do saco os rapazes primeiro espreitam as coisas e só depois é que falam à mãe.
Depois de todos terem verificado tudo vou arrumar as compras e um dia deste tive um contratempo. Fui tirando coisas e colocando no sitio certo até que vi o fundo do saco e percebi que me faltava uma caixa de hambúrguer congelados. Pensei que já os teria arrumado sem dar conta pelo que fui espreitar e nada. Pensei que os teria colocado por engano no frigorífico e nada. Perguntei ao marido se os tinha visto e a resposta foi negativa. Lembrei-me que poderia ter ficado caída no carro mas também não. Pensei que poderia ter andado outra vez a fazer compras para outra pessoa o que já não é novidade. Fui verificar o talão e lá estava os ditos registados e pagos.
Comecei a andar pela casa em busca da caixa de hambúrguer e o marido pensou que eu tinha enlouquecido. Chegou mesmo a questionar-me se eu tinha sequer comprado o artigo que andava à procura. Raios para o homem sempre a gozar com a desgraça alheia. Continuei a minha busca determinada a encontrar a caixa de hambúrguer só para esfregar no nariz do marido.
Entretanto um dos gémeos chega ao pé de mim e diz que tem o nariz sujo. Abro uma porta do armário da cozinha para tirar um guardanapo e assoar o rapaz. Quando coloco a mão dentro do armário vejo a minha caixa de hambúrguer bem em cima dos guardanapos. Desatei a reclamar que os gémeos deviam ter enfiado ali o artigo e eu nem reparei. Se foram de facto eles? Não sei mas vou afirmar que sim até ao fim.
Adoro unhas arranjadas e pintadas mas não consigo ter as minhas assim. Devo sofrer de algum problema porque nada dura comigo. Uma pintura normal dura-me dois dias. Já coloquei unhas de acrílico e tratei de as partir todas. Entretanto resolvi experimentar o verniz gel que nem uma semana me durou. Começou a saltar tudo e como estava em casa com o pequeno que foi operado nem pude ir ao cabeleireiro tirar o resto.
Certo dia fartei-me de ter unhas meio pintadas e colocar verniz por cima para disfarçar a coisa. Muito a esforço lá consegui colocar verniz nos dez dedos sem fazer estragos. Estava bastante contente com o resultado e sentei-me à espera que secasse. Um pouco depois os gémeos acordaram e um deles aponta para a minha cara e pergunta:
- Mãe dói dói na caua?
Eu olhei para o espelho e percebi que tinha a cara cheia de verniz vermelho. Pior ainda foi perceber que nem o meu robe novo escapou à coisa. Ainda tentei limpar com acetona mas não tive grande resultado. Não tive grande resultado no robe porque as unhas foram-se todas.
Sou eu que sou muito desastrada ou isto de pintar unhas é difícil?
O marido foi para a bola e eu fiquei sozinha com os pequenos. Dei-lhes jantar e arrumei a cozinha. Quando terminei tudo sentei-me no sofá dois minutos até que ouvi:
- Mas o que é isto? - perguntou o Guilherme
- Mãe, mãe anda cá depressa! Está aqui cocó no chão.
Eu sai disparada e não e deparo-me com quatro rapazes a olhar para um bocado de coco.
- Mas como é que...mas...- fiquei tão perplexa que nem conseguia falar.
- É cocó Santiago - diz o rapaz com um sorriso nos lábios
- Foste tu Santiago?
- Sim.
- Mas como é que o Salvador tem as mãos sujas e tu não?
- É que esse mano mexeu no cocó.- Explica o Guilherme
Lavei as mãos ao Salvador enquanto os mais velhos faziam de guarda costas do dejecto. Limpei o chão e fui mudar a fralda ao Santiago. Percebi então que aquilo tinha saído da fralda e escorregado pela perna a baixo.
Porque é que estas coisas só me acontecem quando estou sozinha com eles?
Na segunda feira pode dormir mais um pouco devido aos gémeos estarem em casa dos avós. O despertador tocou meia hora mais tarde e soube-me lindamente.
Os problemas começaram na manha seguinte. Esqueci-me de repor a hora habitual no telemóvel pelo que acordei tarde e andei igual ao Flash para sair de casa a horas.
Seria de esperar que a coisa corresse melhor na quarta mas a história repetiu-se. Resmunguei e barafustei comigo própria até mais não mas continuei sem acertar o alarme para a hora certa pelo que hoje acordei tarde outra vez.
Quem é que se esquece de acertar o telemóvel três dias seguidos? Será burrice, cansaço ou simples distracção? Já pensei que é o meu subconsciente que está a gostar de dormir mais um pouco e que por isso não me deixa acertar o despertador.
Tínhamos uma porta do escritório descaída. A porta roçava no chão de madeira cada vez que era aberta ou fechada.
Acharam por bem chamar um senhor para dar um jeito à dita. O senhor chegou, analisou e arranjou uma solução. Retirou a porta das dobradiças e colocou anilhas nas mesmas.
A porta ficou mais alta e deixou de roçar no chão. Agora roça em cima e quase nem se consegue abrir e fechar.
É mesmo caso para dizer que foi pior a emenda que o soneto.