Nunca estamos prontos para dizer adeus
Na segunda-feira fomos à escola dos mais velhos tratar da transferência para a nova escola. Primeiro fomos tratar da do Leonardo com a professora dele. Durante o tempo que tivemos na sala a professora fartou-se de dizer que ia ter saudades do rapaz. Seguiram-se muitos beijos e abraços entre os dois e as lágrimas subiram-me aos olhos.
De seguida fomos à sala do Guilherme tratar de toda a papelada. Mais uma vez a professora disse ao rapaz que ia ter saudades dele. Recomendou-lhe que continuasse a ser o doce de menino que têm sido até agora e que tivesse juízo para continuar com as boas notas. Notei na professora que estava a ser uma época difícil, acredito que não deva ser nada fácil deixar partir um monte de crianças as quais cuidamos durante anos e aprendemos a amar. No fim tive direito a um abraço que me partiu o coração. A professora agradeceu-me por tudo e eu repliquei que éramos nós que tínhamos a agradecer todo o trabalho que fez com o rapaz. Consegui sair da sala sem chorar embora as lágrimas teimassem em subir aos olhos.
No recreio da escola seguiu-se a despedida mais difícil. A auxiliar Filó agarrou-se aos dois e as lágrimas correram-me pela cara. Vi aquela mulher que tem um coração do tamanho do mundo, que cuida dos 66 alunos da escola como se fossem todos netos dela. Uma pessoa que lá esteve todos os dias para os receber de manhã e para lhes dizer adeus à tarde. Quer estivesse frio ou calor lá estava ela todos os dias sem falta. Uma pessoa que cuida dele no recreio, que os aconchega quando se magoam, que os ouve quando choram. É uma pessoa maravilhosa e com um jeito imenso para crianças. Num ano conseguiu fazer o Leonardo comer sopa quando muitos outros tinham tentado e falhado durante anos a fio.
O abraço entre os três foi demorado e apertado. O Leonardo dizia que ia ter muitas saudades dela e ela desejava-lhe que encontrasse uma senhora como ela na nova escola. Eu abri a boca e disse que uma Filó como ela não existia e lado nenhum mas fui traída pela minha voz que me saiu trémula e sentida. Afastamos-nos então para evitar prolongar o momento. Afastamos-nos na esperança que a tristeza ficasse para trás, em parte como fazemos com o penso rápido que arrancamos de uma vez para não doer mais. A verdade é que não resultou e ainda hoje penso como tivemos sorte em nos termos cruzado com estas pessoas na nossa vida.
Nunca na vida vamos conseguir agradecer o suficiente pela forma como cuidaram dos nosso filhos. Ás vezes acho que cuidaram deles ainda melhor do que eu própria e isso faz crescer um receio sobre a escola nova. Será que os rapazes vão conseguir ser felizes depois de conhecerem um ambiente como conheceram? Será que se vão sentir seguros numa escola tão grande? Será que alguém os aparará se caírem?
Não sei como será o nosso futuro mas sei que as pessoas que deixamos vão estar sempre na nossa vida. Certamente vamos fazer visitas e mesmo quando não estivermos juntos vamos recordar sempre. É caso para dizer que não é um adeus mas um até breve.