Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Faz hoje um ano que mudamos de casa e iniciamos uma nova etapa da nossa vida. Posso dizes que neste momento somos pessoas muito diferentes do que éramos à um ano atrás. Esta casa e esta zona modificaram o nosso quotidiano. Na verdade quando mudamos de casa esperávamos que o nosso estilo de vida sofresse alterações também e felizmente foi o que aconteceu. Os rapazes estão imensamente felizes, adoram o espaço exterior e não passam um dia sem ele. Até os mais velhos estão diferentes. Quando mudamos apenas queriam ver televisão e jogar videojogos. Quando lhes dizíamos para irem brincar na rua olhavam para nós como se fossemos doidos e acabavam por ir contrariados. Entretanto abolimos os videojogos e cortamos nas horas de televisão. Os resultados tornaram-se logo visíveis, hoje em dia mas olham para a televisão. Quando não estão no quintal brincam em conjunto ou aos pares e certos dias a televisão nem tem uso.
Nós pais também estamos diferentes. Nem tudo foi fácil neste ultimo ano. Os azares sucederam-se uns aos outros e chegamos a questionar o que mais nos poderia acontecer. Mesmo assim não desmotivamos e aos poucos vamos conseguindo por tudo ao nosso jeito. Adoramos a zona e a calma que nos proporciona. Adoro ouvir o cantar dos pássaros, as galinhas da vizinha, o burro que zurra no campo e o relinchar dos cavalos. Adoro ouvir os diferentes padeiros que passa todos os dias com o pão. Adoro a facilidade que o quintal nos trás. Hoje em dia não temos que arranjar tempo para levar os rapazes ao parque, basta abrir a porta. Eles aproveitam lá fora e eu consigo controlar tudo enquanto estou na cozinha.
Resumindo neste ultimo ano nem tudo foi óptimo mas tenho a certeza que pode vir a ser. A cada dia que passa vemos que a decisão que tomamos foi a certa.
Levam imensa roupa e depois de lhes tirarmos o ar perdem quase metade do volume. São óptimos para arrumações e mudanças. São em conta e reutilizáveis. Fiquei fã.
Acho que vou aproveitar para fazer uma recriação da princesa e da ervilha, tenho é que alterar a história e vão ser só quatro colchões. Os rapazes vão ficar doidos
Ontem quando o Guilherme se sentou à mesa, depois do treino da bola e de um duche, já todos tínhamos jantado. Eu sentei-me um pouco com ele para lhe fazer companhia enquanto comia. Estávamos os dois sentados um ao lado do outro e ele disse:
- Vou ter muitas saudades desta casa.
Não consegui deixar de me emocionar ao mesmo tempo que sentia um frio no estômago. A cada dia que passa vemos o dia a chegar e não conseguimos deixar de nos perguntar se fizemos a opção certa. Aos poucos vamos arrumando as nossas coisas e descaracterizando esta casa que conhecemos tão bem. Todo este processo tem sido difícil para nós e à frente visualizamos toda uma mudança que nos assusta um pouco. Não se trata de uma simples mudança de casa mas sim toda uma mudança de estilo de vida, ou pelo menos esperamos nós.
O tempo dirá se tomámos a decisão certa ou não e até lá vamos vivendo com esta duvida que se entranhou em nós.
Muito se ouve falar em paredes de destaque no mundo da decoração. Uns usam tinta de cor diferente, outros aplicam papel de parede, existe ainda que faça combinações de ambos ou quem se atreva a fazer riscas e, ou desenhos.
Cá em casa, como gostamos de ser diferentes, resolvemos fazer algo diferente. Ainda está no começo mas digam lá que não é uma parede de destaque.
Começamos aos poucos a preparar as coisas para a mudança. Todos os dias o marido vai empacotando coisas que não nos fazem falta no dia à dia. Os gémeos são perspicazes e basta faltar uma coisa que já andam a fazer perguntas. Todos os dias chegam a casa e gritam muito admirados que as coisas desapareceram.
Quando falam ao telefone fazem questão de dizer às pessoas que as coisas estão a desaparecer como se se tratasse de um mistério. Já lhes tentei explicar mas ainda são muito novos para perceber o que está a acontecer.
No entanto até tem trazido alguma animação neste últimos dias. Assim que entram em casa correm a ver o que está diferente e tratam de enumerar tudo. Mencionam o que desapareceu e mostram-nos que a pilha de caixotes está a crescer. Tudo é uma animação com este miúdos.
Ao longo do ultimo ano travamos uma luta interna. Vimos os pequenos a crescer e a roupa a crescer com eles, sentimos o barulho a aumentar dentro de casa, sentimos o espaço a diminuir. Lutamos, lutamos muito contra a ideia de mudar de casa. Tentamos arranjar soluções de arrumação,fizemos escolhas periódicas do que já não usamos para ganharmos espaço. No entanto as coisas continuaram a aumentar. No inverno deparei-me com um problema com a roupa dos gémeos que dobrou de tamanho desde o ano passado. Fiquei com o roupeiro cheio, a parte dos pendurados ficou sem espaço para casacos e nas prateleiras não cabiam as calças e camisolas todas. O roupeiro extra que compramos está cheio, metade tem roupa do Leonardo e a outra está cheia com roupa do Guilherme. Para além da roupa de vestir temos roupa de cinco camas o que significa muitos lençóis e edredons. Temos sapatos de seis e uma montanha de tolhas para esta família numerosa. A arrecadação de 4 m2 está cheia com ferramentas, escadote, bicicletas, primeiros trabalhos da escola, álbuns de fotografias, árvore de natal e decorações, caixas de roupa para os gémeos....
Começamos a pensar onde poderíamos colocar mais moveis para acomodar a roupa e sapatos. Tentávamos agarrar-nos à nossa casa. Gostávamos da familiaridade e do conforto que nos proporciona. Gostávamos também do valor da prestação que nos permitia algum desafogo.
Eu nunca quis mais encargos, aliás nem quis comprar uma casa de férias quando o marido teve essa ideia. O que eu queria mesmo era juntar o dinheiro e viajar todos os anos. No entanto a realidade chamou-me à razão. Será que valeria a pena vivermos tipo sardinha em lata durante 11 meses do ano para podermos ter uma ou duas viagens por ano? Será que valeria a pena comprar mais móveis o que iria resolver arrumação mas iria limitar o espaço que temos para nos mexermos?
Acabei por perceber que merecíamos melhor. Os nosso filhos mereciam melhor. Começamos então o processo de mudar de casa e temos vividos dias loucos.Entre visitas a imóveis, bancos, avaliações, certificados energéticos, contratos de promessa de compra e venda, imobiliárias... Estamos cansados mas já vemos a meta.
O problema é que a meta não trás a sensação de euforia que pensamos que traria. A meta trás uma sensação agridoce de quem têm que deixar a primeira casa. Uma casa que continuamos a adorar e que está cheia de recordações. Uma casa onde todos os meus filhos deram os primeiros passos e disseram as primeiras palavras.