Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
- Dá-me uma tesoura para separar as salsichas. Já podias ter feito isto.
- Onde está o garfo do churrasco?
- Trás ai um tabuleiro para ir colocando a carne pronta.
Eu tento fazer o resto do almoço enquanto respondo ao inúmeros pedidos do marido. Para além disso tenho que ir dando um olho nos rapazes e estar atenta ás necessidade deles.
- Mãe quero água.
- Mãe quero pão.
- Mãe tenho tanta fome.
- Mãe a televisão está lenta.
- Mãe preciso de ajuda neste exercício dos trabalhos.
Ás tantas respondo de uma forma mais brusca ao marido, do género:
- Porque é que não pedes tudo de uma vez?
E a resposta é sempre igual:
- Já vi que estás mal disposta.
O pior é que estava a falar com umas amigas no outro dia e elas queixam-se exactamente do mesmo. Será mal geral dos homens?
As férias passaram e chegou o mau humor, veio acompanhado pela tristeza de não poder aproveitar mais uns dias. Passamos o ano à espera destes dias mágicos que supostamente nos vão repor as energias e vitalidade mas a verdade é que não costuma ser assim. Por norma as férias são épocas de excessos. Aproveitamos os dias ao máximo. Por vezes roubamos umas horas ao sono para ter a certeza que fazemos render bem o peixe. Corremos para cá e para lá a tentar fazer um milhão de coisas que idealizámos, no fim percebemos que aspirámos demais e só metade foi cumprida.
Quando temos crianças então a coisa é ainda pior. Queremos que façam praia porque faz bem. Que passem uns dias no campo porque o ar puro faz milagres. Queremos que conheçam museus para que tenham cultura. Queremos passear, ir ao parque, montar puzzles e jogar jogos de tabuleiro. Queremos desfrutar dos nossos filhos ao máximo porque sabemos que estão a crescer e, cedo, vai chegar a hora em que já não quererão nada connosco.
Depois os escassos dias de férias chegam ao fim e eu fico com a sensação de não ter aproveitado o suficiente. Instala-se o mau humor de ter que voltar ao trabalho. Fico enraivecida com o facto de ter que estar nove, dez horas fora de casa e apenas duas ou três com os rapazes. É tão difícil passar uns dias tão bons e depois ter que abrir mão.
Por isso sim, estou rabugenta, chateada e de mau humor. Ando com cara de poucos amigos e vou andar assim mais uns dias. Entretanto vou habituar-me ao ritmo novamente, vou voltar a sentir a adrenalina do trabalho. Talvez recupere o gosto pelo que faço, ou talvez não mas isso já é outra história, e esta nuvem negra que paira sobre a minha cabeça vai acabar por se dissipar.