Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Passo a vida a tirar fotos as rapazes na esperança de imortalizar as expressões deles. Espero, um dia mais tarde, conseguir relembrar o que vivemos através dos retratos. Quem sabe, dentro de alguns anos, mostrar estes momentos aos netos enquanto faço um relato exacto de todas as traquinices.
É certo que uma foto é só uma foto. Não capta a essência da pessoa, o sentimento que vemos no seu olhar. Uma foto apenas capta a superfície mas é um excelente auxiliar de memória. Ainda no outro dia o Google fotos me relembrou que estávamos na Disneyland faz agora três anos. Assim que vi duas ou três fotos comecei a recordar tudo o que vivemos.
Estas novas tecnologias são óptimas para nós ajudarem nestas coisas. No entanto não nos podemos esquecer de viver. Não podemos ficar agarrados às lembranças. Não podemos ficar tão embrenhado em registar o presente que nos esquecemos de o viver. É importante encontrar um meio termo que nos permita registar, viver e recordar.
Ontem disse ao Leonardo que o ia buscar à escola a seguir ao almoço porque tínhamos uma consulta. Apanhei o Guilherme e segui para a escola do Leo. Saiu da sala com um sorriso de orelha a orelha. O sorriso durou até chegar ao carro.
- O que é que o Guilherme está aqui a fazer?
- Eu também vou ao médico. Os manos também vão.
- A sério. Pensava que ia sozinho com a mãe.
Vi na cara dele que ficou mesmo desiludido. Tenho mesmo de arranjar forma de conseguir tirar algum tempo para estar com cada um individualmente. Não precisa de ser muito tempo, nem que seja uma hora aqui outra acolá já faz efeito. O que interessa é que seja tempo de qualidade, tipo pouco mas bom.
Cá em casa as manhãs de sexta são as mais difíceis. O cansaço vai acumulando durante a semana e à sexta feira está tudo exausto. Hoje o Santiago perguntava porque nunca o deixávamos dormir mais. Disse que tinha muito sono e que queria ficar na cama. Como não lhe dei conversa foi ter com o Leonardo para lhe fazer queixinhas.
O Leonardo explicou que amanhã ficávamos em casa mas não foi o suficiente para melhorar a coisa.
O rapaz demorou a descer. Demorou a escolher o pequeno almoço. Depois queixou-se do que escolheu e afinal já queria o que o Salvador estava a comer. Estas birras matinais trazem transtorno a todos nós, às tantas o Leonardo disse alguma coisa e o Guilherme respondeu de forma brusca. Eu tenho que mediar isto tudo enquanto imagino uma manhã maravilhosa sem birras e choros com um pouco de silêncio pelo meio.
O que vale é que é sexta feira e nada me estraga o espírito de pré fim de semana...
Como mãe de quatro debato-me muitas vezes com o facto de encontrar tempo individual para cada um. É difícil. Quando estou a tentar ter uma conversa com um todos se lembram de aparecer para dizer algo. Outras vezes querem conversar num momento em que não posso. Ainda ontem passei em casa para abrir a porta ao Guilherme, estava atrasadissima para ir buscar o Leonardo e o Guilherme queria falar sobre as notas dos testes. Ouvi as notas dei-lhe os parabéns e saí a correr. Fico de coração partido por não ter mais tempo. Sei que todos nós iríamos gostar muito se assim fosse.
Como tal não é possível resta-me arranjar soluções para criar tempo. No fim de semana passada saí de casa para comprar umas coisas, tinha que ir à farmácia, à padeira, à loga de agricultura. Se fosse de carro iria fazer tudo num instante mas optei por não ir. Convidei os mais velhos e fomos à pé. Demoramos mais de hora e meia. Foi uma hora e meia em que passeamos de mão dada. Falamos, observamos coisas em conjunto, fizemos compras. Ganharam chupas sem açúcar na farmácia e broas na padaria. Voltaram para casa cansados mas contentes.
Eu gostei e percebi se não consigo ter mais tempo tenho que dar melhor uso ao que tenho. Tenho que os envolver mais nas actividades que me ocupam, assim ganhamos tempo em família e vão aprendendo as dinâmicas da vida de adulto.
Durante meses pedi aos rapazes para se depacharem. Certos dias dava por mim a súplica para pararem as birras e ficarem prontos a sair se casa. Noutros ameaçei castigos e houve dias em que simplesmente gritei com eles.
Tudo isto é passado porque descobri uma nova tática e as manhãs estão a correr muito melhor.
- Meninos vamos embora.
- Já? Ainda não brincamos nada.
- Se queres brincar mais vai brinca, eu vou para baixo e vou ganhar.
- A MÃE ESTÁ A DESCER AS ESCADAS E VAI GANHAR!
Correm pelas escadas a baixo, vão buscar os sapatos e num ápice estão calçados.
- Meninos já calcei um pé.
- Eu já calçei dois. Leonardo depressa dá-me o bibe e o casaco.
- Eu também já calçei os dois. Vou ganhar!
Cinco minutos depois estamos a sair de casa. É certo que os bibes vão apenas com dois botões apertados, por vezes em casas trocadas e os casacos sem as golas de fora. Eu cá nem quero saber, chama-se autonomia😄.