Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
O dia amanheceu frio. Foi difícil convencer os rapazes a sair da cama.
-Só mais um bocadinho! - pediam todos
Infelizmente não pode ser. Tivemos mesmo que acordar e despachar. Ao sair de casa gelei assim que abri a porta. O carro tinha um bloco de gelo no vidro, exclamei maldições. Na verdade não queria sair de casa. Nem deixar os mais velhos na escola. Tão pouco queria levar os gémeos à creche e a última coisa que me apetecia era vir trabalhar.
Agora vou passar o dia a matutar se levaram roupa suficiente, se estão com frio ou confortáveis. Vou questionar se o Guilherme não anda a correr, porque só na quarta é que tira os pontos.
Ontem foi dia de voltar à neurocirurgia após o ciclo de fisioterapia. Eu ia cheia de esperanças. Esperava que o médico visse que a fisioterapia não teve resultado nenhum e me mandasse fazer mais exames.
As opiniões do médico, da fisiatra e da terapeuta são todas diferentes e eu vou ouvindo opiniões quando na verdade só quero soluções. Ontem estava esperançosa de começar uma nova etapa. Fazer mais exames e encontrar a fonte do problema.
Parece parvoíce mas sentia que estava mais perto da meta.
Fui então à consulta confiante e voltei arrasada. Tudo porque o médico teve uma urgência familiar e não veio dar consultas. A consulta foi adiada mas ainda nem sei para quando. As próximas duas quintas são feriado, ou o médico consegue mudar a agenda e dar consultas noutro dia ou então tenho muito que esperar.
Estou farta de estar em casa. Estou farta de ter dores.
Melhores dias virão é o que mais repito a mim própria. É verdade, melhores dias virão.
Na sexta-feira passei a noite sozinha em casa. O marido foi passar o fim de semana fora, a empresa onde trabalha tem o habito de oferecer um fim de semana de convívio aos funcionário uma vez ao ano. Os rapazes passaram a noite em casa da avó para eu não ter que os acordar as seis da manhã, uma vez que tinha que ir trabalhar no sábado.
Ora eu deparei-me com uma casa vazia e só para mim. Fiz para planos de lavar roupa, as casas de banho e relaxar a seguir. Pensei que poderia adiantar um pouco o livro que ando a ler e no qual não pego à séculos. Isto foi o que pensei....
Na verdade o que aconteceu foi. Coloquei a máquina a lavar e fui limpas as casas de banho. Voltei à cozinha para arrumar o detergente e senti os pés molhados. Acendi a luz e deparei-me com uma pequena inundação na cozinha. Escusado será dizer que passei o resto da noite a limpar água debaixo dos móveis. Ainda andei de volta da máquina a tentar perceber o que se passava. Limpei o filtro, as borrachas, a gaveta e tornei a coloca-la a lavar. Felizmente já não deitou mais água mas quando acabei tudo estava de rastos.
Digam lá que não sou a pessoa com mais sorte do mundo?
Domingo à tarde. O marido foi adormecer os gémeos e acho que caio no sono primeiro que eles. Os mais velhos não estavam porque tinham ido passar o fim de semana com os avós. Eu vi-me sozinha, como tinha a casa toda em ordem pelo que aproveitei para:
dormir
relaxar enquanto lia um livro ou colocar séries em dia
fazer uma daquelas tarefas entediantes e morosas que nunca ninguém quer fazer.
Esta semana tenho estado um pouco aflita com a minha alergia. Alguma falta de ar, muita expectoração, voz afónica.
Ontem cheguei a casa tão aflita que até fui fazer bomba, coisa que até a data nunca tinha feito. Devido a estes sintomas não dormi muito bem de noite pelo que tive muito tempo para pensar. É uma das coisas que me deixa mais danada, poder dormir e não conseguir, queremos descansar mas começamos a pensar nas coisas e já não conseguimos parar. Tomei nota de mil e uma coisas que tinha que fazer, procurar casa para as férias, verificar a data de validade do cartão do cidadão do Leonardo, ligar para a escola para saber das matriculas, fazer a lista de compras, pagar o imi, fazer uma pesquisa sobre carrinhos de bengala para os gémeos... Eu só queria dormir mas a maldita cabeça não queria colaborar.
Algures durante estas reflexões apercebi-me que desde que sou mãe nunca mais fiquei doente. Ás vezes ando um pouco adoentada mas doente, doente nunca mais. Mãe que é mãe vai buscar energia não sei bem aonde, faz das tripas coração mas não fica doente. Podemos estar aflitas a pensar deitarmos-nos quando chegamos a casa mas depois há banhos para dar, jantar para fazer, trabalhos para corrigir, quando damos conta já passou a noite e até nos aguentamos. Podemos acordar a sentirmos-nos miseráveis mas existem pequenos seres que precisam de nós pelo que não há tempo para ficar na cama a lamentar.
Eu sempre fui ruim para adoecer mas ultimamente costumo dizer que não tenho tempo para adoecer. Brinco muitas vezes que sou tão ruim que afugento os bichos, a única coisa que me afecta um pouco é alergia mas um comprimido e já passou. Confesso que também sou um pouco relaxada, fico à espera que as coisas passem por si. Exemplo disso foi ter andado três meses, depois dos gémeos nascerem, com perdas de sangue antes de ir ao médico. Fiquei com restos de parto e tive que fazer uma raspagem, todas as pessoas me dizem que não sabem como é que eu nunca tive febre ou não arranjei uma infecção. Lá está mãe que é mãe não fica doente.