Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Para a maior parte das pessoa as datas de aniversário dos filhos são algumas das datas mais importantes da vida. Para as mães de prematuros, ou talvez seja só para mim, existe uma data que é tão, ou mais, importante que o dia em que vieram ao mundo. Claro que me refiro à data em que finalmente trazemos os nosso filhos para casa depois de um internamento que pode ser mais ou menos demorado.
Hoje por aqui celebramos dois anos desde que trouxemos os nossos pequenos para casa e reunimos a nossa família numerosa. Dois anos desde que deitei os meus bebés pela primeira vez na sua cama. Dois anos desde que dormi pela primeira vez com o som da respiração deles.
Claro que agora tudo isto é corriqueiro mas na altura representava uma vitória. Depois de vinte e quatro dias passados entre o hospital e casa. Dividida entre os mais velhos e os mais novos. A tentar fazer tudo mas sem conseguir fazer nada.
Finalmente veio o tão esperado dia da alta e conseguimos respirar de alivio. Lembro-me a satisfação que senti por acordar de três em três horas para dar de comer aos gémeos, nunca fiquei tão feliz por dormir mal.
Lembro-me do olhar apaixonado que vi nos olhos dos mais velhos quando olhavam para os irmãos. Até a data tinham tido apenas pequenos minutos de contacto de fugida na neonatologia. Não que não pudessem lá estar mas nós pais não achávamos que fosse apropriado. Tínhamos medo que transmitissem algum vírus a um dos pequenos, quer fossem os gémeos, quer algum dos outros bebés. E também não achávamos que aquela sala fosse lugar para crianças. Todos aquelas máquinas que apitavam constantemente eram bastante intimidadoras até para nós pais quanto mais para dois miúdos.
O resultado foi que quando os mais velhos não largavam os bebes quando eles vieram para casa. Tanta foram as vezes em que os apanhei parados a ver os irmãos dormirem, sossegadinhos na cama. Tantas vezes que me perguntaram se podiam pegar neles, se podiam dar beijinho. Agora já não é preciso perguntar nada e andam sempre todos num aglomerado de meninos.
Felizmente dois anos passaram, com algumas doenças, alguns sustos mas com muito amor. Amor esse que merece ser celebrado todos os dias, principalmente neste em que passamos verdadeiramente de quatro para seis.
Fui para o internamento mas fui informada que a qualquer momento poderia ser levada para o bloco de parto. Passou um dia, dois, três e estava tudo espantado por ainda nos estarmos aguentar. Os médicos vinham fazer as rondas e explicavam a cada grávida que exames iam fazer e mais ou menos quando iam para casa, a mim só me diziam para ver se os gémeos aguentavam mais uns dias. Passou-se uma semana e continuava tudo na mesma. Passava os dias deitada na cama só me levantava para comer e ir à casa de banho. Pelo menos, tive a sorte de ir tendo umas boas companheiras de quarto o que ajudava a passar o tempo, mas já começava a ficar aborrecida. Fazia CTG uma vez por semana e todos os dias às enfermeiras vinham ouvir os bebés 3 vezes. Os meus meninos não tinham espaço para se mexer pelo que nem tínhamos que procurar o coração para ouvir. Eu já indicava as enfermeiras onde colocar o aparelho. Finalmente o médico disse-me que se aguentasse as 34 semanas ia para casa estava a fazer as 32 pelo que estava quase. Os dias continuaram a passar e eu dizia a toda a gente que ia para casa as 34, já estava a fazer planos, uma enfermeira disse-me que agora até acreditava que eu ia aguentar. As 32 semanas e 3 dias fui fazer uma eco e os fluxos estavam todos alterados. Voltei para o internamento e disseram-me que iria repetir a eco nos dia seguinte. Repeti as injecções de maturação pulmunar pois as primeiras já tinham perdido o efeito. No dia seguinte por volta das duas da tarde fui repetir a eco. A médica que fez a eco disse que não via nada de mal com os bebés, e pediu-me para esperar fora da sala na cadeira de rodas pela auxiliar. Fora da sala ouvia ligar para o bloco de partos e para a neonatologia a avisar que afinal não iam fazer o meu parto. Fiquei um pouco pensativa afinal os fluxos deviam estar muito mal para já terem tudo preparado para o parto. Voltei para o internamento onde passei mais dois dias. Na sexta-feira disseram me que tinha que ir repetir a eco. Lá fui eu fazer um novo passeio de cadeira de rodas pelo hospital. O Dr. demorou imenso tempo a fazer a eco e quando terminou disse-me que os fluxos estavam muito mal e estava preocupado com os bebés . Fiquei à espera enquanto foi em busca do chefe da obstetrícia. Voltaram os dois para me perguntar se estava pronta para subir para o bloco de partos. Estava com 33 semanas e não estava de forma alguma pronta, afinal os bebês seriam prematuros mas se eles achavam que estavam em perigo quem era eu para duvidar. Desci ao internamento para arrumar as minhas coisas, liguei ao marido e a mais meia dúzia de pessoas a dizer que os meninos iam nascer e fui encaminhada para o bloco de partos.