Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
- O João convidou todos para irmos para casa dele. Vai fazer uma festa com palhaços, um circo, uma piscina e muitas bóias, um jogo com aqueles senhores que jogam à bola.
- Matraquilhos?
- Sim. Vai ser super fixe. Temos que ir para casa do João.
- Filho é dia de semana ninguém vai fazer uma festa.
- Vai sim!
- O João enganou-se ou tu percebeste mal.
- Não a festa é esta noite e eu quero ir!
- Salvador hoje não.
- Mas assim vou perder a festa!
- Não vai haver festa nenhuma!!!!
- Vai sim.
- NÃO.
- SIM.
- Salvador a mãe do João não falou comigo por isso não podes ir.
- Mas ... Mas...
- Outro dia eu falo com a mãe do João e combinamos. Nem sei onde é a casa dele.
- Olha pegas no teu telemóvel e o mapa diz onde é a casa do João. É muito fácil.
- Acabou a conversa porque eu já disse que hoje não pode ser.
Passadas umas horas o pai chegou a casa.
- Olá Pai. Podes levar-me a casa do meu amigo João?
- A casa do João?
-Sim ele vai dar uma grande festa e estamos todos convidados.
Optei por sair de fininho antes que me tocasse outra vez. Já estava cansada de tanta argumentação
Ontem quando fui buscar os pequenos à creche o Salvador estava com um saco de gelo no olho. Minutos antes tinha deixado cair uma peça de lego para o chão, quando a tentou apanhar calculou mal o coisa e bateu com o olho no assento da cadeira. Tinha um pequeno corte e o olho ligeiramente inchado mas nada de preocupante. Entregamos o saco de gelo à educadora e abandonamos o edifício.
Entramos no carro e como estava um calor infernal abri os vidros.
- Mãe não abras o meu vidro.- gritou o Salvador - Se não o vento leva o gelo do meu olho.
Eu limitei a fechar o vidro enquanto me ria da ideia dele. Entretanto oiço:
- Salvador, vira a cara para o outro lado para o meu vento não levar o teu gelo.
E cada vez que o Salvador mexia a cabeça o outro gritava para que não o fizesse. Fui o caminho todo a rir pela preocupação demonstrada pelo irmão e pelo facto de não perceberem que ao tirar o saco de gelo o frio passaria por ele próprio.
Esta fase é mesmo deliciosa. Começam a ser crescidos mas ainda tão inocentes.
- Ainda bem para ele Guilherme. Mas foi ele que te disse isso?
- Sim mãe. Eles diz a toda a gente que é muito rico.
- Esse tipo de coisas não se devem dizer assim.
- Mas ele está sempre a dizer que vive numa casa com dois andares e que é rico.
- Guilherme não vou confirmar se o teu colega tem ou não dinheiro até porque isso não nos interessa. Vou só dizer-te que nós também temos uma casa de dois andares e não somos ricos.
- Nunca me tinha lembrado que a nossa casa também tem dois andares. Achas que ele está a mentir?
- Não sei, nem quero saber. Apenas quero que percebas que nem tudo o que te dizem é verdade.