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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

O parto

Cheguei ao bloco de partos por volta das 12:30H encaminharam-me para um quarto de uma cama. Colocaram-me o soro, o CTG e fizeram-me mil e uma perguntas enquanto escreviam o meu processo. Depois deixaram entrar o meu marido e disseram-me que a doutora já me viria ver. Entretanto entraram duas anestesistas que queriam colocar-me a epidural referi que não tinha dores pelo que ainda não queria qualquer anestésico. Fui conversando com o marido para acalmar a ânsia. Afinal os meninos só tinham 33 semanas e apesar de os médicos disseram que o parto era necessário fica sempre uma duvida. Por volta das 13:30H veio a médica, mandou o marido sair e fez-me o toque, estava de 4/5 dedos. Não fiquei admirada afinal as contracções nunca tinham parado. Disse-me que viria um enfermeira colocar-me oxitocina para ajudar a dilatar.

O marido voltou a entrar e continuamos na conversa, cerca de 15 minutos mais tarde entrou a enfermeira e colocou-me o dito medicamento. Por volta das duas e pouco apareceu o medico que me seguiu no internamento ( chefe do departamento de obstetrícia), queria saber se eu estava bem e tranquilizar-me pois  iria entrar ao serviço no turno seguinte e seria a equipa dele a fazer-me o parto. De repente olhou para mim e saiu a falar alto do quarto. Voltou segundos depois acompanhado pelas anestesistas exigindo saber porque motivo não tinha eu o acesso da epidural. As doutoras referiram que eu não queria e eu argumentei que ainda não tinha dores pelo que não havia necessidade. Por fim lá saíram todos e deixaram-me a sós com o marido que estava morto de fome. Disse-lhe que fosse comer até porque estava quase na hora da mudança de turno e teria de sair de qualquer forma. Assim fiquei sozinha mas não durante muito tempo pois passados alguns minutos entraram no quarto algumas enfermeiras, estavam a passar o turno e iam de quarto a quarto explicar tudo. Fiquei novamente sozinha e as contracções ficaram um pouco mais fortes, ainda não tinha dores mas sentia uns apertões fortes na barriga. Num desses apertões rebentaram-me as aguas, fiquei toda encharcada. Toquei a chamar a enfermeira mas como estavam na mudança de turno demoraram um pouco. Passados cinco minutos lá apareceu a enfermeira que ao ver como eu estava foi chamar ajuda. De repente fiquei com o quarto cheio de gente. Eram 15:25H, as enfermeiras tentavam mudar a cama comigo lá em cima, entretanto uma lembrou-se de me perguntar se eu queria epidural eu respondi que já não devia ir a tempo. Outra enfermeira dizia que não sabia se me havia de fazer o toque ou não, finalmente decidiu fazer e estava com 8 dedos. Apressaram-se a ir chamar os médicos. A anestesista entrou no quarto e ainda me disse para me deitar de lado para me dar a anestesia mas eu já não conseguia. Estava em pânico sentia que os meninos iam nascer mas ainda não estava nada preparado, não bastava serem prematuros ainda iam nascer sem um médico presente. De repente entram os médicos completamente à civil, o doutor diz-me para ter calma e não fazer força. Eu juro que não fiz força, acho que nem abri as pernas e de repente sai um dos meninos disparado. Uma das médicas ainda o tentou agarrar mas não conseguiu. Eu só vi um bebe gordinho em cima da cama, o doutor olhou para o menino e disse-me:" Que grande bebé." Eram 15:40H, cortaram o cordão e apressaram-se a levar o meu Santiago embora. "Agora podemos respirar um pouco" disse uma da médicas enquanto vestiam as batas descartáveis que nem tinham tido tempo de vestir.  Uma das enfermeiras apareceu a correr com um ecografo para terem a certeza que o Salvador não teria dado a volta impossibilitando o parto normal. Felizmente estava pronto a nascer apareceram uns ferros para colocar as pernas, nem sei bem de onde, e disseram-me para fazer força. Às 15:54H nasceu o Salvador a doutora mostrou-mo e entregou-o a outra que saiu apressadamente com ele. Vi imediatamente que era bem mais pequeno que o irmão, afinal os doutores estavam certos. Esperamos um pouco para que saísse a placenta, entretanto vieram dizer-me que os meninos estavam bem e que a neonatologia viria falar connosco pais. Deram-me uma anestesia para me cozer mas acho que não fez efeito. No meio disto tudo a anestesista veio dar-me os parabéns por ter tido gémeos sem anestesia e uma das enfermeiras veio pedir-me desculpa por não terem chamado o pai dos bebes mas não tinha dado tempo. Eu respondi que não havia problemas afinal ele dizia que não sabia se queria assistir a dois a nascerem assim ao menos não teve que dar parte fraca, tem sempre a desculpa que não chegou a tempo. Eu pedi desculpa as enfermeiras pela confusão. Finalmente depois de estar toda arranjada chamaram o marido que vinha branco ( ainda bem que não assistiu ao parto). A primeira coisa que faz é dar-me um raspanete que quase o matava do coração. Afinal ele tinha chegado para entrar mas ainda estavam na mudança pelo que o mandaram esperar, no mesmo instante começa a aperceber-se de um grande alvoroço. Disse que os médicos estavam a entrar no bloco ( passaram por ele que estava a porta) e que assim que abriram a porta ouviu as enfermeiras a gritarem para eu aguentar. Disse que só se acalmou quando uma das enfermeiras lhe foi dizer que estava tudo bem. Homens.... Passado um pouco veio uma médica da neonatologia dizer que os meninos estavam bem, iam ficar em incubadora nos cuidados intermédios. Saiu-nos um peso de cima mas ainda não podíamos respirar descansados. Foi uma sexta-feira diferente no hospital de Santa Maria. Ainda hoje por vezes quando me perguntam onde nasceram e eu digo que nasceram lá em Julho, dizem-me não me diga que foram uns gémeos que nasceram numa sexta-feira. Eu aceno com a cabeça e recebo um grande sorriso de volta.