Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
No fim de semana passado resolvemos que estava a altura de os gémeos passarem a adormece sem mim. Conversamos com eles sobre o assunto e na hora de deitar a coisa correu surpreendentemente bem. A noites seguintes correram um pouco pior mas nada demais. No geral limitaram-se a choramingar um pouco. Do nosso quarto fomos falando com eles, tranquilizando-os até acabarem por se calar e adormecer.
A coisa correu bem. Na verdade correu bem demais e seria de esperar que isso fosse um alivio para mim. A verdade verdadinha é que esta facilidade mexeu comigo. Estava habituada a adormecer com eles nos meus braços. Todas as noites íamos para a cama e tínhamos um momento só nosso. Um momento em que eu era mimada com beijinhos e abraços. Um momento em que me pediam para inventar histórias. Pediam-me para contar uma história com uma princesa e um avião, eu inventava a história da princesa que tinha medo de voar. Pediam-me uma história com o faisca mcqueen e um dinossauro, eu inventava uma história em que o faisca ia conhecer os personagens do Toys story.
Depois da correria diária sabia tão bem estes pequenos momentos de cumplicidade e felicidade. Impressionou-me a rapidez com que deixaram de precisar da minha companhia. Sei que deveria estar contente mas a verdade é que ainda não cheguei a esse ponto. Tenho que me habituar à ideia que os meus pequenos já não são pequenos e que tenho que lhes dar espaço para crescer. Adoro vê-los crescer mas sinto que à medida em que o fazem me vão fugindo por entre os dedos.
Com a mudança de casa tivemos que tratar novamente da tarifa familiar e lembrei-me de falar um pouco sobre isso. Percebi que muitas pessoas desconhecem a sua existência e não usufruem deste desconto. Talvez pensem que é só para quem tem baixos rendimentos mas a verdade é que para ter direito a este beneficio basta ter mais de dois filhos a cargo e viver num município que tenha aderido a esta tarifa. Felizmente com o passar do tempo o numero de municípios a aderir tem subido e já são mais de 150. De referir que existe uma tarifa social para quem precisa de ajuda financeira e uma tarifa familiar para quem tem uma família numerosa.
Com esta mudança para uma zona diferente percebi que os critérios para o pedido variam consoante a câmara. Na zona onde residíamos bastava levar uma declaração da junta com os elementos do agregado ao SMAS e a actualização era feita. Nunca me foi dito que era necessário renovar e beneficiei deste desconto desde o nascimento dos pequenos até a mudança de casa.
Agora neste município foram um pouco mais exigentes. Tive que apresentar todos os nossos documento de identificação, IRS e comprovativos de frequência escolar. Depois de preenchido o pedido este teve que seguir para aprovação numa reunião na câmara e tivemos que aguardar a resposta. Esta chegou passadas cerca de três semana, ligamos entretanto para a companhia das águas a saber se já estavam informados e já estava tudo tratado. Na carta dizia ainda que esta tarifa era válida por um ano o que implica que para o ano tenha que tratar de tudo outra vez.
Percebi também que os apoios também variam de municípios para municípios. No que residimos actualmente passamos a ter isenção da taxa fixa e o primeiro escalão da água cresceu em mais três metros cúbicos por cada filho para além do segundo. No nosso caso temos mais seis metros cúbicos para gastar ao valor mais baixo o que já é uma óptima ajuda. Não que sejamos de desperdiçar água mas com tantos banhos, roupa e afins é natural que gastemos mais que o normal.
Se têm ou conhecem alguém com mais de dois filhos falem-lhes neste desconto, afinal todos os cêntimos contam. Agora resta-nos esperar por uma tarifa semelhante na luz.
Dizem-nos que devemos colocar as crianças em actividades de forma a libertarem a imensa energia que tem. Dizem-nos que as crianças virão exaustas da modalidade o que garantirá noites tranquilas. Dizem também que ajuda à concentração, que as regras das actividades lhes fazem bem e que o desporto trás saúde.
Só coisas boas não é? O problema é que não é bem assim.
Primeiro falemos dos valores que nos são cobrados para que os nosso filhos possam praticar desporto, sim porque agora tudo se paga. Querem actividades, toca a abrir os cordões à bolsa. Temos mensalidades, cotas de sócios, roupa apropriada, calcado próprio… tudo para cima de um balúrdio.
Depois temos o facto de as crianças regressarem eufóricas de tanta corrida, ou divertimento. As únicas pessoas que chegam exaustas a casa são os pais, por causa da ginástica que fazem para deixar os filhos a horas nos compromissos e das secas que apanham a vê-los praticar o desporto escolhido. O pai entra em casa e já só se quer sentar no sofá enquanto que os filho já vêm a perguntar pelo jantar.
Sim porque ninguém nos avisa que colocar um rapaz a jogar à bola é a mesma coisa que começar a alimentar uma equipa inteira. Um sai da piscina a perguntar se falta muito para jantar. O outro sai da bola a questionar se o comer já está pronto. Entram em casa e só se queixam que estão famintos. Sentam-se a mesa a salivar e engolem o comer sem mastigar. Mas o pior de tudo cá em casa é o facto de os gémeos terem começado a jantar duas vezes tudo graças às actividades dos irmãos. Por volta das dezanove horas já não se calam com fome pelo que lhes damos o jantar. Os irmãos chegam pouco depois das vinte e os pequenos resolvem que afinal ainda têm fome. Sentam-se de novo na mesa e comem tanto ou mais do que comeram à uma hora atrás.
Verdade seja dita, assim não dá. Não há orçamento que resista a quatro rapazes a comer.
Fomos fazer um piquenique em família. À tarde demos um gelado aos rapazes e o Santiago sujou-se todo. Troquei-lhe a roupa e deixei-o ir brincar com os irmãos. Estava a arrumar a roupa suja quando uma das minhas tias levantou os olhos do jogo de cartas, que estava a fazer, e exclamou muito aflita:
- Mas aquele menino não é nosso. Temos um menino a mais, de onde veio?
Nós olhamos uns para os outros sem perceber. Entretanto o Santiago olhou para a minha tia e ela disse:
- Esqueçam, afinal é um dos nossos está é de roupa diferente...