Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Na semana passada recebemos um convite para conhecer a Pisamonas. Confesso que já tinha ouvido falar na marca mas nunca tinha comprado nada. Em parte porque sei que os números não são sempre iguais e me faz confusão comprar algo que pode ficar pequeno ou grande. Por norma este tipo de situações implica uma devolução e uma reposição que podem demorar vários dias para além de terem custos para o consumidor. Fiquei surpresa por saber que na Pisamonas as devoluções ou trocas são gratuitas e muito rápidas.
Aceitei então o desafio e no fim de semana pedi aos rapazes para escolherem um sapato para cada. A operação demorou imenso tempo, não porque o site seja complicado mas sim porque os rapazes gostavam de quase tudo. Descobriram que cada sapato tem um pequeno vídeo em que uma criança demonstra como fica o modelo nos pés e queriam vê-los todos. Depois de muita luta lá conseguimos escolher sapatos para os pequenos e para o Leonardo. O site tem uma escala de tamanho que nos ajuda a perceber que tamanho devemos encomendar mediante a medida do pé. Chegou a vez do Guilherme e eu pensei que não iríamos conseguir nada para o tamanho dele. Por norma os sapatos de criança vão até ao 39, no máximo, e ele já calça o 40. Percebemos então que existem modelos que vão até ao 45 o que facilita imenso e o rapaz também pode escolher uns.
Terminado o processo dei uma vista de olhos nos sapatos de senhora e fiquei de olho em alguns. Tem modelos actuais mas também existe a possibilidade de comprar artigos de outras estações, por exemplo o Santiago escolheu uns sapatos de lona porque tinham que ser vermelhos.
A encomenda foi colocada na segunda-feira de manhã e na terça à hora de almoço já estava em meu poder. Gostei da rapidez e da qualidade do artigos que recebi, óptima relação qualidade/preço. Estou certa que vamos comprar mais vezes.
Para quem não gosta de comprar online a marca tem lojas físicas no Porto e Lisboa.
Deixo fotos das escolhas dos rapazes que já não os queriam descalçar.
O fim de semana grande grande chegou e partiu. Não fomos passear, em vez disso ficamos por casa e recebemos família.
Os miúdos brincaram muito. Passaram as tardes na piscina e o resto do tempo a correr pelo quintal. Tivemos bons almoços recheados de conversas. Tivemos tempo de lazer. Comemos tremoços e amendoins enquanto jogávamos às cartas à sombra do pessegueiro. Tivemos momentos de silêncio em que estávamos todos juntos apenas a relaxar. Fomos à feira de Vila Franca. Os rapazes andaram nas diversões e eu fiquei roída de inveja por não poder.
O fim de semana chegou e partiu e hoje voltamos à rotina. Eu cá vou tentar voltar ao trabalho. Vamos ver se consigo aguentar tanto tempo sentada, Tenho esperanças que sim porque não aguento mais estar em casa.
Muito me tenho queixado sobre esta estadia forçada em casa mas a verdade é que nem tudo tem sido mau. Já fez um ano que estamos nesta zona mas, entre miúdos, escolas, actividades, reuniões, trabalho, doenças e outras coisas, não conheço muita coisa.
Estes dias em casa fizeram com que perceba quantos padeiros e a que horas passam aqui na rua. Adoro a forma como não se trancam os portões pelo que o padeiro entra na propriedade e deixa o pão pendurado na porta, ainda não percebi como fazem contas. Gosto da calma e da segurança da zona. Da forma como as pessoas deixam grelhadores e mesas nos relvados aqui da zona, assim como estendais de pé cheios de roupa.
Conheci mais vizinhos neste dias no que num ano inteiro. Descobri que a maioria já são avós mas extremamente simpáticos, já perdi conta ás ofertas que recebi para tomarem conta dos meninos caso precise de alguma coisa. A grande maioria tem a casa cheia de netos de manhã e à tarde e gostam de ter amigos para os netos.
Aprendi também que a vida no campo não é só monotonia. Ainda um dia destes tivemos a rua invadida por cinco ovelhas que fugiram de uma quinta qualquer. Era vê-las correr extremamente alegres pela rua fora saboreando a liberdade. Era ver os carros atrapalhados perante a estrada ocupada com os animais. Era ver pessoas a tentar direccionar as ovelhas para uma zona onde não corressem perigo. Achei a situação muito caricata mas uma vizinha disse-me que já tinha visto pior. Um dia abriu a porta de casa e tinha uma cabra dentro da sua propriedade. Ainda hoje está para saber como é que a cabra lá tinha ido parar uma vez que os seus gradeamentos tem mais de um metro e sessenta.
A cada dia que passa gosto mais desta área e cada vez mais me sinto em casa. Durante uns tempos lutei com um sentimento que esta não era a minha casa.Tudo era estranho após catorze anos no mesmo apartamento. Aos poucos o sentimento foi mudando e agora já quase nem me lembro como era viver antes.
Uma das coisas mais dificuldades nesta profissão de pais é a gestão de tempo, principalmente para quem, tal como nós, tem mais do que um filho. Várias escolas para visitar de manhã e à tarde. Várias reuniões a frequentar. Dias em que o mais velho acaba as aulas a horários que implicam que tenhamos que abdicar da hora de almoço para o ir buscar. Dias em que as aulas acabam a horas em que a única solução é ficar na biblioteca da escola até que um de nós o vá buscar.
Para além de todos estes problemas este anos temos alguns novos. O Guilherme vai ter umas horas de explicações com a esperança que isso o faça aprender métodos de estudo. O Leonardo quer voltar a ter aulas de basquetebol que ocupam 3 fins de tarde. Queremos também colocar os gémeos na natação duas vezes por semana porque é benéfico para a saúde deles. Queremos isto tudo mas não cabemos bem como. Tenho estado aqui a olhar para os horários e a tentar perceber como vamos conseguir fazer isto todo. Temos dias em que um tem aulas das 17:30 às 18:45 e os outros entram na piscina às 18:50. Para além disso temos ainda banhos e jantar depois disto tudo. Se vamos conseguir? Claro que sim, pelos nossos filhos fazemos sempre tudo. Claro que isto implica que não vamos ter tempo, nem provavelmente dinheiro, para pensar nalguma modalidade para nós o que também nos faz falta.
É assim a vida de pais, sempre a gerir prioridades e sempre a por os seus interesses no fim da tabela.
Eu estava deitada no sofá, a única coisa que faço nestes últimos dias, e os gémeos brincavam no andar de cima. A brincadeira estava a correr muito bem, muitas gargalhas e uma grande conversa. Eu estava ali deitada a ouvi a interacção deles.
- Socorro é um dinossauro!
- Não eu não quero brincar.
- Fujam do dinossauro!
- Não.
- É um monstro! Cuidado!
- Mano olha para mim. Sou igual a ti vês? Não sou um monstro, sou eu o Santiago.
Meu filho os onze anos trouxeram mudanças em ti. Estás mais alto e forte. Tens uma rouquidão que insiste em voltar e que eu sei que é um indicio que a tua voz está a mudar. Vejo-te mais preocupado com o espelho e comentas todas as diferenças que encontras. Por estes dias andas todo contente porque os pelos do bigode começaram a escurecer.
Eu fico contente por ti mas não consigo deixar de sentir uma tristeza grande. Sei de fonte segura que os teus melhores anos estão a chegar ao fim e isso dói demais. Sim são os melhores anos, bem sei que pensas que a vida vai ser fantástica quando cresceres mas a verdade não é bem essa. A nossa infância é o melhor da nossa vida, são esses dias que recordamos sempre. Já reparaste que até a tua bisavó passa a vida a falar dos seus tempos de criança no campo? Isso não é ao acaso.
Não existe época melhor que a nossa meninice. Quando podes sonhar de dia e de noite com histórias de heróis e vilões. Quando podes fazer construções e simular tsunamis que destroem toda a cidade que construiste. Quando podes ser um dinossauro que aterroriza pessoas. Brincar, brincar livremente, é o melhor que alguma vez podes fazer. Deixar essa cabeça voar e sonhar acordado.
É uma etapa pura em que quase não existe maldade. Sabes que teu amigo brinca contigo porque sim. Podes dizer tudo o que te está na mente porque às crianças ninguém leva a mal. Tens quem se preocupe contigo. Quem garanta que tens sempre comer na mesa e roupa lavada. Quem te ajuda a fazer trabalhos e brinca contigo. Quem te ama mais do que tudo mas também te repreende quando é preciso. Tens quem se rale se a roupa te serve e se o teu calçado está em condições. Quem te relembre que são horas do banho ou de lavar os dentes. Quem te trate quando estás doente e te aconchegue na hora de dormir. Não tens preocupações porque existe quem as tenha por ti.
Sei que pensas, tal como todos nós já pensamos,que quando cresceres é que vai ser bom. Contudo a verdade é que o crescimento trás obrigações, responsabilidade e deveres. Trás preocupações com trabalho e dinheiro.
Por isso não tenhas pressa. Aproveita esses últimos anos de criança em que os dias passam num ritmo diferente. Ainda me recordo como as férias de verão duravam tanto tempo que até ficávamos fartos delas e como o Natal levava uma vida a chegar. Agora que cresci nem dou pelos dias passarem, correm uns a seguir aos outros e parece que anos passam num piscar de olhos.
Por isso já vês que o melhor é aproveitares ao máximo os últimos anos que te restam. Fecha os olhos e sonha. Dá asas à imaginação. Grita, brinca, corre e salta. Aproveita e não percas tempo a ter pressa em crescer.
Deixei os rapazes a jantar sobre a supervisão do marido e fui tomar banho. Quando desliguei a água ouvi o marido resmungar que estavam a sujar tudo. Minutos depois desci e o marido já tinha arrumado tudo.
Passado um pouco o Salvador veio queixar-se que o comer que tinha no nariz não saía. Como o rapaz sofre de refluxo pensamos que teria tido um episódio. A noite foi passando e o rapaz andava constantemente a fungar. Acabei por lhe dizer:
- Toma um lenço e assoa esse nariz.
- Mas eu não tenho ranhoso.
- Se não estás ranhoso porque não paras de fungar?
- Porque o comer não sai do meu nariz.
- Qual comer?
- A bolinha que eu coloquei no nariz.
- Onde?
- Aqui. - disse apontando para a narina direita.
Espreitei e não vi nada. Disse-lhe que inspirasse, tapei-lhe a narina oposta, fechei-lhe a boca e indiquei que expelisse o ar pelo nariz. Expirou com força e eis que falta uma ervilha lá de dentro.
Não sei que é pior, pai ou filhos. Os filhos porque só tem ideias luminosas ou o pai porque nunca vê nada.