Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Desliguei o despertador que soava na mesa de cabeceira. PORRA! Já são horas de acordar? Estas noites estão a passar demasiado rápido. Parece que ainda agora me deitei e já são horas de levantar. PORRA!
Nem consigo abrir os olhos. Dói-me o corpo todo. Vou ficar aqui na ronha mais dez minutos até o despertador do marido tocar.
Deixo-me estar ali no quente da cama, sinto o sono a rondar, os olhos pesados. Estou quase a adormecer quando me recordo. PORRA! ainda só são três da manhã e tenho que dar o antibiótico ao Salvador.
O dia amanheceu frio. Foi difícil convencer os rapazes a sair da cama.
-Só mais um bocadinho! - pediam todos
Infelizmente não pode ser. Tivemos mesmo que acordar e despachar. Ao sair de casa gelei assim que abri a porta. O carro tinha um bloco de gelo no vidro, exclamei maldições. Na verdade não queria sair de casa. Nem deixar os mais velhos na escola. Tão pouco queria levar os gémeos à creche e a última coisa que me apetecia era vir trabalhar.
Agora vou passar o dia a matutar se levaram roupa suficiente, se estão com frio ou confortáveis. Vou questionar se o Guilherme não anda a correr, porque só na quarta é que tira os pontos.
O cansaço tomou conta de mim. Não foi uma coisa rápida. Foi crescendo e acomulando ao longo do tempo.
Imaginem que estão a brincar na água fria do mar ou do rio. No início está tudo óptimo. Um pouco depois começam a sentir o corpo a arrefecer mas a brincadeira está a ser tão divertida que adiamos a saída. Algum tempo depois começamos a sentir frio mas como somos teimosos continuamos a brincar. Ficamos a aproveitar até que damos por nós a bater o dente, aceitamos então que precisamos sair e aquecer.
O aparecimento do cansaço, da exaustão foi muito similar. Apareceu e foi crescendo um pouco a cada dia que passa. Não é falta de horas de sono porque durmo muito bem. É apenas resultado da correria constante entre um emprego a tempo inteiro e manter uma casa de seis. É a correria de que saí à que horas e quem o vai buscar. São os dias de piscina, de futebol, de explicações, de desporto escolar. As consultas e consultas...
Estou esquecida e baralhada. O marido reclama porque não puxo o travão de mão do carro. Troco microondas com armários. Todos os dias digo que vou tentar ser melhor mãe, melhor esposa mas quando chega a noite estou saturada e nem tenho paciência para mim.
Sei que é apenas uma fase. As férias estão mesmo à porta. No entanto temos tanta coisa para fazer nesses dias que nem sei se vou conseguir descansar.
Coloquei uma tigela com leite no microondas para aquecer. Os miúdos faziam o barulho habitual de uma manhã. Não ouvi o aparelho a apitar mas calculei que já estivesse terminado. Abri a porta e estava vazio.
Abri a porta do armário ao lado do microondas e lá estava ela...😖😵
Em Setembro o Leonardo começou a frequentar o quinto ano. Voltou a estar na mesma escola do irmão mais velho e nós notámos uma grande diferença nos dois.
A primeira melhoria foi o facto do Guilherme ter deixado de dizer que não gosta da escola e que não queria ir. Agora acorda animado, até empolgado. Conseguem estar prontos a horas e saímos de casa sem correrias, nem chatices. Está mais empenhado nas disciplinas e no estudo.
O Leonardo anda radiante, não só está com todos os colegas como se encontra com o irmão algumas vezes.
Esta semana o Guilherme faltou um dia pois tinha consulta. O Leonardo já não queria ir porque ia ficar sozinho. Eu argumentei que eles mal se cruzam durante o dia. Os intervalos são pequenos, nem sempre almoçam à mesma hora, quase nunca saem ao mesmo tempo. Argumentei tudo isto e a resposta foi.
- Mas eu sei que ele está lá!
E a verdade é mesmo essa. Um irmão trás uma sensação de aconchego que não é possivel colocar em palavras. Podem discutir, guerrear, brigar mas estarão sempre lá uns para os outros.
Hoje é dia do pijama pelo que a maioria das crianças são desafiadas a passarem o dia de pijama. É um dia que elas costumam adorar. Passam o dia com a vestimenta mais confortável e aconchegante. Quem é que não adora vestir o seu pijama, seja graúdo ou criança?
Escolhi dois pijamas fantásticos para os rapazes levarem para a escola. O Salvador vestiu o seu sem problemas e encheu o peito de orgulho porque ia ser o polícia da sala.
O Santiago olhou para o dele e disse que não. Afirmou que o pijama do homem aranha não servia para a ocasião. Tentei compreender e deixei a escolha a cargo dele. Vinte minutos depois tinha experimentado todos e não queria nenhum. Um tinha um urso e não podia ser. O outro era azul, claro que não. Um estava excluído por ter naves espaciais.
Respirei fundo e sugeri que fossemos ver se o Leonardo tinha algum que ele gostasse. O único que não lhe ficava gigante tinha caveiras. Primeiro disse que sim mas depois de vestido já não quis.
Claro que a minha paciência esgotou. Vestiu o que eu quis. Chorou grande parte do caminho.
Chegamos à escola, os colegas estavam vestidos com pijamas do batman, super homem e afins.
- Afinal podia ter vestido o homem aranha.
😒Nesse momento percebi que não tive uma gaja mas tenho um gajo com feitio de gaja. Deus me de paciência...