Uma sensação estranha
Os mais velhos foram passar uma semana fora com os avós e nós não somos os mesmos sem eles. O som da casa é diferente. Os risos são menores, os banhos mais rápidos, a pilha de roupa suja é menor e as camas são menos para fazer. Sinto falta do meu Guilherme que anda sempre a dar-me abraços e a dizer que me adora. Sinto falta da forma como demora uma eternidade a explicar a coisa mais simples. Sinto falta de olhar para ele e sentir que está quase da minha altura. De olhar para a forma como o seu corpo está a mudar.
Sinto falta do meu Leonardo e da sua voz histérica. Sinto falta das suas gargalhadas que se ouvem até ao fim da rua. Sinto falta de ouvir o ruído de fundo que faz o dia todo. Passo a vida a pedir-lhe pare de andar sempre a melodiar pela casa mas até desse hábito irritante sinto falta.
Dou por mim a fazer compras para seis, comer para seis e depois somos apenas quatro para o comer. Os pequenos também sentem a falta dos irmãos. Perguntam por eles o dia todo. Quando vão comer perguntam se os irmãos estão a comer. No banho perguntam se os manos estão a tomar banho. À noite perguntam se também estão a dormir.
Uma parte de mim agradece esta ausência. Estou cheia de trabalho, tenho trabalhado mais horas que o habitual. Já ouve dias em que o marido teve que sair para ir buscar os pequenos e tratar deles porque eu nem os conseguia ir buscar a tempo. Agradeço o facto de ter apenas dois para tratar o que torna tudo mais fácil mas sinto falta deles na mesma.
Agradeço também o facto de poderem ter este tipo de relação com os avós. Gosto do facto de poderem criar laços mais fortes. Lembro-me das férias que passei com os meus avós, do quanto me diverti e de como quero o mesmo para os meus filhos. Não quero de forma alguma ser uma mãe que não os deixa viver, que os mantém sempre debaixo das asas mas é difícil abdicar do controle. É tão difícil que não consegui deixar ir os mais novos apesar de os avós os querem levar a todos. Acabamos por chegar a um meio termo, foram dois ficaram dois. Pode ser que para o ano tenha coragem de os deixar ir a todos. Os pequenos já estarão mais crescidos e deve ser mais fácil tomar conta de todos. Se assim for a casa vai ficar ainda mais vazia.
Não vale a pena sofrer por antecedência. Por agora limito-me a sentir falta dos mais velhos e a contar os dias para os ter de volta em casa.