Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
O Guilherme tem chegado a casa todos os dias com a lancheira. Eu andava super contente porque o rapaz parecia estas finalmente a atinar. Entretanto fui busca-lo à escola, ele saiu e ficou comigo à espera pelo Leonardo. Enquanto estávamos à espero uma das colegas dele sai da sala a correr enquanto chama:
- Guilherme! Guilherme!
- Estou aqui, o que foi?
- Toma a tua lancheira.
- Guilherme quase que te esquecias hoje.- brinquei eu
- Ele esquece-se todos os dias. Nós é que vimos sempre a correr atrás dele para lhe entregar. - explica a rapariga
- E eu que estava com esperanças que ele tivesse a ganhar tino.
Ontem estava a passar corredor e vi luz a passar debaixo da porta da casa de banho. Pensei que, como de costume, alguém tinha deixado a luz acesa. Preparei-me para carregar no interruptor enquanto lancei uma pergunta para o ar:
- Está alguém na casa de banho?
- Mãe não apagues a luz! - gritou o Leonardo mesmo a tempo - Ainda agora fiquei às escuras porque o Guilherme me apagou a luz não apagues agora tu também.
A verdade é que quando apagamos a luz está sempre alguém e quando a deixamos ficar acesa não está ninguém.
Entras no elevador, este fecha as portas mas continua no mesmo sitio. Percebes que das duas uma, ou pura e simplesmente não carregaste no botão ou carregaste para o andar em que estás actualmente.
Abres o frigorífico para buscar algo mas quando olhas lá para dentro não te lembras o que precisas. Fechas a porta, voltas a bancada para continuares a fazer o almoço e percebes o que ias buscar. Tornas abrir o frigorífico e dá-te uma branca na cabeça. Voltas novamente para a bancada envergonhada contigo própria. Lês a receita e percebes que o que precisas é do congelador e é por isso que não a encontras no frigorífico.
Colocas a máquina de lavar roupa a lavar. Passado uma hora e qualquer coisa lembras-te que a roupa já deve estar pronta a estender. Abres a máquina e vês que a roupa está completamente seca e que nunca viu água. Verificas que nunca chegas-te a carregar no botão de inicio.
Levantas-te de manhã a fazer planos de arrumar a loiça que ficou a lavar. Percebes que nunca colocas-te a máquina a lavar ou que a puseste a trabalhar sem detergente.
Sais de casa para algum compromisso com os gémeos. Ao ombro levas a mala de maternidade com fraldas e roupa lavada. Passado um pouco precisas de fraldas e percebes que tens poucas ou nenhumas.
Começas uma conversa com o marido, e és interrompida por algum dos miúdos. Tentas retomar a conversa mas nem tu nem o marido se lembram do que é que estavam a falar.
Vais por gasolina e esqueces-te do tampão na bomba
Deixas acabar o desodorizante e andas um mês para o comprar. Vais às compras demasiadas vezes contudo o desodorizante fica sempre na prateleira do supermercado.
Compras cremes lindos e cheiroso, daqueles que dá vontade de comer só de olhar para eles. Colocas os cremes na casa de banho em posição de destaque porque te comprometeste a utiliza-los todos os dias. No primeiro dia esqueces-te de o colocar, assim como no segundo, terceiro e quarto. Com sorte consegues fazer uma aplicação por semana. O creme acaba por ganhar um cheiro estranho depois de anos sem uso e vai para o lixo quase cheio.
Falas com alguém durante um bocado e segundos depois não te lembras da conversa.
Quando voltamos de férias chegamos a casa já era noite. Tratamos de arrumar tudo porque sou incapaz de dormir sabendo que tenho tudo desarrumado. Depois de tudo arrumado fui à casa de banho da suite e reparei que só restavam três míseras folhas de papel higiénico. Abri o armário e vi que não tinha nenhum rolo novo. Dirigi-me à segunda casa de banho e percebi que também não existia papel naquele armário. Olhei para o rolo que estava a uso naquela divisão e vi que estava mesmo a chegar ao fim.
Posso dizer que fiquei genuinamente preocupada porque aquela hora não existia sitio onde pudesse ir às compras. Resolvi não stressar, pedi para o papel durar até à manhã seguinte e dormi sobre o assunto. No dia seguinte levantei-me cedo e fui para a porta do supermercado. Cheguei e ainda nem estava aberto, limitei-me a ficar à porta à espera que abrisse, igualzinha aos senhores reformados que todos os dias lá fazem fila para entrar.
O pior de tudo é que nesse dia à noite passei uma situação similar mas com as fraldas. Usei as ultimas duas fraldas à noite e rezei para que aguentassem até à manhã seguinte.
Já não sei o que ei-de fazer a esta cabeça que já passou o ponto de alho chocho.
Não sei que é da idade, do trabalho ou dos miúdos mas, o facto é que, a minha memoria já não é o que era. Ainda me consigo lembrar do que o marido me disse há dois ou três anos atrás. Ainda consigo ir buscar coisas do arco a velha quando estamos a discutir quem tem razão. Sim ainda me consigo lembrar de certas coisas que ele disse, prometeu ou afirmou e que depois não se realizaram.
Contudo não me consigo lembrar de coisas básicas, como lembrar-me se paguei ou não as compras no supermercado. Acreditem! No outro dia o empregado passou as minhas compras, eu tratei de as arrumar e quando olho para a caixa estava uma senhora a pagar. Fiquei confusa porque não me lembrava de ter pago as compras mas, se estava outra senhora a pagar então o que era feito da minha conta. Será que a senhora teve pena de mim e resolveu liquidar a minha divida? Afinal nada disso. A senhora tinha ido buscar uma coisa e tinha a venda suspensa. O empregado aproveitou para tratar da venda dela enquanto eu arrumava as minhas mercearias. Claro que tive que pagar na mesma.
Outra coisa que me esqueço frequentemente é de como cheguei até casa. Sei que lá cheguei mas não me lembro quem conduziu o carro.
Vou às compras para comprar o artigo X, saiu da loja com um carro cheio mas sem o artigo X.
Hoje aproveitei para fazer umas compras à hora de almoço. Uma colega pediu-me um garrafão de água, eu disse que sim e ela pediu-me que aponta-se na minha lista porque já no passado me pediu coisas que me esqueci de trazer. Consegui trazer-lhe o pedido, embora confesse que me ia esquecendo. Tive que pedir à menina para ir passando as compras enquanto ia lá a correr.Isto porque não consultei a minha agenda.
De facto comecei, de há uns meses para cá, a apontar tudo numa agenda que tenho. Mas entre gatafunhos e rabiscos muitas são as vezes que não percebo o que escrevi. Também acontece que, por vezes, tenho a certeza que sei o que está escrito mas depois quando vou a ver esqueci-me de metade. Como ia acontecendo hoje com o pedido da colega.
Tenho que me mentalizar que estou esquecida e preciso de apontar tudo. Quando digo tudo é mesmo tudo. Coisas a fazer, telefonemas a efectuar, actividades a marcar... É isto ou tomar qualquer coisa para a memória.