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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Braço de ferro

Neste últimos tempos andamos numa luta constante com os gémeos. Os quatro anos trouxeram uma nova fase e não tem sido muito fácil. Acontece que acham que já são uns crescidos e que podem decidir tudo. Eu aprecio muito quando dizem que se sabem vestir sozinhos mas quando estou cheia de pressa não posso esperar meia hora para que o façam. Se tento dar uma ajudam choram porque não precisam de ajuda e já sabe fazer. Depois ficam chateados comigo, cruzam os braços, fazem beicinho e só quando me chateio é que se mexem.

Também se calçam sozinhos e o Santiago troca sempre os pés, quando lhe digo que está mal não aceita e diz que ele sabe. Mais uma vez o momento só acaba quando eu levanto a voz e lhe digo para trocar os sapatos imediatamente. 

O Salvador passou a ser esquisito com a comida. Na verdade nem é ser esquisito passou simplesmente a dizer que não gosta de nada. Chega à mesa olha para o prato e diz que não gosta, sai da mesa e vai procurar no frigorífico algo para comer como se tivesse esse poder. No outro dia cozinhei douradinhos e ele disse que não gostava. Chorou, fechou a boca, reclamou, chorou mais um pouco. Entretanto a minha paciência chegou ao fim e disse que lhe batia se não comece. A medo provou o douradinho e disse-me que afinal era bom. Acabou por limpar o prato e ainda repetiu. É uma situação desgastante que se repete quase todos os dias, ele acaba sempre por comer mas só depois de nos chatear.

Sinto que estou numa luta constante de braço de ferro. Eles estão a testar os limites e nós temos que lhes mostrar que quem manda somos nós mas o facto de serem dois faz muita moça. Quando é só um filho pai e mãe podem render-se e resolver estes dramas à vez. No nosso caso existe o dobro do drama e muitos são simultâneos o que faz com que seja difícil, muito difícil.

Resta referir que todos estes dramas são esquecidos momentos depois porque estão também numa fase muito carinhosa. Passam os dias a dizer que nos adoram, do nada enchem-nos de abraços e beijos. É uma fase muito engraçada.

A hora de dormir

Cá em casa sofremos de um mal que eu penso que assiste em grande parte das famílias. Os pequenos estão todos felizes e contentes a brincar ou a ver televisão. Nós chegamos, dizemos que está na hora de ir dormir e começa o drama.

Um tem fome, outro quer água. Um lembra-se que ainda não preparou a mochila para o dia seguinte enquanto o outro afirma que tem que ir à casa de banho. Um deles lembra-se que ainda não lavou os dentes e o outro que tem um recado da escola. Entretanto o outro ouve a palavra recado e diz que tenho que lhe examinar a cabeça e assinar um papel por causa de piolhos na escola. O pequeno fica com vontade de fazer cocó e demora uma eternidade na casa de banho. Os mais velhos lembram-se de me dizer que lhes tenho que comprar artigos como sapatilhas ou papel de manteiga para o dia seguinte. Os pequenos choram porque querem os pandas para dormir. Depois choram porque querem ir dar beijinho ao pai. Depois querem que conte histórias.

Por norma só sossegam quando me mostro zangada e digo que quero silêncio absoluto. Quando se calam adormecem quase imediatamente mas até sossegarem é dose. Confirmem-me lá se é mau geral ou não inventarem coisas para não irem dormir.

Não consigo estar em todo o lado ao mesmo tempo

Na segunda-feira estava a deixar os mais velhos na escola quando o Guilherme disse:

- Mãe, acho que hoje tinha que trazer uma presente para a troca de prendas.

- Ah?

- Pois é mãe, tínhamos que trazer um presente.- confirmou o Leonardo

- Mas estão a falar do quê?

- Espera que eu tenho um recado.

Olho para o maravilhoso papel que me indicava que tinha que trazer uma prenda para menina até 3€ no dia 12, dia actual.

- Mas quando é que receberam este recado?- perguntei desconcertada

- Na quinta-feira.

- E porque é que só estou a saber disto hoje?

- Esqueci-me- responderam os dois ao mesmo tempo.

Acabei por os enviar para dentro com a indicação para informarem a professora que as prendas só viriam no dia seguinte porque não me tinham avisado.

Uma pessoa tenta incutir-lhes responsabilidade e depois dá nisto. Até o Leonardo que era tão certinho está esquecido. Quando eram pequenos fazia questão de lhes espreitar a caderneta mas agora acho que já têm idade para assumir essa tarefa. Até à data ainda não falharam nenhum recado mas por norma só se lembram na véspera ou no próprio dia. Eu gostava muito de ser daquelas mães que entrega tudo a horas mas sem a colaboração deles não dá, não consigo estar em todo o lado ao mesmo tempo.

Vamos lá dizer as verdades

Toda a vida ouvi falar de como era difícil cuidar de um bebe. Como era mau passar noites sem dormir. Como era complicado gerir o tempo quando temos um ser que come de três em três horas.

Sim é verdade que não é fácil mas também é verdade que depois não fica mais fácil. Gostava que alguém me tivesse tido a decência de me explicar que as coisas não iam melhorar. Gostava que me tivessem alertado para o facto de as coisas se irem complicando à medida que crescem e não o contrário.

Porque a verdade é que ser mãe e educar uma criança é uma tarefa que nunca acaba e só se vai complicando com o passar do tempo. Ora vejamos:

  • Pensam que as noites mal dormidas serão só quando são bebés? Desenganem-se porque depois vêm as doenças, o desmame, o desfralde e tudo significa noites mal dormidas. Mais tarde vêm os medos, do escuro, da morte… e mais noites mal dormidas. Ainda mais tarde vêm as saídas nocturnas com os colegas e adivinhem? Mais noites mal dormidas. No fundo acho que nem depois de os vermos assentes e casados conseguimos dormir como deve de ser.
  • Queixam-se das costas por terem que andar com um bebé ao colo? Pois isso é que é vida porque assim que começam a andar nunca mais temos descanso. Eles dão trambolhões de meia noite. Andam sempre com galos negros. Julgam-se macacos e tentam trepar tudo. O nosso coração para demasiadas vezes. Não querem andar no carrinho e andar com eles na rua torna-se um martírio. Correm, fogem, saltam, desaparecem num piscar de olhos. Mais tarde esfolam-se todos para aprender a andar de bicicleta. Andam de joelhos todos feridos de tanto caírem a jogar à bola. Partem dentes, partem osso e sentimos imensa falta do tempo em que andavam protegidos ao nosso colo. Mais tarde ainda passam a andar de automóvel ou de moto, ainda não estou preparada para pensar nisso.
  • Temos uma vontade imensa para que digam as primeiras palavras. Pensamos que tudo vai ser mais fácil quando falarem mas não é bem assim. Os primeiros diálogos são ditos numa língua que desconhecemos e os pequenos ficam imensamente zangados quando não os percebemos. Levamos uma eternidade a dominar a língua estrangeira que utilizam e quando o fazemos já falam português. De seguida descobrem os musicais do panda e afins e passamos dias a ouvi-los cantar de manhã à noite. Giro? Sim durante os primeiros dois dias depois só nos apetece fugir. Depois vem a idade dos porquês. De seguidas a idade das duvidas existenciais.
  • Passam ainda pela fase do não se calarem um segundo. Uma fase em que nos contam tudo, mas mesmo tudo. Ficamos a saber as notas da turma toda. O que comeram a semana toda. Os lanches dos colegas todos… Claro que isto tudo é melhor que a fase que passam a seguir que é aquela mais conhecida com a do armário. Nesta fase quase que não falam com os pais, respondem só ao que lhes perguntamos e de forma brusca.
  • E o comer? É chato ter que fazer sopas e fruta completamente passadas todos os dias? É chato fazer um comer diferente só para o bebé? Tudo vai ser mais fácil quando comerem de tudo? Não, não e não. Pelo menos um bebé come praticamente tudo o que lhe colocamos à frente. Depois deixam de gostar de sopa. Passam a torcer o nariz às verduras. Fazem bolas com a carne e o peixe que colocam na boca e mastigam, mastigam sem conseguir engolir. Um bebé não olha para a comida que colocamos na mesa com ar de repulsa, depois de termos passado umas horas na cozinha. Um bebé não adora algo hoje e amanhã já não gosta. Um bebé não têm manias de agora vou ser vegetariano, vegan, agora só como bagas…

 

Enfim esqueçam a mentira que tudo fica mais fácil e preparem-se para o trabalhos mais exigente que alguém pode ter.