Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
De amor. De alegria. De gargalhadas. De confusão. De loucura. De gritos.
42 meses de noites mal dormidas. De doenças. De hospitais.
42 meses de colo. De beijos. De abraços. De orgulho.
42 meses desde que passamos de 4 a 6. De convívio. De partilha. De família.
42 meses difíceis mas muito recompensadores. Na verdade já nem me recordo como era a vida antes.
42 meses que espero que dupliquem, tripliquem e cujo número continue a crescer. Que venham mais dias de loucura porque com eles vem um amor que não se consegue medir.
Depois de três meses à espera ligaram a semana passada a chamar o Salvador para ser operado. Lá fomos ontem e correu tudo bem.
Brincou muito antes da cirurgia. Acordou bem disposto e sem grandes queixas.
O panda tinha o mesmo problema é também foi operado.
Agora estamos em casa. O rapaz tem que estar de repouso o que é difícil para uma criança de três anos. Se tiramos os olhos já está a tentar correr e saltar.
Temos que manter o repouso absoluto durante mais uns dias. Eu só penso que o Pai Natal vai trazer um presente fantástico e ele não vai poder experimentar. Vai ficar triste de certeza mas dentro de dias já pode brincar à vontade. Até lá vai recebendo miminhos do mano.
Estes últimos meses não foram muito fáceis. Eu sinto-me física e emocionalmente cansada mas felizmente começo a ver resultados por todo o esforço que fizemos.
Tudo começou com a entrada do novo ano lectivo. Durante os primeiros dias parecia estar tudo bem mas depressa percebemos que afinal não era bem assim. A directora do Guilherme ligou-me para me alertar que ele não estava a acompanhar e todos os professores estavam preocupados com ele. Não fazia alguns trabalhos, não copiava todos os exercícios e exemplos do quadro. Não demonstrava o mínimo interesse na escola e distraia-se com tudo. Resolvemos conversar com o rapaz afinal tudo aquilo era novidade e ele tinha que entrar no ritmo. A caderneta passou a vir cheia de recados porque não levava o material que lhe tinha sido indicado na ultima aula, porque não tinha feito os trabalhos, porque nem tentava resolver os exercícios na aula, porque passava a aula a olhar pela janela...
Cada vez que vinha um novo recado o marido referia que tínhamos que aceitar que estava a ser demais para ele e avançar para a medicação. Eu dizia vamos ver enquanto o meu coração dizia que não mas a meu cérebro concordava com o marido.
Entretanto a directora de turma ligou-me para me alertar para o facto de o rapaz passar os intervalos a jogar no telemóvel e até já ter tentado jogar nas aulas. Este telefonema foi a gota final e resolvemos que a brincadeira tinha acabado. Não lhe podíamos tirar o telemóvel porque já tinha acontecido ele apanhar o autocarro errado e termos que ir à procura dele ( este foi um susto que nem vale a pena falar). Na altura tinha um smartphone porque era o único que tínhamos em casa a funcionar, tinha sido meu e agora estava arrumado para alguma situação. Trocamos este por uma daquelas opções básicas que só dá para fazer chamadas. Para além disso passamos a ser mais exigentes e aplicar castigos.
Explicamos-lhe que existem coisas que são da responsabilidade dele. Eu não sei que material é que o professor pediu na aula e se ele não o leva ficar fica de castigo. Disponibilizamos-nos para o ajudar sempre que necessário mas no fundo o ultimo passo teria que ser dele.
Passei os últimos dois meses em cima dele. Nunca pensei que conseguisse ser tão dura. Por vezes até o marido que dizia que eu era uma coração mole me diz para ser mais branda mas ainda não consegui.
Estudamos muito, explicamos ainda mais. Ensinamos-lhe técnicas para estudar. Mostramos-lhe onde e como procurar informação para fazer os trabalhos de casa. Os primeiros testes vieram e foram um surpresa,não foram óptimos mas foram positivas. Agora veio a segunda ronda e foram ainda um pouco melhor que os primeiros. Finalmente consigo respirar de alivio e abrandar. O rapaz chega todo contente com as suas notas. Eu limito-me a dizer-lhe que quando se aplica tudo é mais fácil. Ele concorda comigo e diz que quando está com atenção nas aulas aprende e não tem que estudar tanto.
Espero que finalmente tenha encarreirado porque estou cansada de ter que ser tão rígida com ele. A disciplina é importante mas também acredito nas recompensas e acho que o rapaz merece umas recompensas.
Acordar uma hora mais cedo é difícil. Uma pessoa estava habituada a abrir os olhos e visualizar alguma claridade enquanto que hoje ainda era noite cerrada. Quando o despertador tocou pensei que me tinha enganado e colocado aquilo para tocar a meio da noite. Desliguei-o e tentei a custo ver as horas embora os meus olhos não quisessem colaborar. Percebi então que estava mesmo na hora de me levantar mas dai a ter conseguido fazê-lo passou mais um quarto de hora.
A escuridão, o frio, a chuva e o facto de ser segunda-feira também não ajudam a animar a manhã. Para além disso regresso ao trabalho depois de semana e meia fora, sei que vou ter muita coisa para colocar em dia. Hoje vai ser um daqueles dias em que nem vou ter tempo para ir à casa de banho. Vamos lá tentar ter uma boa segunda-feira.