Quase aceitei a derrota
Estes últimos meses não foram muito fáceis. Eu sinto-me física e emocionalmente cansada mas felizmente começo a ver resultados por todo o esforço que fizemos.
Tudo começou com a entrada do novo ano lectivo. Durante os primeiros dias parecia estar tudo bem mas depressa percebemos que afinal não era bem assim. A directora do Guilherme ligou-me para me alertar que ele não estava a acompanhar e todos os professores estavam preocupados com ele. Não fazia alguns trabalhos, não copiava todos os exercícios e exemplos do quadro. Não demonstrava o mínimo interesse na escola e distraia-se com tudo. Resolvemos conversar com o rapaz afinal tudo aquilo era novidade e ele tinha que entrar no ritmo. A caderneta passou a vir cheia de recados porque não levava o material que lhe tinha sido indicado na ultima aula, porque não tinha feito os trabalhos, porque nem tentava resolver os exercícios na aula, porque passava a aula a olhar pela janela...
Cada vez que vinha um novo recado o marido referia que tínhamos que aceitar que estava a ser demais para ele e avançar para a medicação. Eu dizia vamos ver enquanto o meu coração dizia que não mas a meu cérebro concordava com o marido.
Entretanto a directora de turma ligou-me para me alertar para o facto de o rapaz passar os intervalos a jogar no telemóvel e até já ter tentado jogar nas aulas. Este telefonema foi a gota final e resolvemos que a brincadeira tinha acabado. Não lhe podíamos tirar o telemóvel porque já tinha acontecido ele apanhar o autocarro errado e termos que ir à procura dele ( este foi um susto que nem vale a pena falar). Na altura tinha um smartphone porque era o único que tínhamos em casa a funcionar, tinha sido meu e agora estava arrumado para alguma situação. Trocamos este por uma daquelas opções básicas que só dá para fazer chamadas. Para além disso passamos a ser mais exigentes e aplicar castigos.
Explicamos-lhe que existem coisas que são da responsabilidade dele. Eu não sei que material é que o professor pediu na aula e se ele não o leva ficar fica de castigo. Disponibilizamos-nos para o ajudar sempre que necessário mas no fundo o ultimo passo teria que ser dele.
Passei os últimos dois meses em cima dele. Nunca pensei que conseguisse ser tão dura. Por vezes até o marido que dizia que eu era uma coração mole me diz para ser mais branda mas ainda não consegui.
Estudamos muito, explicamos ainda mais. Ensinamos-lhe técnicas para estudar. Mostramos-lhe onde e como procurar informação para fazer os trabalhos de casa. Os primeiros testes vieram e foram um surpresa,não foram óptimos mas foram positivas. Agora veio a segunda ronda e foram ainda um pouco melhor que os primeiros. Finalmente consigo respirar de alivio e abrandar. O rapaz chega todo contente com as suas notas. Eu limito-me a dizer-lhe que quando se aplica tudo é mais fácil. Ele concorda comigo e diz que quando está com atenção nas aulas aprende e não tem que estudar tanto.
Espero que finalmente tenha encarreirado porque estou cansada de ter que ser tão rígida com ele. A disciplina é importante mas também acredito nas recompensas e acho que o rapaz merece umas recompensas.