Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Meu filho os onze anos trouxeram mudanças em ti. Estás mais alto e forte. Tens uma rouquidão que insiste em voltar e que eu sei que é um indicio que a tua voz está a mudar. Vejo-te mais preocupado com o espelho e comentas todas as diferenças que encontras. Por estes dias andas todo contente porque os pelos do bigode começaram a escurecer.
Eu fico contente por ti mas não consigo deixar de sentir uma tristeza grande. Sei de fonte segura que os teus melhores anos estão a chegar ao fim e isso dói demais. Sim são os melhores anos, bem sei que pensas que a vida vai ser fantástica quando cresceres mas a verdade não é bem essa. A nossa infância é o melhor da nossa vida, são esses dias que recordamos sempre. Já reparaste que até a tua bisavó passa a vida a falar dos seus tempos de criança no campo? Isso não é ao acaso.
Não existe época melhor que a nossa meninice. Quando podes sonhar de dia e de noite com histórias de heróis e vilões. Quando podes fazer construções e simular tsunamis que destroem toda a cidade que construiste. Quando podes ser um dinossauro que aterroriza pessoas. Brincar, brincar livremente, é o melhor que alguma vez podes fazer. Deixar essa cabeça voar e sonhar acordado.
É uma etapa pura em que quase não existe maldade. Sabes que teu amigo brinca contigo porque sim. Podes dizer tudo o que te está na mente porque às crianças ninguém leva a mal. Tens quem se preocupe contigo. Quem garanta que tens sempre comer na mesa e roupa lavada. Quem te ajuda a fazer trabalhos e brinca contigo. Quem te ama mais do que tudo mas também te repreende quando é preciso. Tens quem se rale se a roupa te serve e se o teu calçado está em condições. Quem te relembre que são horas do banho ou de lavar os dentes. Quem te trate quando estás doente e te aconchegue na hora de dormir. Não tens preocupações porque existe quem as tenha por ti.
Sei que pensas, tal como todos nós já pensamos,que quando cresceres é que vai ser bom. Contudo a verdade é que o crescimento trás obrigações, responsabilidade e deveres. Trás preocupações com trabalho e dinheiro.
Por isso não tenhas pressa. Aproveita esses últimos anos de criança em que os dias passam num ritmo diferente. Ainda me recordo como as férias de verão duravam tanto tempo que até ficávamos fartos delas e como o Natal levava uma vida a chegar. Agora que cresci nem dou pelos dias passarem, correm uns a seguir aos outros e parece que anos passam num piscar de olhos.
Por isso já vês que o melhor é aproveitares ao máximo os últimos anos que te restam. Fecha os olhos e sonha. Dá asas à imaginação. Grita, brinca, corre e salta. Aproveita e não percas tempo a ter pressa em crescer.
No fim de semana passado resolvemos que estava a altura de os gémeos passarem a adormece sem mim. Conversamos com eles sobre o assunto e na hora de deitar a coisa correu surpreendentemente bem. A noites seguintes correram um pouco pior mas nada demais. No geral limitaram-se a choramingar um pouco. Do nosso quarto fomos falando com eles, tranquilizando-os até acabarem por se calar e adormecer.
A coisa correu bem. Na verdade correu bem demais e seria de esperar que isso fosse um alivio para mim. A verdade verdadinha é que esta facilidade mexeu comigo. Estava habituada a adormecer com eles nos meus braços. Todas as noites íamos para a cama e tínhamos um momento só nosso. Um momento em que eu era mimada com beijinhos e abraços. Um momento em que me pediam para inventar histórias. Pediam-me para contar uma história com uma princesa e um avião, eu inventava a história da princesa que tinha medo de voar. Pediam-me uma história com o faisca mcqueen e um dinossauro, eu inventava uma história em que o faisca ia conhecer os personagens do Toys story.
Depois da correria diária sabia tão bem estes pequenos momentos de cumplicidade e felicidade. Impressionou-me a rapidez com que deixaram de precisar da minha companhia. Sei que deveria estar contente mas a verdade é que ainda não cheguei a esse ponto. Tenho que me habituar à ideia que os meus pequenos já não são pequenos e que tenho que lhes dar espaço para crescer. Adoro vê-los crescer mas sinto que à medida em que o fazem me vão fugindo por entre os dedos.
O Verão passou e finalmente deu lugar ao Outono. Chegou a altura de começarmos a vestir as roupas mais quentes que estiveram guardadas durante os últimos meses. Cá em casa estes momentos têm sido um ciclo de surpresas. Ainda no outro dia dizia ao marido que precisávamos de comprar robes para os pequenos. Entretanto fui buscar os os dos mais velhos e percebi que os do Leonardo estavam bons para os gémeos e os do Guilherme estão perfeitos para o Leonardo. Percebi então que quem precisa de facto de um robe é o Guilherme mas com o tamanho que está já teremos que comprar um na secção de adulto.
O verão fez com que crescessem iguais a ervas daninhas. No dia a dia não percebi mas agora vejo perfeitamente na roupa. O Guilherme está tão grande que já tive que lhe ir comprar roupa à pressa e penso que ainda precisa de mais. O Leonardo deu um pulo tal que a roupa que deixa de servir ao mais velho lhe serve logo. Anteriormente a roupa do Gui ficava um ano no roupeiro até servir ao Leo agora nem descansa.
Quanto aos pequenos nem sei o que dizer. Roupa que guardei porque lhes estava muito grande e tinha a certeza que ia servir não serve. Roupa que me deram para esta estação que me pareceu tão grande e afinal está no ponto. Olho para a roupa quando estou a passar a ferro e penso como é possível que aquela determinada peça já lhes sirva? Olho para o cumprimento de perna e questiono-me como é que cresceram tanto?
Todos os anos é esta surpresa depois do verão. O sol, o tempo quente, o ar livre, o ar da praia fazem milagres nas nossas crianças.
Ontem quando fui buscar os pequenos à creche aconteceu-me uma coisa esquisita. A educadora chamou os meus meninos que vieram logo a correr para mim. O primeiro a sair foi o Salvador e quando se chegou a mim nem o reconheci. Olhei para ele e ia jurar que aquele não era o menino que eu tinha deixado na instituição de manhã. Vi um rapaz, pequeno é certo mas um rapaz. Vi uma cara que demonstra que já não é bebe. Vi um corpo que perdeu as formas arredondadas dos primeiros anos de vida.
Chegou o Santiago e estava igualmente diferente, já com cara e corpo de rapaz. Por momentos apeteceu-me chorar, abraçar aqueles rapazes e chorar. Não por estarem a crescer mas sim porque eu nem me estava a aperceber que eles estão a crescer. Senti-me má mãe. A verdade é que senti isto com todos os meus filhos. Aprendi a custo que eles crescem rápido de mais e nós na correria que vivemos andamos cegos. Ás vezes penso se andamos cegos ou não queremos ver, se calhar é um pouco dos dois. Estamos tão preocupados com o dia a dia que nem nos apercebemos que eles mudam um pouquinho todos os dias. Também é verdade que é difícil perceber este crescimento todos os dias, que é mais fácil para quem só os vê de dez em quando. Mas a verdade é que eu como mãe não quero perder pitada e pelos visto estou a perder.
Ao fim de quatro já devia estar mentalizada que isto ia acontecer mas acontece que estou sempre a prometer que desta vez vais ser diferente. Prometo a mim mesmo que é desta que vou dar conta de tudo nem que seja que lhe cresceu mais um cabelo na cabeça e depois desiludo-me. Sei que eles vão continuar a crescer e que nem sempre vou perceber logo as mudanças. Assim é a nossa vida, assim temos que continuar. Eu cá continuo a pedir para o tempo passar mais devagar mas ele nunca me dá ouvidos.
No outro dia dei por falta do Salvador e fui à procura dele porque o mais certo era estar a fazer asneiras. Ao contrário do que pensava não o apanhei a fazer asneiras mas sim espremido entre os irmãos mais velhos. Não resisti a captar o momento destes mimos entre irmãos.
Resolvi deixa-los a brincar mas quando estava a sair do quarto ouvi o Leonardo perguntar:
- Guilherme gostas mais do mano do que de mim?
Resolvi esperar um pouco para ouvir a resposta.
- Ó Leonardo eu gosto muito de ti e dos manos. São todos meus irmãos.
Fiquei contente com a resposta do Guilherme mas não pude deixar de pensar que se calhar não foi de encontro ao que o irmão queria. O Guilherme sempre foi o ídolo do irmão, acho até que ele gosta mais do Guilherme do que de nós pais. Se pensarmos bem o Leonardo nunca conheceu a vida sem o irmão. Cresceram juntos, brincaram juntos, dormiram juntos, tomam banho juntos. Têm sido inseparáveis desde pequenos mas aos poucos as coisas começam a mudar.
Em parte porque agora também têm os irmãos e gostam de brincar com eles. Deixamos de ter brincadeiras a dois para passar a ter brincadeiras a quatro. No entanto as brincadeiras nem sempre podem ser como os mais velhos querem. Eu sei que para eles os irmãos sentavam-se a jogar monopólio ou outra coisa com eles o que ainda não é possível. O Guilherme como já têm mais maturidade é aceita e é capaz de desces ao nível dos irmãos para brincar com eles. Não se importa que as brincadeiras sejam infantis, adora andar de gatas pela casa com os irmãos a correr atrás dele. Já o Leonardo não percebe muito bem porque é que os irmão não fazem o que ele quer nas brincadeiras.
Outro problema que se põe é o facto do Guilherme estar a crescer e começar a demonstrar interesse por coisas mais adultas. Começa a querer ver filmes connosco mesmo não sendo de animação, o que para o Leonardo é uma seca. Então temos um menino grande a ver filmes connosco e um menino média a rondar a sala para saber quando o filme vai acabar e o irmão vai finalmente brincar com ele.
Tenho algum receio desta dependência que ele têm do irmão. Não é que ele não seja capaz de brincar sozinho porque é perfeitamente capaz de o fazer mas, brinca melhor sozinho se souber que o irmão está ao lado dele. O irmão pode estar a ver televisão ou a ler, isso não importa desde que esteja ao pé dele.
Não sei se as birras que, embora mais calmas, surgiram novamente não são derivadas a estas mudanças que estão a acontecer. Espero que ele encontre o seu lugar e se adapte às mudanças porque o tempo não para. A meu ver podem acontecer duas situações, ou o Leonardo aprende a não depender tanto do irmão, ou vai continuar a imitar tudo e crescer demasiado depressa. Nós pais não podemos fazer grande coisa a não ser esperar e estar disponível para o apoiar.