Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Andamos numa correria tremenda. Regar as plantas para não morrerem durante a próxima semana. Lavar o máximo de roupa para deixar as coisas o mais orientadas possível. Fazer malas para nós. Malas para os rapazes levarem para a avó. Não esquecer remédios, brinquedos, livros e outras coisas que podem fazer falta aos pequenos durante a próxima semana. Colocar séries a gravar para não perder pitada. Deixar o trabalho todo em dia. Ter atenção para não deixar nada perecível no frigorífico, nem loiça na máquina de lavar...
Isto é muito, muito mais. Amanhã por esta hora já estou mais calma 😁
O despertador tocou e eu senti um corpo ao pé do meu. Sonolenta equacionei se o marido teria adormecido. Contudo depressa percebi que a perna que estava em cima de mim era demasiado pequena. Pensei se seria o Guilherme ou o Leonardo, não têm por hábito ir para a minha cama mas o corpo era demasiado grande para ser um dos gémeos. Devagar voltei-me para ver e foi com surpresa que percebi que era o Salvador. Fiquei ali uns minutos a olhar para ele e a pensar como é que estava tão grande. Parece que ainda ontem era um ser que me cabia entre o pulso e o cotovelo, hoje já quase que me chega ao peito. Cada vez mais sinto que o tempo acelera sem fim e por muito que corra nunca o consigo acompanhar. Cada vez mais tenho a sensação que sou uma mãe em parte time tão pouco é o tempo que tenho com eles. Sei que existem pessoas com ainda menos tempo mas o que tenho não me parece suficiente.
Ao fim do dia sou sempre eu que levo os gémeos para casa. Vou sempre com pressa para ir fazer o jantar, ajudar o marido nos banhos e, por vezes, ajudar os mais velhos nos trabalhos. Neste dia especifico não foi excepção, apressei-me a caminho de casa, estacionei o carro, fechei o portão e tirei os gémeos do carro. Abri a porta de casa e disse aos rapazes para entrarem. Eles por norma costumam dar umas corridas rápidas e entrar em casa mas desta vez estavam parados. Chamei-os mais uma vez para que entrassem porque estava frio na rua e o Santiago disse-me:
- Espera mãe. Estamos a ver as estrelas. Olha são muitas.
Acabei por me juntar a eles e olhar para cima. A verdade é que o céu estava simplesmente lindo, repleto de pequenos pontos luminosos. Acabei por me deixar ficar ali um pouco com eles a apreciar aquele céu. Demoramos tanto que o marido estranhou e veio à porta saber de nós. Quando perguntou o que se passava respondemos que estávamos a ver as estrelas.
O facto é que andamos numa correria tal que podemos passar pela paisagem mais bela do mundo e nem nos apercebemos. Estamos tão focados nos milhões de coisas que temos que fazer que nos esquecemos de apreciar as coisas simples que nos rodeiam. Eu, felizmente, tenho os rapazes que me chamam à razão e me alertam para as coisas que estou a perder. Agora, todos os dias, tiro um minuto para contemplar o céu e a verdade é que nunca é igual.
Anos que parecem meses, meses que passam como dias e dias que fogem como segundos. Tempo que passa demasiado rápido, sem que tenhamos tempo de o acompanhar. Num dia estamos a festejar o Ano Novo, dois dias depois gozamos férias de Verão e num piscar de olhos já estamos a preparar o Natal. Por vezes pergunto-me que raio de vida é esta. O que é que gozamos? O que é que vivemos? Como é que conseguimos manter amizades? Quando é que damos atenção aos nosso filhos?
A vida foge-nos por entre os dedos e não a conseguimos agarrar. Vivemos com a esperança que o amanhã vai ser diferente. Vamos ganhar o euromilhões, ficar ricos e ter tempo para tudo. Vamos conseguir aquela promoção, para a qual temos trabalhado anos a fio, quando formos promovidos podemos relaxar e aproveitar a vida. Estamos a trabalhar que nem loucos com um objectivo e quando o alcançamos vamos poder levar as coisas com mais calma. Podemos, pura e simplesmente, aceitar que vamos trabalhar assim por mais uns anos, até chegar à idade da reforma e depois vamos gozar à brava.
No entanto.... O euromilhões nunca chega. A promoção apenas significa mais trabalho. Uma vez atingido o objectivo surge um outro no horizonte. A reforma vêm acompanhada da idade e das suas mazelas o que nos limita o gozar à brava.
Depois somos confrontados com problemas de saúde de pessoas próximas. Descobrimos que um está doente, depois sabemos que outro também está, seguido de outro e mais outro. Vemos estas pessoas lutarem por mais um precioso dia de vida e pensamos que raio de vida é esta que levamos.
Hoje fui a uma consulta com os mais velhos. Foi uma correria danada para chegar a horas. Já no hospital recebi um telefonema dum cliente que queria fazer uma visita às nossas instalações ainda durante a manhã. Quando estamos tudo corre bem é só sairmos para aparecerem todos os berbicachos. Despachei-me o mais rápido possível e fui por os miúdos à escola.
Resolvo seguir pela A1 para poupar tempo. Passado um pouco percebo que deixei passar a saída onde deveria sair. Resolvi não stressar afinal já não é a primeira vez que me engano. Sai na saída seguinte dei meia volta e voltei a entrar na auto estrada. Foquei-me na condução e adivinhem lá? Pois é esqueci-me de sair novamente.
Tive que tornar a dar a volta e por fim à terceira tentativa lá consegui acertar com a saída. Tudo isto e ainda tive que ouvir o mais velhos a dizer-me:
- Finalmente mãe estava a ver que íamos ficar até à noite aqui às voltas!
Engraçadinho. Indicar-me a saída nada mas dizer piadas já sabe.
Por aqui acabou-se oficialmente o sossego. Os gémeos não param, ora estão a brincar e entalar os dedos nas gavetas, ora estão a brincar e entalar os dedos nas portas, ora estão em pé agarrados ao sofá.
Nós corremos a apanhar um que está a arrancar folhas da planta e a por na boca. Quando chegamos ao pé do primeiro vemos o outro a chorar porque se aleijou na porta. Pousamos o primeiro para acalmar o segundo e o primeiro aproveita para se por em pé agarrado a alguma coisa. Como ainda não tem muita força, o primeiro acaba por cair ao tentar por-se em pé, nós largamos o segundo para pegar novamente no primeiro. O segundo aproveita imediatamente para fazer outra asneira. Ufa...
Não saem do quarto dos irmãos, eu morro de medo por causa das peças pequenas. Estou sempre a perguntar se não tem peças espalhadas no chão, a resposta é sempre não mas no outro dia fui dar com o Santiago com cone de transito dos Playmobil na boca. Reforço que não pode haver peças pequenas no chão, por favor verifiquem debaixo dos móveis.
Podíamos contar com uns breves minutos de sossego quando os prendíamos nas espreguiçadeiras mas o Salvador aprendeu a sair dela e já ninguém o prende. Já por varias vezes o tinha apanhado a tentar descer da mesma mas nunca tinha visto como é que ele se conseguia soltar. O marido começou a encostar a espreguiçadeira ao sofá para ele não cair para trás mas não foi a melhor das ideias. Hoje apanhei-o a fazer isto.