Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Passam uns iguais aos outros. A maioria do tempo não consigo sair da cozinha. A preparação de quatro refeições para seis pessoas ocupa imenso tempo. Para ser honesta ocupa mais tempo porque tenho inventado muito. Na necessidade de ocupar tempo virei-me para a culinária. Agora cá estou eu a fazer pasta caseira, tortilhas de raiz ou masmellos. Até que estou a adorar esta parte ao contrário do marido que diz que o número na balança está a subir.
O restante tempo é passado entre livros e escola. Ajudar os rapazes no envio dos trabalhos efectuados. Na organização das tarefas a cumprir, das aulas a assistir.
Tempo morto é coisa que não existe nesta casa, curioso não é?
Não tenho sido muito honesta com os meus filhos. Nunca lhes menti mas, nestes últimos tempos, tenho omitido a verdade.
As notícias são vistas quando eles estão entretidos no piso de cima. As conversas sobre o tema são tidas sorrateiramente. Quando entram em cena o tema é contornado e retomado um pouco mais tarde.
Não sei se estamos a fazer bem ou mal. Não sei se deveríamos ser sinceros e explicar tudo o que se está a passar? Como explicar algo que nem nós adultos percebemos? Pensar que afinal não estamos tão avançados como pensávamos. Que o número de mortos não pára de subir. Um amontoado de caixões, pessoas impedidas de dizer um último adeus, pessoas impedidas de apoiar pessoas chegadas neste momento de dor.
Não me sinto preparada para expor os meus filhos a esta realidade. Não quero que se deitem à noite com medo. Nem que passem os dias preocupados. Não quero que esta pandemia lhes roube a infância.
Todos assistimos a criança que foram obrigadas a crescer cedo demais. Fome, guerra, órfãos... Todas elas não devidamente protegidas.
Não quero isso para os meus filhos. Posso estar a agir mal, mas neste momento não lhes quero transmitir medo.
Por isso mantemos a calma e vivemos a situação com a maior normalidade possível. Sabem que existe uma doença e que não podemos sair de casa. Que não sabemos quando vamos voltar à escola ou a abraçar os avós.
Não fazem perguntas o que nos ajuda a manter a informação sonegada. Neste momento estão mais concentrados em aproveitar ter a família reunida durante tanto tempo.
Os dias vão passando mas ainda não entramos em velocidade de cruzeiro. Estamos perante uma série de novas rotinas a que ainda não nos adaptamos. O comer escasseia no supermercado, é necessário madrugar e acampar à porta do supermercado, no mínimo, meia hora antes da abertura. Só assim conseguimos ter a certeza de encontrar fruta e legumes. Ao longo do dia a situação fica mais complicada, as filas aumentam é necessário esperar mais tempo na incerteza de encontrar o que necessitamos. As compras online também estão difíceis, não existem muitos artigos e quando tentamos finalizar o carrinho recebemos informação que não tem stock de metade dos artigos que escolhemos.
Medo é uma coisa que está presente em todos nós. Como já referi várias vezes não tenho medo do vírus em si mas sim do comportamento humano. As pessoas continuam a comprar como se os mercados fossem fechar hoje, todos os dias é a mesma coisa, sinceramente não sei onde guardam tanta coisa. O facto de comprarem tanto significa que outros ficam sem nada para levar para casa. Pensem nas pessoas que não têm capacidade financeira para fazer stocks. Naquelas que não têm veículos e cujas forças escasseiam para carregar muito peso.
Em casa tentamos explicar aos rapazes que é preciso contenção. Ninguém têm que passar fome mas não precisamos comer este mundo e o outro. É difícil com quatro rapazes, dois na pré adolescência, mas é necessário. Este tipo de situações fazem com que cresçamos. Aprendemos a dar mais valor ao que, anteriormente, dávamos por garantido.
A liberdade, a abundância de comida, a educação escolar, o convívio com amigos, o abraço a um ente querido.
Espero que tudo volte à normalidade porque tenho saudades de muita coisa e mal posso esperar para as fazer de novo.
Todos vimos ontem fotos de portugueses pelas praias de Portugal. Bem sei que as fotos chocaram muita gente mas existe uma explicação para o facto.
Ora todos nós já lemos imensas notícias que indicam que o vírus não gosta de calor, algumas afirmam mesmo que não sobrevive a temperaturaa acima de 27°. De referir que estas notícias online que nos chegam através de aplicações como o Facebook e afins.
Ora ontem os termómetros subiram até valores capazes de exterminar o malvado vírus e claro que os portugueses resolvem tomar o assunto com as suas próprias mãos. Rumaram em massa ao areal para estender o esqueleto ao sol esperando desta forma acabar com a proliferação do mesmo no nosso país.