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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Vamos lá dizer as verdades

Toda a vida ouvi falar de como era difícil cuidar de um bebe. Como era mau passar noites sem dormir. Como era complicado gerir o tempo quando temos um ser que come de três em três horas.

Sim é verdade que não é fácil mas também é verdade que depois não fica mais fácil. Gostava que alguém me tivesse tido a decência de me explicar que as coisas não iam melhorar. Gostava que me tivessem alertado para o facto de as coisas se irem complicando à medida que crescem e não o contrário.

Porque a verdade é que ser mãe e educar uma criança é uma tarefa que nunca acaba e só se vai complicando com o passar do tempo. Ora vejamos:

  • Pensam que as noites mal dormidas serão só quando são bebés? Desenganem-se porque depois vêm as doenças, o desmame, o desfralde e tudo significa noites mal dormidas. Mais tarde vêm os medos, do escuro, da morte… e mais noites mal dormidas. Ainda mais tarde vêm as saídas nocturnas com os colegas e adivinhem? Mais noites mal dormidas. No fundo acho que nem depois de os vermos assentes e casados conseguimos dormir como deve de ser.
  • Queixam-se das costas por terem que andar com um bebé ao colo? Pois isso é que é vida porque assim que começam a andar nunca mais temos descanso. Eles dão trambolhões de meia noite. Andam sempre com galos negros. Julgam-se macacos e tentam trepar tudo. O nosso coração para demasiadas vezes. Não querem andar no carrinho e andar com eles na rua torna-se um martírio. Correm, fogem, saltam, desaparecem num piscar de olhos. Mais tarde esfolam-se todos para aprender a andar de bicicleta. Andam de joelhos todos feridos de tanto caírem a jogar à bola. Partem dentes, partem osso e sentimos imensa falta do tempo em que andavam protegidos ao nosso colo. Mais tarde ainda passam a andar de automóvel ou de moto, ainda não estou preparada para pensar nisso.
  • Temos uma vontade imensa para que digam as primeiras palavras. Pensamos que tudo vai ser mais fácil quando falarem mas não é bem assim. Os primeiros diálogos são ditos numa língua que desconhecemos e os pequenos ficam imensamente zangados quando não os percebemos. Levamos uma eternidade a dominar a língua estrangeira que utilizam e quando o fazemos já falam português. De seguida descobrem os musicais do panda e afins e passamos dias a ouvi-los cantar de manhã à noite. Giro? Sim durante os primeiros dois dias depois só nos apetece fugir. Depois vem a idade dos porquês. De seguidas a idade das duvidas existenciais.
  • Passam ainda pela fase do não se calarem um segundo. Uma fase em que nos contam tudo, mas mesmo tudo. Ficamos a saber as notas da turma toda. O que comeram a semana toda. Os lanches dos colegas todos… Claro que isto tudo é melhor que a fase que passam a seguir que é aquela mais conhecida com a do armário. Nesta fase quase que não falam com os pais, respondem só ao que lhes perguntamos e de forma brusca.
  • E o comer? É chato ter que fazer sopas e fruta completamente passadas todos os dias? É chato fazer um comer diferente só para o bebé? Tudo vai ser mais fácil quando comerem de tudo? Não, não e não. Pelo menos um bebé come praticamente tudo o que lhe colocamos à frente. Depois deixam de gostar de sopa. Passam a torcer o nariz às verduras. Fazem bolas com a carne e o peixe que colocam na boca e mastigam, mastigam sem conseguir engolir. Um bebé não olha para a comida que colocamos na mesa com ar de repulsa, depois de termos passado umas horas na cozinha. Um bebé não adora algo hoje e amanhã já não gosta. Um bebé não têm manias de agora vou ser vegetariano, vegan, agora só como bagas…

 

Enfim esqueçam a mentira que tudo fica mais fácil e preparem-se para o trabalhos mais exigente que alguém pode ter.

Agora é que me tramaram

Os pequenos andam famintos. Emagreceram um pouco depois de um mês sempre doentes mas entretanto acham que devem comer agora o que não comeram durante a doença. Ás vezes digo-lhes que não porque tenho medo que passem mal de tanto comer. Ainda ontem, jantaram bem depois dividiram uma manga enorme, de seguida comeram três tangerinas cada e depois ainda andaram a comer pão e bolachas.

Nós tentamos cortar um pouco, dizemos que não mas isso não é impedimentos para os rapazes. Afinal já sabem onde estão as coisas e nem o facto de estarem num sitio alto nos safa.

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Nada que uma cadeira não resolva.

Resumindo agora atacam os armários pelo que só nos resta trancar a porta da cozinha para que não comam a despensa inteira.

 

Assim não dá!

Dizem-nos que devemos colocar as crianças em actividades de forma a libertarem a imensa energia que tem. Dizem-nos que as crianças virão exaustas da modalidade o que garantirá noites tranquilas. Dizem também que ajuda à concentração, que as regras das actividades lhes fazem bem e que o desporto trás saúde.

Só coisas boas não é? O problema é que não é bem assim.

Primeiro falemos dos valores que nos são cobrados para que os nosso filhos possam praticar desporto, sim porque agora tudo se paga. Querem actividades, toca a abrir os cordões à bolsa. Temos mensalidades, cotas de sócios, roupa apropriada, calcado próprio… tudo para cima de um balúrdio.

Depois temos o facto de as crianças regressarem eufóricas de tanta corrida, ou divertimento. As únicas pessoas que chegam exaustas a casa são os pais, por causa da ginástica que fazem para deixar os filhos a horas nos compromissos e das secas que apanham a vê-los praticar o desporto escolhido. O pai entra em casa e já só se quer sentar no sofá enquanto que os filho já vêm a perguntar pelo jantar.

Sim porque ninguém nos avisa que colocar um rapaz a jogar à bola é a mesma coisa que começar a alimentar uma equipa inteira. Um sai da piscina a perguntar se falta muito para jantar. O outro sai da bola a questionar se o comer já está pronto. Entram em casa e só se queixam que estão famintos. Sentam-se a mesa a salivar e engolem o comer sem mastigar. Mas o pior de tudo cá em casa é o facto de os gémeos terem começado a jantar duas vezes tudo graças às actividades dos irmãos. Por volta das dezanove horas já não se calam com fome pelo que lhes damos o jantar. Os irmãos chegam pouco depois das vinte e os pequenos resolvem que afinal ainda têm fome. Sentam-se de novo na mesa e comem tanto ou mais do que comeram à uma hora atrás.

Verdade seja dita, assim não dá. Não há orçamento que resista a quatro rapazes a comer.

Sina de uma mãe de quatro

 

Sentamos-nos 5 minutos no sofá e apercebemos-nos que temos fome. Vamos buscar uma maçã, um tabuleiro, uma faca e retorna-mos ao sofá. Começamos a descascar a maçã e, como que chamado pelo olfacto, aparece o primeiro filho.

-Mãe, podes dar-me um pouco de maçã?

Entregamos-lhe metade da maça descascada e começamos a descascar a segunda metade. O primeiro filho chega ao quarto e o segundo vê o irmão a comer maçã.

-Mãe também quero maçã.-Diz enquanto se dirige para a sala.

Entregamos-lhe a segunda metade da maçã e vamos buscar outra. Começamos a descasca-la e aparecem os gémeos

-Papa, papa.

Partimos bocadinhos pequeninos e vamos dando aos pequenos, entretanto aparecem os dois maiores a dizerem que querem mais. Entregamos o resto da maçã, vamos buscar mais uma e a história repete-se. Voltamos a cozinha e voltamos de mãos a abanar.

-Mas tu não ias comer? -pergunta o marido.

-Perdi a fome depois de ver tanta maçã.