Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
O Guilherme está feliz da vida porque a escola já terminou. O Leonardo anda amuado porque vai ter mais 4 dias de aulas que o irmão. Diz a alto 3 bom som que é uma grande injustiça. Não adianta explicar que destes quatro dias apenas um será completo. Os outros três serão apenas meio tempo por causa das provas de aferição e da festa.
Os pequenos fazem birra porque também querem ficar em casa. Os irmãos têm muitas férias e a escola deles nunca acaba. Resta dizer que os últimos dias não foram fáceis e suspeito que os próximos também não serão. Muitas birras ainda vão surgir até Setembro. Quem é que adora as férias intermináveis de verão?
- Ou vocês se entendem ou ficam os dois de castigo.
- Mas...
- Não há mas nem meio mas. Eu não estava, não vi e não vou tomar partidos. Ficam os dois de castigo.
- Não. Anda mano vamos brincar.
Durante umas horas não se ouvem mais birras. Claro que depois a história volta ao princípio mas aqui a mãe só toma partido se vir algo que mereça mesmo repreensão.
Todos os dias dá muitos remédios ao meu irmão. Xaropes com um ar apetitoso e umas bolinhas que parecem rebuçados. Eu olho para eles todos e também quero provar. A mãe é má e diz que eu não estou doente e não posso tomar remédios. Eu fico muito triste...
O Guilherme sai de casa para apanhar o autocarro. Os gémeos ficam a berrar porque querem ir de autocarro com o Guilherme.
Passados alguns minutos coloco os três restantes no carro e sigo para a escola do Leonardo. Chegamos a escola o rapaz sai do carro e os gémeos começam a berrar que querem ficar naquela escola com o Leonardo. Arranco com o carro mas eles não se calam. Choram durante os dez minutos que demoro até a creche.
Estaciono a carro já enervada e aborrecida de tanta choradeira e eisque o choro aumenta de volume. Choram porque querem ir para a escola dos crescidos afinal já estão grandes. Não há palavras que os convençam que ainda não têm idade. Por fim desisto e deixo-os lá a chorar. Sei que se calam logo depois de sair por isso opto por não me enervar mais.
Espero que com a rotina deixem de berrar assim porque acho que não aguento muitas manhãs assim.
Hoje é dia do desfile de carnaval dos mais velhos. A minha mente treinada de mãe alertou-me que poderia ter um problema. Imaginei os gémeos a berrar e chorar quando vissem os irmão mascarados. Imaginei uma grande birra para vestirem os seus disfarces também.Tinha quase a certeza que isto ia acontecer pelo que tratei de engendrar um plano.
Coloquei os disfarces dos mais velhos num saco. Vestimos todos roupa normal para sair de casa. Deixei os gémeos na creche e ajudei os mais velhos a vestir o disfarce por cima da roupa dentro do carro.
Consegui assim evitar um potencial desastre com muita lágrima e ranho. Provavelmente estão a pensar porque não deixei os pequenos irem mascarados também e pronto. A questão é que os rapazes têm mijado a roupa todos os dias e se isso acontecesse com o disfarce vestido não o poderia usar no fim de semana.
Ser mãe é mesmo isto. É preocuparmos-nos tanto com o dia de amanha como com o que estamos.É antever um problema antes de este acontecer. É sofrer a tentar arranjar soluções para situações que podem ou não acontecer. Para mim ser mãe é um desafio diário.
Sábado à noite chamei os rapazes para jantar. O Leonardo chega à cozinha olha para o prato e diz:
- Outra vez isto?
- Leonardo temos que comer a canja para ficarmos bons.
Olha novamente para o prato, agonia-se e corre a vomitar para o lava-loiça.
- Ai, ai…
- Pronto filho já passou. Lava as mãos e a cara com o detergente. Não és obrigado a comer, se estás assim mal disposto podes te ir deitar a ver bonecos.
Sai um instante da cozinha em busca dos mais pequenos que também não demonstravam vontade de comer. Volto à cozinha e vejo o Leonardo sentado a comer a canja como se estivesse cheio de fome.
- Então Leonardo?- pergunto perplexa
- O que é? Não disseste que a canja nos ia curar? Vou comer logo isto tudo para ver se fico bom.
No domingo ao fim da tarde o Leonardo pergunta-se:
- Mãe o que é o jantar?
- Sei lá Leonardo, ninguém tem vontade de comer. Podes comer a carne que estou a assar, tinha que a cozinhar para não se estragar.
- Não quero carne.
- Então podes comer canja.
- Também não quero canja. Quero massa chinesa.
- Já te disse que a massa chinesa é só de vez em quando porque faz mal e ainda por cima estás doente.
Acabei a conversa e fui ver da carne. Um quinze minutos depois o rapaz aparece-me a farejar o ar.
- Vou só espreitar qual é a carne que estás a fazer.
No mesmo instante sai da cozinha de braços traçados, a querer fazer cara de mau mas quase a chorar ao mesmo tempo.
- Não me importa que seja deliciosa não vou comer!- exclama enquanto foge para o quarto.
Optei por ignorá-lo e passado um pouco veio perguntar se podia comer a carne.
Por vezes os nossos filhos fazem ou fazem coisas que nos deixam boquiabertos. Nós pais ficamos a tentar perceber de onde veio aquela acção ou informação. Muitas vezes não encontramos uma origem apenas sabemos que em determinado período apreenderam aquela informação. Lembro-me que o Guilherme com cerca de um anos aprendeu a deitar-se no chão a fazer fita. Onde aprende uma criança que está em casa e não tem outras crianças perto este tipo de comportamentos? Existem coisas que aparecem espontaneamente e não tem explicação.
No fim de semana, o Santiago estava no andarilho, na sala com o pai. Eu estava no cozinha a tirar a roupa da máquina e apercebi-me que ele tinha saído da sala, pensei que vinha ter comigo mas eis que ele começa a dirigir-se para o hall de acesso aos quartos. Continuei a dobrar roupa e oiço o Santiago emitir um som Lhé, Lhé. Apressei-me a ir ao encontro do menino, olhei para o marido que já vinha também no encalço dele e perguntei se tinha ouvido bem. Encontramos o pequeno a tentar passar para o quartos dos irmãos contudo ficou barrado por um móvel que temos no hall. Como não conseguia sair passar começou a chamar mas, o som que emitia parecia mesmo que estava a chamar o Guilherme. Ainda pensei que tinha percebido mal mas o pai ouviu o mesmo, acho um pouco difícil estarmos os dois a alucinar. Claro que provavelmente tratou-se de uma casualidade mas que nos deixa de orelha no ar deixa.
Ontem foi a vez do Guilherme. Vínhamos no carro e ele diz que a senhora que estava a atravessar a estrada era uma idosa. Sabes mãe as velhas são idosas e os velhos são idosos. Não devemos dizer velhas e velhos então dizemos idosas ou idosos é mais educado. Eu não aprendi isto na escola, aprendi sozinho. Não consegui evitar rir do comentário e pensar que ele poderia transmitir esse conhecimento para o Leonardo que ainda no outro dia tivemos de repreender depois de dizer: "Já viram aquela velha feia!". Leonardo não dizemos velha dizemos senhora. "Está bem mas é uma senhora feia, não é?" As pessoas que passaram no momento afastaram-se a rir e eu tive que fazer um esforço enorme para manter uma cara séria enquanto lhe explicava que essas coisas não se dizem.
Hoje de manhã os pequeninos estavam a fazer uns sons tipo lha,lha, lha. O Leonardo vira-se para o Guilherme e diz que foi ele que ensinou os irmãos a dizer aquilo. Sim porque ele diz que os manos já começam a falar. Ainda no outro dia eles emitiram um som semelhante a olá e ele estava todo contente a dizer ao irmão que ele tinha falado.
É muito engraçado ver a interacção deles. É verdade que muito dos sons que os gémeos produzem aprenderam com os irmão. Um faz grrr e o outro responde igual. Um grita AH, o outro grita de volta. Estas crianças de hoje em dia tem uma capacidade de apreender que nos surpreende. Impressiona-me por exemplo a forma como os gémeos saltam para o tablet e se por acaso conseguem deitar-lhe a mão põem-se logo com as mãos a tentar mexer na imagem. E qual é o bebe que não adora o comando a televisão?
Estas crianças já vem com um processador mais avançado..