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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

O meu irmão

Em Setembro o Leonardo começou a frequentar o quinto ano. Voltou a estar na mesma escola do irmão mais velho e nós notámos uma grande diferença nos dois. 

A primeira melhoria foi o facto do Guilherme ter deixado de dizer que não gosta da escola e que não queria ir. Agora acorda animado, até empolgado. Conseguem estar prontos a horas e saímos de casa sem correrias, nem chatices. Está mais empenhado nas disciplinas e no estudo. 

O Leonardo anda radiante, não só está com todos os colegas como se encontra com o irmão algumas vezes. 

Esta semana o Guilherme faltou um dia pois tinha consulta. O Leonardo já não queria ir porque ia ficar sozinho. Eu argumentei que eles mal se cruzam durante o dia. Os intervalos são pequenos, nem sempre almoçam à mesma hora, quase nunca saem ao mesmo tempo. Argumentei tudo isto e a resposta foi.

- Mas eu sei que ele está lá!

E a verdade é mesmo essa. Um irmão trás uma sensação de aconchego que não é possivel colocar em palavras. Podem discutir, guerrear, brigar mas estarão sempre lá uns para os outros. 

Não se ensina a amar

Quando percebi que iria ter quatro rapazes em casa o meu maior receio era que se dessem mal. Sei que a convivência entre irmãos nem sempre é fácil. Eu com quatro acreditei que não seria pera doce. Sei que podemos educar as crianças em muita coisa mas a capacidade de amar e criar empatia tem que nascer connosco. 

O tempo passou e tudo correu muito melhor do que eu pensava, neste campo. Não vou dizer que é tudo óptimo porque tal não é verdade. Os meus filhos discutem e bulham, apenas não com muita frequência.

Em geral são muito unidos e tive uma grande prova disso esta semana. O Leonardo tinha uma consulta logo de manhã à uma hora em era de todo impossível eu conseguir ir. Ou faltava tudo à escola para irmos com o Leonardo ao médico, impossível porque o Guilherme até tinha um teste, ou faltava à consulta. A alternativa foi deixar o rapaz a dormir em casa dos avós que depois o acompanharam ao hospital. Nessa noite a casa esteve mais triste. Os gémeos passaram o tempo todo a perguntar quando é que o irmão chegava. Foram dormir contrariados a chamar pelo elemento em falta. De manhã não queriam ir para a creche só diziam que tínhamos que ir buscar o Nardo ao médico.

O Guilherme passou os intervalos da escola a ligar para a avó para saber se estava tudo bem com o irmão, se já tinha ido à consulta, se o médico tinha dito que estava tudo bem. 

No fim do dia foi uma alegria quando se viram todos reunidos de volta. Eu assisti a tudo isto com uma lágrima no canto do olho. São momentos incapazes de se traduzir em palavras e só posso agradecer por fazer parte deles. 

Tanto amor

Ontem deixamos o Guilherme em casa da avó. Hoje o pai vai com ele a uma consulta. Como o marido entra no trabalho às seis da manhã resolvemos deixar o rapaz na avó. Assim não tem de acordar de madrugada e está perto para o pai o ir buscar.

Deixamos o Guilherme e viemos embora. No caminho notámos que o Leonardo vinha muito calado. Olhei para o banco de trás e reparei que estava a chorar.  Perguntei o que se passava e ele desatou num pranto. Nem conseguia falar de tanto chorar. O marido é eu tentavamos perceber o que se passava. Perguntei se estava doente. Se tinha alguma dor. Se estava com problemas na escola. Se tinha perdido algo. Se tinha partido algo. Ele limitava-se a acenar que não com a cabeça e continuava a chorar.

Foi então que o marido perguntou:

- É por causa do Guilherme?

Ele indicou que sim com a cabeça. 

- Também querias ficar em casa da avó?

Ele abanou a cabeça. 

- Então não estou a perceber?

-... Saudades...

- Estás assim porque vais ter saudades do teu irmão?

- Sim...

Lá lhe explicamos que era só um dia e que num instante estariam de novo juntos. 

Eu cá não sei se deva ficar orgulhosa de tanto amor ou preocupada por esta dependência do irmão mais velho. 

 

Os irmãos estão sempre presentes

Hoje o Salvador acordou cedo, está com uma erupção nos joelhos e acordou cheio de comichão. Veio para ao pé de mim e eu fiquei ali deitada a saborear aquela proximidade. Encostei o meu nariz a ele e inalei o seu cheiro. Encostei a minha face à dele e senti a sua pele macia. Aproximei os meus lábios do ouvido dele e segredei:

- Gosto tanto de ti. És o menino do meu coração.

- É também gostas do Santiago, do Leonardo e do Guilherme. Estamos todos no teu coração!

Mesmo nestes momentos os irmãos estão sempre presentes. 

A arte esquecida de escrever uma carta

Ontem, assim que cheguei a casa, fui requisitada pelo Leonardo. Tinha estado a fazer os trabalhos e queria que eu visse se estavam bem. Perguntei-lhe o que era o trabalho e explicou-me que tinha que escrever uma carta. Fiquei curiosa e assim que comecei a ler percebi que era ainda melhor do que eu tinha pensado. 

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Adorei cada palavra do principio ao fim e vi o amor que sente pelo irmão. Senti que as palavras têm muito mais força quando são escritas numa folha de papel. Quando as dizemos em voz alta são ouvidas, absorvidas mas depressa são esquecidas. Quando as colocamos em papel duram toda uma vida.