Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Com o passar do tempo os rapazes vão crescendo e eu vou assistindo às mudanças. O amor que os une a todos é muito bonito de se ver mas é o amor entre os gémeos que mais me emociona. A forma como estão sempre juntos é não passam um sem o outro. Se um desce e se senta connosco nk sofá, nem cinco minutos depois o outro já anda à procura dele. Se um vai para a casa de banho o outro vai também, enquanto um está na sanita o outro senta-se no chão a tagarelar.
Adoro também a preocupação constante com o outro. Se um chora o outro é o primeiro a acudir. Se um nos vêm pedir comer e recebe um doce ou uma peça de fruta logo grita para o irmão vir também comer, ou pede mais um para entregar ao mano. Hoje de manhã acordaram e correram para a casa de banho ouvi então a seguinte conversa.
- Podes ir primeiro.
- Não eu aguento. Podes fazer tu.
- Eu também aguento. Não queres ir tu primeiro?
Adoro a forma como se importam com o irmão e não se preocupam só com o próprio umbigo.
Adoro que brinquem sempre juntos e sejam capazes de se adaptar e sujeitar à brincadeira do outro. A forma como conseguem um equilíbrio no dia a dia, ora brincam à brincadeira de um, ora brincam à do outro.
Neste momento é uma relação bonita de se ver e a nossa família é uma privilegiada por poder assistir de perto a um amor como este.
Eu estava deitada no sofá, a única coisa que faço nestes últimos dias, e os gémeos brincavam no andar de cima. A brincadeira estava a correr muito bem, muitas gargalhas e uma grande conversa. Eu estava ali deitada a ouvi a interacção deles.
- Socorro é um dinossauro!
- Não eu não quero brincar.
- Fujam do dinossauro!
- Não.
- É um monstro! Cuidado!
- Mano olha para mim. Sou igual a ti vês? Não sou um monstro, sou eu o Santiago.
Ontem quando fui buscar os pequenos à creche o Salvador estava com um saco de gelo no olho. Minutos antes tinha deixado cair uma peça de lego para o chão, quando a tentou apanhar calculou mal o coisa e bateu com o olho no assento da cadeira. Tinha um pequeno corte e o olho ligeiramente inchado mas nada de preocupante. Entregamos o saco de gelo à educadora e abandonamos o edifício.
Entramos no carro e como estava um calor infernal abri os vidros.
- Mãe não abras o meu vidro.- gritou o Salvador - Se não o vento leva o gelo do meu olho.
Eu limitei a fechar o vidro enquanto me ria da ideia dele. Entretanto oiço:
- Salvador, vira a cara para o outro lado para o meu vento não levar o teu gelo.
E cada vez que o Salvador mexia a cabeça o outro gritava para que não o fizesse. Fui o caminho todo a rir pela preocupação demonstrada pelo irmão e pelo facto de não perceberem que ao tirar o saco de gelo o frio passaria por ele próprio.
Esta fase é mesmo deliciosa. Começam a ser crescidos mas ainda tão inocentes.
Vejo-vos crescer meus filhos. Os três anos estão quase à porta e vocês estão menos bebés a cada dia que passa. Todos os dias aparecem com uma palavra nova, com um comportamento diferente. Começam a fase de quererem ser independentes, aquela em que julgam que já não precisam de ajuda de ninguém. Estão também numa fase de procurar independência um do outro. Têm guerreado muito. Tudo o que um tem o outro quer, passam a vida a roubar os brinquedos um ao outro e claro que o que foi roubado parte para a violência. Gritam um com o outro enquanto cada um puxa um brinquedo para si como se estivessem a jogar ao jogo da corda.
É uma fase difícil. Tem havido muito choro e muito galos na cabeça infligidos por um brinquedo que o irmão lhe atirou à cabeça num ataque de fúria. Nós tentamos mediar a coisa mas não é fácil porque agora é um o lesionado mas logo a seguir é o outro.
No entanto nem tudo é mau. Existem também fase boas em que vos vejo sentados em conjunto a montar puzzles, adoro a forma como um procura as peças e ajuda o outro. Adoro o facto de andarem sempre um atrás do outro independentemente de tudo, podem ter-se chateado mas passados dois minutos já estão à procura do outro. Existem momentos em que vejo o quanto se adoram um ao outro. Quando um acorda primeiro não descansa enquanto não desperta o irmão. Quando dou uma coisa a um pede sempre para o irmão. Recentemente passamos por uma situação muito divertida. Tu Salvador tiveste medo do urso da Natura, vincavas os pés no chão para não te conseguirmos aproximar do urso. Entretanto percebes-te que o Santiago se ia aproximar do urso com o pai pelo que largas-te a minha mãe e foste pegar na do teu irmão. Começas-te a puxa-lo para trás enquanto gritavas: " não Santiago urso mau". Tornou-se óbvio que estavas preocupado com o teu irmão.
Sei que estas minhas memórias não iram durar para sempre. O tempo é inimigo neste caso e desvanece tudo mas gostava de conseguir manter o máximo possível. Tento fotografar para recordar mas muitas vezes na foto fica apenas uma imagem. De vez em quando tenho sorte e tiro alguma que parece que fala connosco. Uma daquelas em conseguimos sentir as emoções do momento e esta para mim é uma delas.Deixo-vos uma foto que capta tão bem o amor que sentem um pelo outro.
O amor entre os dois é cada vez mais visível e não para de me surpreender. Já não passam um sem o outro. No outro dia fomos fazer uns exames e claro que teve que ser um de cada vez. Cada vez que fechávamos a porta desatavam a chorar e a chamar pelo mano. Foi muito difícil conseguir que parassem de chorar para fazer o exame.
De manhã levo os dois pela mão, a avó vem ao nosso encontro, pega num e começa a subir as escadas. Eu levo começo a subir as escadas com o outro e ele não tiram os olhos um do outro. O primeiro a chegar ao quarto andar fica no patamar das escadas à espera do irmão e só entram em cada os dois juntos.
Também noto que se ajudam muito mutuamente. Ainda ontem o Santiago pediu-me a chucha. Eu disse-lhe que não porque já tinha uma na boca mas ele continuou a insistir. Acabei por lha dar e fui atrás para ver o que ia fazer com ela. Foi a correr até ao quarto e colocou-a na boca do irmão.
A ajuda não fica por aqui, já vi um dar a mão ao outro para o ajudar a subir algo. Já vi um a empurrar o outro com a mesma finalidade. Já os vi partilhar comer e até darem comer há boca um do outro.
Adora também brincar um com o outro. Passam horas a fugir um do outro e a rirem-se às gargalhadas. Principalmente ao inicio da noite. Dou-lhes a chucha para começarem a amolecer mas ultimamente a coisa têm resultado no oposto. Um esconde a própria chucha e depois vai roubar a do irmão. Aparece na sala a correr perseguido pelo irmão. O que têm a chucha corre às gargalhadas até o irmão o apanhar e lhe roubar a dita. É a vez do segundo colocar a chucha e fugir. O outro corre atrás dele até o apanhar. Adoro estar no sofá a vê-los e ouvi-los nesta brincadeira. As gargalhadas deles são contagiantes e eu não consigo deixar de sorrir.
Claro que também há dias em que estão para implicar. Por enquanto são raros mas às vezes batem-se e empurram-se o que é perfeitamente normal. Felizmente 90% do tempo dão-se bem um com o outro o que eu agradeço. Só não agradeço o facto de se ajudarem e encobrirem nos disparates. Por vezes penso que se já são capazes de colaborar tão bem para a sacanice nem quero imaginar como será daqui por uns anos