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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Só eu.

Fui às compras e comprei uma tablete de chocolate daquela óptimas com amêndoas inteiras. Cheguei a casa a salivar pelo chocolate e depois do jantar levei a tablete comigo para o sofá.

Ofereci ao marido que me disse que não queria e eu pensei que assim ficava mais para mim. Parti um pedaço e coloquei na boca. Comecei a saborear aquele chocolate a derreter na boca. Senti uma  amêndoa na boca e mastiguei-a. Assim que lhe dei a primeira dentada percebi que tinha cometido um horrível engano. Estava a morder uma avelã e não uma amêndoa. Corri a cuspir o chocolate enquanto sentia uma imensa comichão na língua. Fiquei desconsolada porque não só não pode comer o chocolate como ainda tive que avisar o marido que tinha que estar atento não fosse dar-me a travadinha.

Fica a lição de para a próxima olhar com olhos de ver antes de pegar as coisas no supermercado.

 

Viver perigosamente

Uma mãe de família têm que ter alguma animação na vida. Ontem provei um magnum de manteiga de amendoim e passei a tarde toda com a garganta esquisita. Parecia que a garganta estava apertada e não deixava passar o ar. Presumo que terá resultado do facto de ser alérgica ao amendoim.

Hoje foi um almoço no chinês. Bom? Claro que sim mas não para quem tem alergia à soja. Claro que com a minha cabeça de alho xoxo me esqueci dos comprimidos. Já disse as colegas para irem olhando para mim e gritarem caso me vejam a inchar. De qualquer forma não à crise, o hospital é mesmo aqui ao lado

Mas afinal és alérgica ao quê?

Ei uma pergunta que oiço muitas vezes. A verdade é que era mais fácil perguntar ao que é que não sou alérgica.Ora vamos lá começar, tentem acompanhar-me.

Sou terrivelmente alérgica ao pela dos gato. Sou tão alérgica que a médica me disse para fugir dos gatos porque eles podem matar-me. Basicamente começo a deixar de conseguir respirar, parece que tenho os pulmões cheios de pó e o ar não entra, também fico cheia de comichão nos olhos. Para além disso notei que a minha pele faz reacção ao pelo do cão. Fico com a pele cheia de babas e comichão no sitio onde teve contacto com o pelo.

Tenho alergias cutâneas. Não consigo cortar muito tomate porque as mãos começam a arder. Se estou a descascar e cortar vegetais para a sopa começo a ficar com as mãos encarnadas e fico cheia de comichão entre os dedos. No nível das alergias cutâneas descobri também, da pior maneira, que não posso usar aquelas bandas de cera da Veet. Comprei uma vez e comecei a fazer a depilação. Estava a ler as instruções enquanto ia avançando com aquilo. Acabo por ver um alerta na caixa que dizia que deveríamos experimentar primeiro num pequeno local para ver se não ocorriam alergias. Resolvi então deixar a perna meia depilada e continuar no dia seguinte só para ter a certeza. A meio da noite comecei com uma comichão desgraçada, nem conseguem imaginar com é que ficou a minha perna. Ao andar estava constantemente a parar para me coçar e cheguei a fazer feridas de tanto coçar.

Quando penso estas alergias já vêm desde muito nova. Lembro-me da minha mãe ralhar comigo porque eu parava no meio da estada para me coçar. Lembro-me da avó me dar banho com um chá qualquer que supostamente tirava a comichão.

Mais tarde tive o meu primeiro verdadeiro ataque num casamento de um familiar. Cheguei ao pé dos meus pais a dizer que estava a ferver e cheia de comichão. Eles olharam para mim e voamos para o hospital. Acabei a noite a levar uma injecções, os médicos presumiram que deveria ser uma alergia alimentar.

Acabei por fazer testes aos alimentos em jovem, que me deram imensos positivos. Repeti os  recentemente e a lista ainda ficou maior. Tenho alergia à soja, à avelã, ao amendoim, ao tomate, aos orégãos, ao trigo. Não posso comer fruta com casaca porque sou alérgica ao pólen.

Sim porque eu nem respirar livremente posso. Tenho alergias ao pó, ao pólen, as árvores e à relva. Na consulta a doutora mostrava-me folhas enquanto me dizia que tinha que fugir daquelas arvores. Como é que querem que eu fuja, muitas vezes nem damos por elas misturadas nas outras. E verdade seja dita já nem me lembro de quais são. Estou proibida de fazer exercício físico ao ar livre. Com doze anos ia morrendo de choque anafilático durante uma caminhada. Primeiro comecei com um formigueiro nas mãos e sentia os lhos esquisitos. Quando mencionei os sintomas ao meu colega ele olhou para mim e ficou em pânico. Disse-me calmamente que eu estava toda inchada e que tínhamos que acelerar para chegar a casa. Eu ia tentando andar mas cada vez sentia mais falta de ar. Ele acabou por deixar-me e foi a correr buscar os meus pais. Só me lembro de ver a fonte de água gelada da serra da estrela e sentir que precisava molhar-me. Meti a cabeça lá de baixo e senti o corpo a ceder. O pai teve que me levar ao colo até casa onde dei em vomitar nem sei bem o quê. Quando fomos ao hospital o médico disse-me que a minha reacção de me molhar com a  água gelada provocou um choque térmico e provavelmente foi o que me salvou a vida.

Depois disso já tive muitos mais episódios se bem que nenhum assim tão grave. Comecei a andar medicada, bem que só os tomo em SOS. Passei a ter mais cuidado. Não deixei de comer certas coisas porque as tolero minimamente. Continuo a comer tomate, pão e amendoins. Se bem que nunca sei se vou ou não tolerar. À uns tempos atrás comi um amendoim em casa da cunhada e assim que o coloquei na boca senti que algo tinha corrido mal. O raio do amendoim era tão bravo que fiquei com o lábio todo inchado na zona em que este tocou. Fui motivo de risota a noite toda porque parecia que tinha aplicado botox em metade do lábio inferior.

Isto de se viver com alergias é tremendamente chato. Por ai há alguém que sofra tanto como eu?