Sou uma doente terrível
Isto de estar em casa não é mesmo para mim. Os dias parecem que não passam. Ligo a televisão e não dá nada de jeito. Pego num livro mas começo a ficar com sono. Tento dormir para ver se as horas passam mas não consigo. Torno a ler mais um pouco mas depressa me aborreço. Volto a tentar encontrar algo de jeito na televisão mas nada. Vou para o quintal e tento ler numa espreguiçadeira. Começo a ficar cansada da posição e acabo por voltar para dentro. As horas não passam nem por nada.
Começo a moer a cabeça com a roupa que estar por lavar ou passar. Olho para o chão e penso que poderia ser aspirado. Olho para as janelas e tenho vontade de as lavar. Tanta coisa para fazer, tanta coisa para fazer o tempo passar e eu sem as poder fazer. O mau humor vai crescendo com o passar das horas. Sinto falta de companhia. Muitas são as conversas que vou tendo por telefone mas não é a mesma coisa. Sinto falta de um contacto visual, de ver as expressões de outro interveniente na conversa.
Ao fim do dia quando o marido e os rapazes regressam a casa eu estou chata. Sei ver que não deveria estar assim mas a verdade é que não consigo estar de outra forma. Só consigo reclamar. Reclamo do que não fazem. Reclamo do que fazem porque não está da forma como costumo fazer. Ultimamente parece que só sei reclamar e nem eu me reconheço. Preciso desesperadamente sair de casa, fazer algo. Preciso sentir-me útil.
São só mais uns dias, é o que repito a mim própria vezes sem conta. São só mais uns dias.