Só quero proteger a infância deles
Não tenho sido muito honesta com os meus filhos. Nunca lhes menti mas, nestes últimos tempos, tenho omitido a verdade.
As notícias são vistas quando eles estão entretidos no piso de cima. As conversas sobre o tema são tidas sorrateiramente. Quando entram em cena o tema é contornado e retomado um pouco mais tarde.
Não sei se estamos a fazer bem ou mal. Não sei se deveríamos ser sinceros e explicar tudo o que se está a passar? Como explicar algo que nem nós adultos percebemos? Pensar que afinal não estamos tão avançados como pensávamos. Que o número de mortos não pára de subir. Um amontoado de caixões, pessoas impedidas de dizer um último adeus, pessoas impedidas de apoiar pessoas chegadas neste momento de dor.
Não me sinto preparada para expor os meus filhos a esta realidade. Não quero que se deitem à noite com medo. Nem que passem os dias preocupados. Não quero que esta pandemia lhes roube a infância.
Todos assistimos a criança que foram obrigadas a crescer cedo demais. Fome, guerra, órfãos... Todas elas não devidamente protegidas.
Não quero isso para os meus filhos. Posso estar a agir mal, mas neste momento não lhes quero transmitir medo.
Por isso mantemos a calma e vivemos a situação com a maior normalidade possível. Sabem que existe uma doença e que não podemos sair de casa. Que não sabemos quando vamos voltar à escola ou a abraçar os avós.
Não fazem perguntas o que nos ajuda a manter a informação sonegada. Neste momento estão mais concentrados em aproveitar ter a família reunida durante tanto tempo.