Nem tudo é mau
Muito me tenho queixado sobre esta estadia forçada em casa mas a verdade é que nem tudo tem sido mau. Já fez um ano que estamos nesta zona mas, entre miúdos, escolas, actividades, reuniões, trabalho, doenças e outras coisas, não conheço muita coisa.
Estes dias em casa fizeram com que perceba quantos padeiros e a que horas passam aqui na rua. Adoro a forma como não se trancam os portões pelo que o padeiro entra na propriedade e deixa o pão pendurado na porta, ainda não percebi como fazem contas. Gosto da calma e da segurança da zona. Da forma como as pessoas deixam grelhadores e mesas nos relvados aqui da zona, assim como estendais de pé cheios de roupa.
Conheci mais vizinhos neste dias no que num ano inteiro. Descobri que a maioria já são avós mas extremamente simpáticos, já perdi conta ás ofertas que recebi para tomarem conta dos meninos caso precise de alguma coisa. A grande maioria tem a casa cheia de netos de manhã e à tarde e gostam de ter amigos para os netos.
Aprendi também que a vida no campo não é só monotonia. Ainda um dia destes tivemos a rua invadida por cinco ovelhas que fugiram de uma quinta qualquer. Era vê-las correr extremamente alegres pela rua fora saboreando a liberdade. Era ver os carros atrapalhados perante a estrada ocupada com os animais. Era ver pessoas a tentar direccionar as ovelhas para uma zona onde não corressem perigo. Achei a situação muito caricata mas uma vizinha disse-me que já tinha visto pior. Um dia abriu a porta de casa e tinha uma cabra dentro da sua propriedade. Ainda hoje está para saber como é que a cabra lá tinha ido parar uma vez que os seus gradeamentos tem mais de um metro e sessenta.
A cada dia que passa gosto mais desta área e cada vez mais me sinto em casa. Durante uns tempos lutei com um sentimento que esta não era a minha casa.Tudo era estranho após catorze anos no mesmo apartamento. Aos poucos o sentimento foi mudando e agora já quase nem me lembro como era viver antes.