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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Esta não sou eu!

Não me reconheço, não sou a mesma pessoa. Olho-me no espelho e vejo o mesmo reflexo que vejo à anos mas algo está diferente, não sei bem porque nem como. Sei que me estou a transformar numa pessoa que não quero ser e não sei o que fazer.

Sinto que estou a falhar, a falhar como mãe, como esposa, como amiga, como filha, como trabalhadora. Tenho mil e um papeis mas já não os consigo representar todos ao mesmo tempo. Dou por mim a pensar ligar a uma amiga mas entretanto aparece qualquer coisa para fazer e o telefonema fica por fazer. Isto repete-se ao longo de dias e depressa percebo que já não falamos à meses.

Chego a casa e começo a fazer mil e uma coisas, não tenho tempo para nada. As conversas com o marido ficam sempre por terminar pois há sempre um banho para dar, uma fralda para mudar, uma criança que tem algo para contar e de repente perguntamos um ao outro sobre o que estávamos a falar. Claro que já nenhum dos dois se lembra. Por vezes pensamos que conversamos sobre assuntos quando afinal não o fizemos, mentalmente tomamos nota para o fazer mas não se concretizou e depois questionamos não te contei?Esqueci-me.

Ontem tentamos fazer um jogo com os mais velhos, já andavam a pedir à semanas, começamos o jogo e os mais novos começaram a chorar, ora o jogo foi jogado em tempo recorde mais parecia que estávamos a correr os 100 metros. Vá Guilherme és tu a rodar, vá despacha-te a desenhar, eu faço que sou mais rápida...

Não é este o tipo de mãe que eu quero ser. Sei que não é esse o tipo de pai que o Rodrigo quer ser. Mas apesar de muito esforço estamos neste impasse. Tornei-me numa mãe que não tem tempo para ouvir os filhos, por vezes um dos mais velhos vem contar-me qualquer coisa, eu digo-lhe agora não dá tens que te vestir contas depois. E a história fica por contar. Prometemos coisas, esquecemos-nos e depois ouvimos reclamações do género mas tu prometes-te. Já disse ao marido para ter cuidado com o que promete, eu agora passei a dizer vou ver se dá ou vou tentar.

Tornei-me numa mãe que se esquece de assinar os recados da escola, que se esquece de enviar as coisas que lhe são pedidas.Tornei-me no tipo de mãe que liga à professora a perguntar se não podemos entregar o trabalho na semana seguinte. Eu que sempre fui tão rígida com prazos e horários. Não é esta a conduta que quero passar para os meus filhos, como posso exigir que façam as coisas a tempo e horas quando eu não as faço. Quando há passeios  ou outras coisas deixo os papeis no tablier do carro para me recordar. Tenho que colocar lembretes no telemóvel para me lembrar de fazer as coisas.

Ainda ontem por volta das 10:30H ligaram-me porque tinha uma consulta de medicina no trabalho às 10H e não apareci. O mais engraçado é que eu confirmei que podia, na sexta-feira avisei as colegas que chegava mais tarde pois primeiro ia fazer a consulta e depois esqueci-me, mas esqueci-me completamente. Por sorte ainda deu para  dar lá um pulo a correr e fazer a consulta.

Passo a vida a dizer que é só uma fase. Tento mentalizar-me que vai passar em breve mas a verdade é que não acredito. Os gémeos cada vez estão mais mexidos pelo que nos consomem cada vez mais tempo .Abrem as gavetas todas, rastejam para todo o lado, mexem em tudo o que apanham. Em Setembro passamos a ter duas crianças na escola primária, vamos ter trabalhos, estudos e testes a dobrar. Para alem disso estou quase a ter que trabalhar a tempo inteiro, são menos três horas diárias disponíveis.

Já estou com medo só de pensar. Mas não vou ficar de braços cruzados a ver a minha vida fugir do controlo. Vou continuar a tentar melhorar, vou continuar-me a esforçar para ser a pessoa que quero ser. E não vou desistir enquanto não conseguir.