Enfiei-me num buraco escuro e agora estou a tentar sair dele
Tudo começou quando fui à Alemanha e o marido teve que levar o Guilherme à consulta de desenvolvimento. Ainda não tinha entrado no voo já o marido me dizia que a médica tinha passado um medicamento para ele experimentar. Eu questionei imediatamente se o dito medicamento era Ritalina porque a minha resposta continuava a ser não. Na receita apenas vinha mencionado o composto químico pelo que o marido não me soube negar ou confirmar. Acordamos que quando eu voltasse da viagem iríamos conversar e analisar o que fazer.
Claro que não consegui esquecer o assunto e foi mais uma preocupação durante os dias que estive fora. Assim que voltei a casa quis ver a receita e o marido confirmou que já tinha visto e era de facto a Ritalina. Eu disse logo imediatamente que não. Que a minha ideia não tinha mudado e que nunca o meu filho ia tomar tal substância. O marido apenas me disse para falar com o Guilherme antes de tomar uma decisão.
Sentei-me a conversar com o rapaz e fiquei de coração nas mãos. Percebi que o meu filho se sente diferente dos outro e que isso o entristece. Disse-me que o seu cérebro tem vida própria, que ele quer estar com atenção mas a sua cabeça não para. Vi nele uma tristeza total por se esforçar mais que todos os seus colegas sem qualquer resultado. Pediu-me para o deixar tomar a medicação talvez iludido que um simples comprimido o fará ser uma pessoa nova.
Eu sai do quarto arrasada porque nunca tinha percebido o quanto ele se sentia impotente. O marido explicou-me que a médica lhe tinha dito que se ele sem ajuda conseguia ter umas notas assim assim, com alguma ajuda poderia ser muito melhor. Que a médica lhe perguntou se já tínhamos pensado que na nossa aversão à medicação poderíamos estar a privar o nosso filho de uma vida melhor.
Ouvir tudo isto foi pior do que levar uma tareia. De repente deixei de acreditar nas minhas crenças e passei a duvidar tudo.
É verdade que não preciso que o meu filho tenha notas óptimas mas nunca tinha pensado no que ele precisa. Não quero de forma alguma que um dia mais tarde pense que poderia ter entrado para a faculdade mas como os pais lhe recusaram a medicação não teve notas para tal. Não quero que sinta que nós nunca o apoiamos. Não quero cavar um fosso entre nós.
Bem sei que é demasiado novo para saber o que quer mas tem que ter alguma opinião na sua própria vida. Já lá vai o tempo em que tal não acontecia.
Como já disse senti-me triste e encurralada. Senti-me entre a espada e a parede sem saber que decisão deveríamos tomar. Sempre quis o melhor para o meus filhos mas e se o que eu pensava ser o melhor afinal era o pior? Passei noites em claro na esperança de saber o que decidir. Por fim fui à farmácia e aviei a receita.
Depois de aviado o remédio teve dias em casa por abrir. Cada vez que olhava para ele não conseguia perceber se estava a envenenar ou a ajudar o meu filho. Li as contra indicações com as lágrimas a correr pela cara. Cada uma pior que a outra e o meu coração de mãe apertadinho. Por fim dei-lhe o primeiro comprimido e passei o dia numa ânsia a questionar-me se estaria bem. Dei-lhe o segundo e ele continuou igual. O terceiro, o quarto e entramos na rotina.
Nada disso significa que estou confiante na decisão que tomei. Nada disso significa que não me continue a questionar todos os dias. Esta decisão mexeu muito comigo. Fiquei deprimida, revoltada, zangada com o mundo. Tudo o que eu sempre quis é que os meus filhos sejam felizes, nunca ninguém me disse que seria tão difícil chegar a essa felicidade. Vivia iludida que o amor resolvia tudo mas afinal não chega.
Durante os últimos meses estive apática sem vontade de nada. Até escrever no blog se mostrou um sacrifício. Tudo o que queria era ficar quieta até a dor passar. Enfiei-me num buraco e não está fácil sair dele. Aos poucos vou conseguindo deixar a tristeza para trás. O rapaz continua a tomar a medicação e não noto diferença nenhuma. Decidimos continuar com a medicação até ao final do período, depois vamos analisar os resultados e decidir se paramos ou continuamos no próximo. Vamos debater e discutir em família porque afinal é uma decisão que nos afecta a todos.
Eu cá vou continuando a tentar deixar para trás esta sensação de ter falhado como mãe.