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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Dois anos

Faz hoje dois anos que os gémeos nasceram. Adorava contar-vos uma história linda e maravilhosa mas a verdade é que não foi. A verdade é que foi um dia assustador. Tudo começou de manhã quando fui fazer uma eco e os médicos perceberam que os meninos estavam em perigo. Perguntaram-me se estava pronta para conhecer os meus filhos e o meu coração despedaçou-se. Sim, fiquei de coração partido, tive medo que fosse a decisão errada. Tive medo de os perder. Fiquei triste porque senti que tinha falhado para com eles, no fundo sempre pensei que conseguiria levar a gravidez mais avante. Vi-me ali sozinha, sim estava acompanhada pelos médicos mas estava sozinha, enquanto decidiam o futuro dos meus filhos. 

As coisas desenrolaram-se muito rapidamente, só tive tempo de ligar ao marido e a mãe a avisar e os telefonemas duraram menos de um minuto cada. Levaram-me o bloco de partos e eu não conseguia deixar de pesar se estaria a fazer a coisa certa. O marido  chegou pouco depois e encontro-me muito tranquila e animada. Como sabia que ele ficaria de aterrorizado se me visse apavorada enchi-me de forças e fingi que estava tranquila. 

Passado uma hora ele aproveitou a mudança de turno e saiu para comer alguma coisa. As contracções começaram em força e ele já nem conseguiu voltar a entrar. Tiveram que chamar todos os médicos que estavam na mudança de turno. Os médicos do bloco de partos e os da neonatologia correram até mim a tempo de ver o Santiago cair para cima da cama. Eu só o consegui ver de relance enquanto pegavam nele e saiam da sala apressadamente. Nem me pude preocupar com ele porque tinham que tirar o Salvador. Passados catorze minutos nasceu ele e também só o pude ver à fugida nas mãos da médica enquanto o embrulhavam e levavam. Fiquei ali na sala a sentir-me vazia. Já não tinha os meus pequenos dentro de mim mas também não os tinha nos meus braços. Não pude pegar neles nem sentir o seu cheiro. Não pude contar todos os seus dedinhos nem senti-los mamar no meu peito. 

Um pouco mais tarde veio uma médica explicar-nos que de momento estava tudo bem com os meninos mas que a batalha ainda não tinha terminado.

Só os consegui ver no dia seguinte e fiquei assustadas com aqueles seres tão pequenos. O medo fez com que o meu coração se contraísse. Tive medo de os amar, aliás toda a gravidez lutei contra o amor que sentia por eles. O que aconteceria se eles não sobrevivessem? Como conseguiria eu lidar com isso? Se sobrevivesse um como seria possível olhar para ele sem chorar o outro? Mais tarde o Santiago desenvolveu uma infecção, foi ligado ao ventilador e eu percebi que não adiantava lutar contra o amor porque ele já se tinha mudado de malas e bagagem para o meu coração.

Tivemos que lidar com o medo mas a verdade é que quem é progenitor lida com o medo todos os dias.