Depois do primeiro dia de aulas
Ainda não havia adormecido à muito quando ouvi um grito. Ensonada tentei perceber se era real ou parte de um sonho. Surgiu um novo grito desta vez acompanhado de um choro intenso. Corri para o quarto dos rapazes. Aproximei-me da cama do Santiago que se atirou para o meu pescoço. Apertou-me tanto que até fiquei sem ar. Sussurrei-lhe ao ouvido, mesmo que quisesse falar um pouco mais alto não tinha fôlego para tal, que tinha sido apenas um sonho mau. Beijei-lhe as faces molhadas enquanto lhe dizia que eu estava ali para ele.
Por fim acalmou um pouco e aliviou a força do aperto. Deitei-me ao pé dele e questionei se queria contar o sonho. Disse-me que não se recordava e eu expliquei que é normal que isso aconteça. Acabou por adormecer agarrado a mim, quando caiu num sono profundo rebolou para o outro lado da cama e eu aproveitei para voltar ao meu quarto.
Dormi pouco tempo na minha cama porque ele voltou a chorar e chamar por mim. Entre soluços disse que não me queria perder. Eu tratei de o tranquilizar garantindo que nunca me iria perder. Mal ele sabe que o amor de mãe é de tal forma poderoso que não existe força no mundo suficiente para me afastar deles. Mesmo quando não estamos fisicamente juntos parte do meu espírito está com eles.
O resto da noite foi passada quase em claro com ele sempre agarrado a mim. Se inconscientemente se afastava logo acordava em sobressalto com as mãos à minha procura.
De manhã acordou ensonado mas com muita vontade de ir para a escola. Eu acenei um adeus pelas grades e fiquei a pensar que nunca ele havia tido um pesadelo. Será que o facto de o primeiro ter surgido no primeiro dia de aulas é pura coincidência?