Conversas de cabeceira
Pensava que já tínhamos ultrapassado esta fase mas ultimamente quando vou deitar os mais velhos oiço sempre:
-Mãe podes dormir comigo?
Fico com o coração nas mãos porque não quero de maneira nenhuma que se sintam postos de parte. Então, algumas vezes acedo, só algumas para não se habituarem. A semana passada deitei-me ao pé do Leonardo, o Gui queria deitar-se também mas é impossível três pessoas dividirem uma cama de solteiro.Ficou a promessa que noutro dia dormiria com ele. Deitei-me ao pé do Leonardo e conversámos um pouco, foi bom falar com ele sem ter que estar, constantemente, a correr atrás dos gémeos. No fundo tivemos 15 ou 20 minutos só para nós o que é raríssimo. Disse-me muitas vezes que me amava e recebi uns abraços apertados, que me souberam tão bem. Depois escapuli-me assim que ele adormeceu.
Esta sexta-feira foi a vez do Guilherme. Trepei a escada para a cama dele deitei-me ao seu lado. Fartei-me de rir com a conversa dele. Começou a dizer que quando era pequeno nós lhe batíamos. Eu sorri e perguntei-lhe:
- Quando?
- Acho que era quando eu era pequeno depois nunca mais bateram.
-Achas ou tens a certeza?
-Quando era pequenino.
-Ai sim, e batíamos-te com força? - questionei a sorrir.
-Era com um bocadinho de força.
-Mas quando? O Leonardo já tinha nascido?
-Não me lembro.
Eu perguntei-lhe se se lembrava de nós lhe termos batido e respondeu que não. Percebi então que, ele pensava que lhe batíamos em bebé quando fazia asneiras. Expliquei-lhe que ele era um anjo de menino e que nunca precisou de levar uma palmada que fosse.
O que de facto é verdade. A avó conseguiu cria-lo com os bibelôs todos à vista porque ele não mexia em nada. Quando veio o Leonardo já teve que esconder tudo e agora os gémeos até lhe arracam as prateleiras do móveis se ela deixar.
Fiquei a rir-me da conversa e ele acabou por adormecer. Fiz uma grande ginástica mas consegui descer da cama as escuras sem partir nenhuma perna.
Ainda hoje não consigo deixar de pensar na conversa que tivemos, a nossa mente prega-nos cada partida. Ele estava convencido do que estava a dizer e só quando o questionei é que começou a perceber que era tudo fruto da imaginação dele.
Já não sei o que é melhor. Se andar sempre a falar da morte ou se andar a dizer que nós lhe batíamos.