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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Assim se passaram seis meses

Acabei de chegar à conclusão que faz hoje seis meses que o país parou. É fácil de recordar a data porque na sexta-feira 13 de Março fizemos a escritura da nossa ruína no interior. Nesse dia o governo esteve reunido e ao fim da tarde ouvimos as noticias de que as escolas não voltariam a abrir na segunda seguinte. Seguiram-se dias de incerteza em que a maioria de nós se isolou em casa à espera que tudo acabasse rápido. Passaram seis meses e ainda não vemos uma resolução no horizonte. 

Aprendemos a conviver com este vírus. A tomar medidas de precaução. A ser cautelosos. Acompanhamos os números desta pandemia que sobem ou descem igual a um ioiô sabendo que a única coisa a fazer é esperar.

Percebi também que estou à seis meses sempre com os meus filhos. Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Tivemos alguns meses de aulas online que quase nos tiraram o sono devido à falta de experiência de ambas as partes. Tivemos férias na praia, com um areal quase só para nós. Dias quentes e grandes que foram aproveitados ao máximo a tentar esquecer os problemas dum mundo. Miúdos com peles douradas a saber a sal e de sorrisos no rosto. Eles adoraram tanto que suplicaram para não sair de lá. A única coisa que os fez mudar de ideias foi a aldeia. E foi para lá que rumamos assim que possível.

Muito diferente da praia mas igualmente uma fonte de sorrisos. Banhos e banhos de rio. Uma variedade imensa de praias fluviais. Piqueniques à sombra de pinheiros entre mergulhos nas águas. Passeamos em aldeias, conhecemos paisagens. Visitamos parentes. Vimos águias, corvos e muitos outros tipos de pássaros. Vimos sapos, lesmas, cobras, lagartos, gafanhotos... Nadamos com cobras de água e sentimos os peixes do rio irem contra a nossa pele. 

Tivemos quedas...muitas quedas. Derramaram muitas lágrimas sobre joelhos esfolados mas apenas por breves segundos. Logo, logo já corriam desalmadamente. Quanto mais olhava para eles mais via neles o que sempre quis ver. Aquele espírito aventureiro de explorar um pouco mais. De experimentar saltar quatro degraus com sucesso e logo tentar com cinco. O levantar e tentar de novo após uma queda. O ignorar a dor e continuar a tentar.

Seis meses se passaram. Se no inicio me perguntassem se seria capaz teria respondido que não. Nunca pensei que o conseguisse sem uma pausa dos seus pedidos constantes. Jurei que ficaria louca ao fim de uns meses após ouvir dez mil vezes a palavra mãe. 

Afinal acabou por passar muito melhor do que seria de esperar. Não foi tudo maravilhoso, claro que não. Foram inúmeras vezes que lhes disse que não suportava mais ouvir chamarem por mãe, passaram a chamar-me Catarina, algumas vezes, para desenjoar. Gritei com eles muitas vezes. Principalmente quando a euforia era tal que simplesmente não ouviam nada. 

No entanto se me pedirem para fazer um balanço diria que oitenta porcento do tempo foi gratificante. Os rapazes tornaram-se mais próximos. Os mais velhos sempre preocupados em proteger os mais novos. Os pequenos sempre a querer imitar as pegadas dos maiores. 

Agora olhamos para o futuro com algum receio. Embora todos tenhamos vontade de abrir as assas e voar é difícil deixar a segurança do ninho. Eu gostaria de poder proteger sempre os meus filhos mas sei que não os posso manter debaixo das minhas assas para sempre. É tempo de os ajudar a enfrentar esta nova realidade que vivemos. É tempo de os ensinar a viver.

Resta dizer que tenho a certeza que o verão de 2020 será sempre recordado como o verão das nossas vidas

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