Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Não tenho sido muito honesta com os meus filhos. Nunca lhes menti mas, nestes últimos tempos, tenho omitido a verdade.
As notícias são vistas quando eles estão entretidos no piso de cima. As conversas sobre o tema são tidas sorrateiramente. Quando entram em cena o tema é contornado e retomado um pouco mais tarde.
Não sei se estamos a fazer bem ou mal. Não sei se deveríamos ser sinceros e explicar tudo o que se está a passar? Como explicar algo que nem nós adultos percebemos? Pensar que afinal não estamos tão avançados como pensávamos. Que o número de mortos não pára de subir. Um amontoado de caixões, pessoas impedidas de dizer um último adeus, pessoas impedidas de apoiar pessoas chegadas neste momento de dor.
Não me sinto preparada para expor os meus filhos a esta realidade. Não quero que se deitem à noite com medo. Nem que passem os dias preocupados. Não quero que esta pandemia lhes roube a infância.
Todos assistimos a criança que foram obrigadas a crescer cedo demais. Fome, guerra, órfãos... Todas elas não devidamente protegidas.
Não quero isso para os meus filhos. Posso estar a agir mal, mas neste momento não lhes quero transmitir medo.
Por isso mantemos a calma e vivemos a situação com a maior normalidade possível. Sabem que existe uma doença e que não podemos sair de casa. Que não sabemos quando vamos voltar à escola ou a abraçar os avós.
Não fazem perguntas o que nos ajuda a manter a informação sonegada. Neste momento estão mais concentrados em aproveitar ter a família reunida durante tanto tempo.
O destino era uma festa de aniversário de um colega de escola. Os gémeos seguiam no banco de trás a conversar. O volume da conversa começou a subir. Eu tentava seguir o GPS para não me perder no meio dos montes e ao mesmo tempo perceber a conversa.
Pelo que entendi estavam basicamente a dizer a mesma coisa mas de forma diferente. Nenhum entendia o que o outro explicava.
- Mano não é nada assim!
- É sim.
- NÃO!!!!
- SIIIM!!!
- NÃO, NÃO!
- SIM.
-Meninos já chega.
- Um dia vamos ter que resolver estas nossas diferenças.- diz o Salvador para o irmão com o ar mais sério do mundo
- É que sabes nos outros anos os meus amigos não gostavam nada de raparigas. Mas este ano estão diferentes. Votem em raparigas para certas tarefas e não é porque são responsáveis . Não achas que deveríamos escolher a pessoa mais indicada.
- Filho para eles pode ser a pessoa mais indicada.
- Não, não é. Eles só escolhem as que dizem serem as mais bonitas.
- Está a chegar a fase de começar a gostar das raparigas. É normal. Significa que estão a crescer.
- Eu não vou passar por essa fase. Vou ser sempre justo nos meus votos e escolhas.
Mais um ano e logo vemos se também não é atingido pela febre do sexo oposto 😁