Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Estaria a mentir se vos disser que este tem sido um ano fácil. Todo o stress associado a esta situação de pandemia, aulas ora em casa ora na escola. Todas as medidas de segurança e restrições de movimentação. A espera pelas vacinas...
Juntando a isto muitas semanas sozinha com os miúdos. O marido não tem parado. Ou tem que assegurar o trabalho de alguém da sua equipa que vai de férias ou está semanas a trabalhar nas obras da nossa ruína.
Eu vou tentando ser pai e mãe nestas semanas em que quase não o vemos.
Ele anda de rastos e eu sinto que estou presa por um fio. O cansaço começa a tomar conta de nós. Eu ando sem paciência, rabugenta e ansiosa. Conto os dias para a escola acabar e poder abrandar os horários, talvez respirar um pouco.
No entanto, apesar de todo o panorama existem coisas que nos dão ânimo. Este fim de semana rumamos os dois à nossa casinha. Trabalhamos sábado e domingo intensamente mas os resultados visível fizeram crescer um orgulho em nós. Poder dizer que fui em que fiz esta parede, que coloquei todas as tomadas e interruptores. Que instalei a sanita, o lavatório, a cabine de duche, etc.
A meta está quase à vista, só temos que aguentar mais umas semanas e talvez tenhamos uma casinha para as nossas próximas férias.
O ano passado recebi a pausa, que o desemprego me deu, com agrado. Prometi a mim mesma que depois disso tudo seria diferente. Que iria aproveitar a vida. Viver sem pressa.
Prometi tratar melhor do meu corpo, estar mais atenta aos sinais de cansaço extremo que tantas vezes ignorava. Inocentemente pensei que seria capaz de viver sem alvoroço, sem correria, sem stress.
Que ilusão!
Devo dizer que até consegui durante uns tempos, mas não durou muito. Quando dei por mim já estava com uma agenda mais preenchida que antes. Numa correria desenfreada tentando me desdobrar em duas. É difícil não cair em velhos hábitos.
No entanto, continuo a tentar fazer melhor todos os dias. Dei um passo atrás e estou a fazer por levar as coisas com mais calma. Não prometo conseguir mas estou comprometida em tentar.
Não é por acaso que o ano escolar costuma acabar nesta altura. Vejo os meus filhos cansados desta rotina. Os dias enormes convidam a atrasar a hora de dormir. As noites quentes fazem com que só se durma bem sobre a manhã quando se sente o fresco da madrugada.
É difícil acordar a horas depois é difícil estar dentro de salas que mais parecem fornos. Estão saturados da aprendizagem constante, dos testes, dos trabalhos, do estudo. Precisam descansar, relaxar. Não ter horário para deitar e muito menos para levar. Precisam de dias de praia, de banhos de rio. De noites a jogar às cartas ou a conversar.
Mal posso esperar para a escola terminar este ano. Foi difícil, desafiante e por vezes aterrorizante.
Espero que o próximo seja melhor. Que pelo menos seja normal porque todos precisamos de normalidade na nossas vidas.
Não sei como funciona nas outras casas de família mas aqui as manhãs são sempre uma correria. Tenho que despachar os quatro rapazes sozinha. Preparar lancheiras, garantir que se vestem, tomam o pequeno almoço, que escovam os dentes e estão prontos a sair a horas.
Vou confessar que, por vezes, nem olho bem para eles. Hoje quando o Leonardo se aproximou da janela do carro, à porta da escola, para se despedir, dei por mim a observar a t-shirt que trazia vestida. "O Leonardo vestiu a t-shirt do Guilherme" , dei por mim a pensar. Logo olhei para verificar o que o Guilherme trazia vestido, confirmando que trazia roupa apropriada à sua idade. Isto ao contrário do irmão que vestia uns calções demasiado compridos e uma t-shirt obviamente grande. Claro que naquela, altura já nada poderia fazer para remediar a situação. Tomei nota para olhar para os meus filhos com mais atenção em casa. Não prometo mas vou tentar que pelo menos levem a roupa certa😂
As obras na nossa casinha vão avançando e os rapazes nunca maus lá colocaram o pé.
Quando compramos a casa e fomos com eles ao local mostraram pouco interesse. Os mais velhos disseram prontamente que não gostavam incapazes de ver para lá do interior velho que contemplavam.
Apesar disso nós seguimos o nosso sonho com esperança que mudassem se ideia quando estivesse pronta. Afinal a mudança surgiu mais cedo do que esperávamos. Demonstram interesse pelas fotos. Falam da casa, com orgulho, aos amigos e colegas. Fazem perguntas. Mencionam que gostavam de ajudar nas obras.
Em todos estes meses nunca voltaram e quando souberam que a iriam ver este fim de semana ficaram em pulgas. Estão eufóricos, ansiosos e eléctricos. Hoje acordaram particularmente animados cheios de vontade de seguir viagem.
Eu estou imensamente feliz por ver que um sonho a dois se tornou num sonho para seis. Só espero que o resultado actual não desiluda os rapazes e que já consigam visualizar a forma final.
Hoje é dia da criança e para muitos corresponde a um dia em que recebem presentes. Os meus filhos ainda questionaram se teriam direito a alguma coisa, mas nós explicamos que este dia pode ser festejado sem presentes.
É um dia de muita brincadeira, de jogos, risos e alegria. É um dia de amor, de partilha e de companheirismo.
As escolas promovem muitas actividades para que seja um dia diferente. Aqui em casa tiveram direito a escolher o jantar. Querem hambúrgueres mas serão feitos por mim.Talvez lhes prepare uma sobremesa para surpresa mas nada mais que isso.
Cada vez mais quero transmitir que é necessário contrariar o consumismo. É um dos primeiros passos para alcançar um avanço na ecologia.