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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Uma nova semana a trabalhar no nosso sonho

O marido seguiu para mais uma semana de trabalho na nossa casinha da aldeia. Ele e os companheiros vão trabalhar o máximo de horas possíveis. Por norma, até 12 horas por dia para avançar com a obra. Estes dias são passados entre trabalho, comer e dormir. Os telefonemas são escassos e rápidos porque o cansaço aperta.

Eu seguro as pontas em casa. Nestes dias só posso contar comigo. Todos aqueles pequenos gestos que ele faz quando está em casa, que parecem banalidades, acabam por se revelar muito mais que isso. Quando ele ajuda um dos gémeos a ler porque a minha paciência para esse dia já esgotou. Quando aceita jogar uma partida de damas permitindo assim uns minutos de descanso para a minha cabeça. São tantas pequeninas coisas... Coisas que não vão acontecer nos próximos dias.

Até ele voltar vou tentar fazer o melhor que posso enquanto me preocupo pela distância que nos separa. Preocupo-me com as viagens, com as obras.

Por outro lado aguardo ansiosamente que ele regresse. Carregado de fotos e vídeos do actual. 

São semanas e semanas de sacrifício mas estamos certos que o resultado vai valer a pena. 

Só para que saibam...

Continuamos vivos. Bem sei que não tenho vindo aqui ao cantinho tanto como gostaria mas o tempo não chega para tudo. São pequenos almoços, aulas, trabalhos, almoços, mais aulas, mais trabalhos, lanches, banhos, jantares, roupas e casa.

Assim os dias estão a passar numa correria desenfreada e só dou pelo fim de semana porque o marido está em casa. 

Calculo que por aí seja igual. Por aqui agarro-me à ideia que pelo menos temos saúde que é a única coisa que faz falta.

 

Tédio

- Mãe estou aborrecido!

- Salvador tens tantos brinquedos, puzzles, jogos como podes estar aborrecido.

- Podes dizer o que posso fazer?

- Tu é que sabes. Vai desafiar os teus irmãos para brincarem.

Desapareceu e não deu sinais de vida durante bastante tempo. Mais tarde veio ter comigo e disse com ar triunfante :

- Mãe olha o que eu fiz!

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- Isso são os cintos dos roupões?

- O meu e o do Guilherme. Tive muito trabalho para fazer esta bola. É preciso enrolar, dar nó, enrolar, dar nó, muitas vezes.

- Está giro. - disse enquanto pensava a trabalheira que me iria dar a desmanchar

- Amanhã vou tentar apanhar o cinto do Santiago e do Leonardo para tornar a minha bola maior.

O que o tédio faz... 

Vida animal em directo

Entrámos na cozinha para jantar. Assim que acendi a luz os rapazes olharam para o quintal e gritaram :

- Mãe o que é que os sapos estão a fazer?

Olhei para o local que lhes prendia o olhar. 

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- Pronografia! - foi a palavra que me saiu da boca

- Ó MÃE! - exclamou o Guilherme e saiu da cozinha

- O que é pornografia? - perguntou um dos gémeos

- Mãe - sussurrou o Leonardo com um ar matreiro - eles estão a fazer...

- A fazer o quê?

-....- fechou-se na sua vergonha 

Na sala ouvi queixas. 

- Pai ouviste o que a mãe disse.

- Ouvi e depois?

- Oh, oh...

- Não disse nenhuma asneira.

- Mas...

Acabei por dizer. 

- Não percebem que o sapo filho está a andar à cavalitas do pai!

- Pois é! - gritou um dos gémeos

- O filho está a brincar com o pai!

- Vou tirar umas fotos para enviar para os meus colegas. - afirmou o Leonardo

Resta saber que legenda colocou nas fotos😂🤣

Tenho de confessar

Ontem saí de casa para despejar o lixo que nem sequer estava totalmente cheio. Disse aos miúdos que ia ao caixote do lixo e fugi porta fora.

Lá fora inspirei ar puro e senti a chuva no corpo. A rua estava deserta, o único ruído no ar era o das gotas da chuva a cair na terra, no ar predominava o cheiro a terra molhada.

Eu aproveitei todos os segundos. Segui até ao ecoponto num passo pouco apressado. Deitei a reciclagem nos contentores próprios e regressei a casa.

Enquanto me aproximava da casa ouvi o Santiago aos gritos:

- MÃEEEEE, MÃEEEEE, ONDE ESTÁS?

Suspirei e aceitei que os meus minutos de sossego tinham chegado ao fim. Abri a porta e reprendi o rapaz por estar aos gritos quando tinha informado que ia só ao caixote.

- Mas estiveste fora tanto tempo! - afirmou

Aparentemente três minutos sem a minha presença é uma eternidade. 

Antes de dormir

Gosto de ler um pouco antes de dormir. Não precisa de ser muito, basta um pequeno capítulo, meia dúzia de páginas para me ajudar a desligar das preocupações do dia a dia.

Nos últimos dias este pequeno momento deixou de ser só meu, uma vez que, o Salvador aparece sempre para se enfiar na cama, a meu lado.

Eu tento continuar a ler mas ele resolve falar igual a uma matraca, é impressionante como mesmo depois de tantos dias inteiros comigo tem sempre algo para me contar. Claro que não tenho outro remédio se não pousar o livro e ouvir tudo o que lhe vai na alma.

Não quero dizer que o faço contrariada, antes pelo contrário tenho apreciado imenso este pequeno momento a dois. É capaz de ter conversas mais fluentes que um adulto e revela uma preocupação pelo futuro que me deixa surpresa. Ontem agarrado a mim suspirou:

- Mãe se não fosses tu eu não era nada!

- Claro que não meu filho. Tu tens com coração gigante e serás sempre maravilhoso, com ou sem mim.

- Eu só sou bom porque tenho uma mãe muito boa. Se tu fosses má eu seria um menino mau.

- Tu és genuinamente bom só tens que continuar assim. 

Fiquei depois a analisar este raciocínio do rapaz. Mal ele sabe que tantos pais bons criam maus seres humanos. E que tantas lástimas de pais trazem ao mundo seres brilhantes.  A vida não é tão preto no branco como o meu Salvador pensa. Um dia vai perceber que tentamos fazer o melhor sem certezas que estamos a conseguir. 

Nervoso demais

Ontem, ao fim da tarde, o Leonardo não parava quieto. Andava constantemente a entrar e sair do quarto, a remexer nas gavetas da secretaria.

Passado um pouco veio ter connosco à sala e disse:

- Não sei o que se passa comigo.

- O que foi filho?

- Estou cheio de medo de não ter tudo pronto para amanhã. Já verifiquei e acho que coloquei todo o material das disciplinas à mão mas não consigo deixar de pensar que me falta algo. Tenho medo de não ter feito todos os trabalhos que as professoras mandaram. Aponto sempre tudo mas e se me passou algo? 

Eu e o marido trocámos olhares sem saber bem como lidar com todo este stress que o rapaz coloca sobre so próprio. 

- Leonardo vai correr tudo bem. Já te disse que se falhares um trabalho ou se te faltar um material não faz mal. És humano e todos falhamos. Tens que relaxar, ficar nervoso só te faz mal. - disse eu

- Leonardo ninguém te diz que tens de tirar 5 a tudo. Não precisas ficar assim, sabes bem que vais passar o ano sem problemas. O ano passado tiveram aulas assim e correu bem, este ano vai ser igual.- rematou o pai

O rapaz pareceu ficar mais calmo. Mas isso não o impediu de ir para a cama às 21horas, levantando-se duas vezes para ralhar com os irmãos porque queria dormir e eles estavam a fazer barulho. Hoje acordou às sete e meia ansioso porque tinha que tomar o pequeno almoço, ligar o computador e trocar de roupa. Só relaxou quando confirmou a informação que lhe passei que a primeira aula seria apenas às nove. Entretanto já perguntou como vai fazer porque a aula dos gémeos termina às onze e a dele começa a essa hora. Questionou também quem vai usar os auscultadores e quem fica com o auricular...

Espero que seja tudo nervos de primeiro dia caso contrário vamos dar em loucos com este rapaz. 

Os meus filhos crescem felizes

Apesar de tudo o que se passa lá fora os meus filhos crescem felizes. Brincam no quintal sempre que o tempo permite. Fazem desenhos a toda a hora, na verdade nas próximas compras tenho que trazer mais resmas de papel de fotocópia. Passam horas em colagem e trabalhos criativos ( o que me recorda de comprar também cola de batom porque já acabaram o stock).

Adoram fazer trabalhos que as professoras enviam, os mais velhos estão constantemente a verificar se receberam mais alguma coisa e os mais novos questionam-me porque a professora não envia mais fichas.

Travam partidas de jogos de tabuleiro, nos últimos dias estão viciados em damas. Ficam os 4 em redor da mesa, dois com a testa franzida de concentração, ou outros dois ansiosos para o jogo terminar e ser a vez deles. Os jogos são renhidos mesmo quando o de 13 e o de 6 anos se defrontam, gosto de os ver estudar o tabuleiro atentamente calculando as jogadas possíveis e os seus desfechos.

Claro que apesar disso existem alturas em que de queixam de aborrecimento, principalmente nos dias de chuva em que nem podem colocar um pé fora de casa mas o balanço é positivo. Analiso constantemente os seus rostos e vejo sorrisos, olhos felizes e um ar descontraído. Respiro de alívio porque apesar de todas as preocupações que no rodeiam não parecem afectados e isso é o mais importante. 

Fevereiro

O Fevereiro não é de todo um dos meus meses favoritos. O corpo começa a acusar cansaço do frio e dos dias pequenos. A mente suspira por uns raios de sol.

O Carnaval não é de todo uma época que me alegre. Não deliro na excitação de comprar máscaras para os meus filhos. Considero na verdade uma forma muito supérflua de gastar dinheiro. Felizmente os meus filhos também não são loucos por este feriado facultativo. Não pedem fatos, não anseiam por o dia de sair à rua disfarçados. Já diz o ditado quem sai aos seus não degenera.

Este ano juntamos um confinamento a isto tudo. As más condições climatéricas e o estar 24 sobre 24 horas fechados em casa começa a ter efeitos em nós. Dou por mim sem saber em que dia da semana, ou do mês, estamos. Os rapazes queixam-se constantemente de tédio apesar dos trabalhos, dos jogos, dos desenhos e  das actividades que vamos fazendo. Sinto a cabeça cansada de ter de pensar em refeições, actividades, gerir horários...

Olho para o calendário e anseio pela próxima semana. Penso que talvez as aulas online lhes preencham um pouco o dia tornando assim a situação mais fácil. Ou talvez não. Pode ser que a carga de trabalho seja tanta que não sejamos capazes de os ajudar a todos. 

Um dia de cada vez! Por agora vamos tentando fazer o que acreditamos ser o melhor cientes que na verdade possa não o ser. Uma incógnita constante é o que a nossa vida se tornou.