Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Luz e sombra é o tema desta semana e não podia ser mais apropriado.
Escrevo o último texto deste desafio com muito orgulho. Orgulho de termos conseguido. De termos feito textos fantásticos. Da interacção que fizemos despoletar.
Sou invadida por uma luz ao ver a meta final.
Mas a luz é logo ofuscada por uma sombra que se avista ao fundo. Uma sombra de quem pensa e agora? O que é que eu faço à sexta-feira até à próxima edição? Será que o grupo será o mesmo? Sangue novo? Seremos capazes de manter o espírito, a união, a cumplicidade.
Ontem fui com o Guilherme ao hospital para tirar os pontos. As enfermeiras foram espetaculares, aliás todo o pessoal hospital o foi. Desde o internamento às consultas temos estado rodeados de profissionais atencioso e preocupados.
O rapaz estava um pouco nervoso mas não queria deixar transparecer. Não ajudou ouvir os gritos de outra criança na sala de tratamento. Quando se deitou na marquesa estava todo contraído da ansiedade.
A enfermeira tirou o primeiro ponto e ele relaxou imediatamente. Os outros três pontos foram retirados num ambiente muito mais leve.
A médica ficou satisfeita com a cicatrização. Não pode fazer educação física até ao fim do mês. Depois recomeça tudo normalmente.
- Estou tão aconchegadinho aqui na minha caminha. Quero ficar aqui o dia todo.
No fundo a ideia até não era má. Entrava na cama deles e ficávamos ali e riscados no quentinho. Aproveitava o momento para sentir o calor do corpo deles.
No entanto não podia mesmo ser. Lá saímos para este dia gelado e enevoado.
Os gémeos andavam a pedir um relógio hà imenso tempo. Aproveitamos o Natal e uma amiga que não sabia o que oferecer para realizar o desejo dos rapazes.
Adoraram e nunca mais os largaram. Assim que acordam pedem para alguém os colocar no pulso. Só os tiram para dormir e passam o dia a dizer as horas.
Giro não é?
- Mãe são 8:18. Agora já são 8:19.
- Vamos chegar a tempo? Já passou para as 8:20.
- No meu já é 8:21.
Juro que não estou a exagerar é assim o dia todo. Espero que a novidade passe, caso contrário pressinto que os relógios vão ter um fim misterioso 😈
O dia amanheceu frio. Foi difícil convencer os rapazes a sair da cama.
-Só mais um bocadinho! - pediam todos
Infelizmente não pode ser. Tivemos mesmo que acordar e despachar. Ao sair de casa gelei assim que abri a porta. O carro tinha um bloco de gelo no vidro, exclamei maldições. Na verdade não queria sair de casa. Nem deixar os mais velhos na escola. Tão pouco queria levar os gémeos à creche e a última coisa que me apetecia era vir trabalhar.
Agora vou passar o dia a matutar se levaram roupa suficiente, se estão com frio ou confortáveis. Vou questionar se o Guilherme não anda a correr, porque só na quarta é que tira os pontos.
Ainda não entendi o que é para fazer. Passamos os dias a ansiar pela maioridade depois quando a alcançamos não percebemos nada. Trabalhamos de sol a sol para receber um ordenado que se gasta muito mais depressa do que se ganha. Procuramos um companheiro de vida embora as estatísticas do divórcio assuntem qualquer um. Tentamos ser bons para os outros mas se formos demasiado bons depressa seremos espezinhados por alguém. Resolvemos ser pais e nunca mais voltamos a ter uma boa noite de sono na vida.
No fundo a vida adulta assemelhasse a nadar em mar aberto, estamos constantemente a lutar para não nos afundarmos.
Eu ainda não percebi o sentido da coisa. Devemos continuar neste caminho que todos seguem igual a um rebanho de ovelhas. Ou se devemos mandar tudo ao ar e fazer algo diferente.
Não sei ao certo o que devemos fazer nesta vida adulta e penso que grande parte partilha a mesma duvida que eu.
Se sairmos à rua e questionarmos as pessoas estou certa que todos diriam coisas diferente. Todas certas e todas erradas, depende do ponto de vista.