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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Um monstro na cama de cima

Na noite de sábado para domingo o Santiago começou a chorar pouco depois de o colocar na cama. Fui ter com ele para o acalmar. 

- O que se passa Santiago.

- Tenho medo...

- Medo? Medo de quê?

- Está ali um monstro?

- Onde? Ali atrás da porta?

- Não. Ele está a fazer barulho.

- Barulho? 

- Sim, está um monstro a fazer barulho na cama de cima. 

- Santiago é só o Leonardo que está a ressonar. 

Rodei a cabeça do Leo e o som diminui de forma considerável. 

- Está melhor assim? 

Não obtive resposta, já estava de novo a dormir. 

 

Bip, bip

No sábado cheguei a casa tarde. Os gémeos vinham a dormir no carro. Tivemos que os carregar para o andar de cima, despir, vestir. Tudo isto é eles nem abriram os olhos. Eu estava exausta depois de um dia inteiro de festas e mais festas. Arrumei o que podia e fui dormir. Dez, quinze minutos depois estava quase a entrar no sono quando ouvi um Bip.

Não identifiquei o som e pensei que teria sido impressão minha. Um pouco depois outro Bip. E outro um pouco depois.

- Mãe que barulho é este?

- Não faço ideia mas tenta dormir.

Fechei as portas dos quartos para reduzir o som e tentei dormir. Uma da manhã e ainda andava às voltas devido aquele Bip que se ouvia de poucos em poucos minutos. Vi as duas da manhã chegarem e enterrei a cabeça debaixo dos lençóis e cobertore. Acabei por adormecer mas aquele som entra a na minha cabeça e penetrava nos meus sonhos. Às cinco da manhã saí da cama a maldizer o alarme que para mim era o responsável. Tratei de o desligar e o Bip continuava.

- O que andas a fazer? - perguntou o marido

- Desliguei o alarme mas este som não pára.

- Não é o alarme mas sim o detector de incêndios. Deve precisar de pilha.

Nunca tinha percebido que tínhamos tal coisa em casa mas na verdade lá estava o dito aparelho no tecto de casa. 

Só de manhã é que o marido subiu ao escadote e calou o dito. Escusado será dizer que não dormi quase nada. 

Queixem-se lá, agora, que as crianças acordaram à hora do costume e não vos deixaram dormir mais uma hora? 

Desafio de escrita dos pássaros #7

- Boa tarde.

 

- Boa tarde Dª Constança, como está?

 

- Vou indo minha jovem.

 

- Então o que a trás por cá?

 

- Sabe minha linda estou com o cabelo muito seco a minha amiga Anita disse que vocês tem uma máscara capilar que é um mimo.

 

- Uma mascara capilar?

 

- Sim. Ela mostrou-me a embalagem. É rosa com umas letras em dourado.

 

- Já sei qual é. Deixe-me ver se ainda temos.

 

No armazém:

 

- Sr. João?

 

- Sim

 

- Sei que me disse que temos que despachar as compotas de abobora com amêndoa mas a Dª Constança quer uma mascara capilar.

 

- E as compotas de abobora são maravilhosas para isso.

 

- Para o cabelo?

 

- Sim convence a velha gaiteira que a abobora lhe vai deixar o cabelo num brinco. Vais ver que daqui a dois ou três dias volta a agradecer porque tem o cabelo maravilhoso.

 

- Mas colocar uma compota peganhenta na cabeça não é muito boa ideia.

 

- Claro que é rapariga. Sei que só estás connosco à uns dias mas tens que te habituar a vender o que te digo e não o que o cliente quer.

 

- Peço desculpa sr. João mas não vou fazer tal coisa!

 

- Como não vais fazer? Tens que fazer o que eu digo.

 

- Não tenho não senhor. Sabe que mais, eu despeço-me! Não vou trabalhar num local que engana as pessoas.

 

- Vais te embora? E agora quem é que atende o balcão.

 

- Você claro. Vá intrujar a senhora. E já agora coma alguma da compota a ver se fica um ser humano mais doce.

Não estou preparada para estas novidades

Fui buscar os gémeos à escola. Assim que cheguei o Salvador correu para mim. Trazia um sorriso maroto no rosto e os olhos brilhantes. 

- Mãe a C tentou beijar-me. - disse com tamanha felicidade no rosto.

Percebeu que  aquele segredo saiu mais alto do que deveria ter saído e que a educadora tinha ouvido. Ficou todo envergonhado deu-me a mão e quis logo vir embora.

- Filho eu quero saber melhor essa história.

- Mãe não é nada demais ela também me tentou beijar. - explicou o Santiago

Não estou preparada para isto... 

É preciso ensinar

Ontem no vestiário da natação ouvi um comentário. Já não é a primeira vez que oiço algo do género das mais diversas mães. 

Os rapazes já tinham ido à aula, estavam de banho tomado a vestir a roupa. Eu tratava de dobrar toalhas, arrumar chinelos, distribuir roupa limpa quando ouvi:

- Estás a ver os meninos? Já se vestem sozinhos. Não são como tu.

Eu olhei para aquela mãe  e senti um misto de emoções. Não sei se a criança ficou ou não envergonhada pelo que a mãe apregoava a tão alto som, mas eu fiquei por ele. Odeio estas comparações. Se um já come sozinho o outro também tem que comer.  Não concordo, nunca concordei e nunca vou mudar de ideias. Todos nós somos seres diferentes com tempos e ritmos diferentes. Temos que aprender a respeitar isso.

Olhei para aquela mãe e pensei num programa que, em tempos, vi com um psicólogo de renome, o qual disse uma frase que me marcou para sempre. “ As mulheres queixam-se dos homens mas são as mulheres que os educam assim”. Verdade? Para mim sim. Se eu não educar os meus filhos a ajudar em casa como é que o vão fazer quando seguirem as suas vidas.

Já não é a primeira nem a segunda vez que oiço enaltecerem o fato de os meus filhos se saberem vestir sozinhos. No entanto é necessário perceber que não aprenderam sozinhos. Muitas foram as vezes em que desesperei. Vestir uma t-shirt demorava mais de cinco minutos em vez dos dez segundos expectáveis . Muitas foras as vezes que só me apetecia tratar eu do assunto para ser mais rápida. Saí muitíssimas vezes atrasada e stressada. Felizmente o tempo que gastamos na altura deu frutos. Os rapazes ganharam autonomia e isso melhorou a nossa qualidade de vida.

Não critiquei aquela mãe. Nem tão pouco o pretendo fazer com este texto. Escrevo para alertar que muitas vezes as crianças só não fazem as coisas porque não sabem. Em vez de criticarem os pequenos ensinem. 

O Outono veio de vez

Para mim este ano o verão foi um pouco estranho. Talvez tenha sido do vento que não nos largou e arruinou as noites de calor. Talvez tenha sido só impressão minha. Pensei que o calor se manteria até tarde. Que seria daqueles anos em que iríamos usar t-shirt até Novembro. O Outubro veio e provou que estava bem enganada.

Este fim de semana dei a mão à palmatória e resolvi preparar os roupeiros para as próximas estações. 

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Felizmente conseguimos reaproveitar imensa coisa. Os gémeos e o Leonardo estão vestidos. O Guilherme precisa de meia dúzia de coisas.

O que não serve já está em sacos para seguir viagem para outras casas com a nossa que acreditam piamente no reutilizar e reciclar. 

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Desafio de escrita dos pássaros #6

Ela alternou várias vezes o olhar entre a morada rabiscada, numa folha de papel, e a estrutura que lhe aparecia à frente.  O dia em que ele a tinha convidado para viver com ele tinha sido um dos melhores da sua vida. Aceitara prontamente e passara dias em conseguir deixar de sorrir. Passara horas a sonhar com o seu novo lar e com o inicio de uma nova vida. Pedira transferência para uma sucursal da empresa e apanhou o primeiro voo assim que teve uma resposta afirmativa.

Partiu para um pais estrangeiro sem olhar para trás. O amor que sentiam um pelo outro falava mais alto que todos os receios. No aeroporto teve que apanhar um autocarro e depois um táxi até chegar ao destino. O namorado pediu imensas desculpas mas era de todo impossível ir ao encontro dela.

Horas depois de deixar a sua casa olhava para o seu novo lar. Na sua terra aquela estrutura seria apelidada de cabana. Estava velha e muito negligenciada. Por momentos pensou que estaria no sitio errado mas eis que o namorado apareceu à porta.

- Estava a ver que nunca mais chegavas! – exclamou enquanto a tomava os braços

- Pensava que estava enganada.

- Eu sei que não tem muito bom aspeto.- disse quando percebeu o seu receio perante a habitação. – Precisa de obras mas foi a única coisa que consegui arrendar. Não fazes ideia do valor das rendas aqui.

- Não sei se consigo viver aqui.

- Claro que consegues. Encara como uma pequena aventura. Se não conseguires podemos procurar outra coisa, com dois ordenados devemos conseguir algo um pouco melhor. Anda.

Ela deixou que ela a guiasse. O calor da sua mão, o sorriso no seu rosto. Lá dentro verificou que não era péssima. No ar pairava um cheirinho bom de uma refeição que ele tinha preparado para ela. A sala estava cheia de flores. Continuava a ser uma cabana mas estava cheia de amor.

Diospiros

Ontem uma vizinha veio oferecer diospiros. Os gémeos quiseram provar depois do jantar. Dei metade a cada um e fiquei a observar. 

- Mãe, isto é bom.

- É doce mãe.

- É uma fruta muito boa.- confirmei

- Mãe podes dar-me um copo de água. Tenho a minha boca seca. 

Enchi o copo de água e coloquei à frente do Salvador que o bebeu todo de uma vez. 

- Mãe o que se passa com a minha língua? 

- É desta fruta.

- Eu quero mais. 

- Eu também. 

Enquanto preparava mais um o Santiago veio observar a sua língua na porta espelhada do forno. 

- Mãe a minha língua tem pontinhos. 

- Pois tem. Já está aqui mais fruta. 

Comeram tudo é depois o Salvador perguntou:

- Mãe agora a minha língua vai ficar esquisita para sempre? 

O que eu me ri com esta experiência. Só gostava de ter filmado as caretas que faziam por causa da língua😁

 

 

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