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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Trabalhar a dez minutos de casa

Sempre trabalhei longe de casa demorava no mínimo meia hora a chegar e isso num dia bom. Muitas vezes tinha que fazer o percurso de autoestrada só para chegar a horas.

Quando mudámos de casa tudo mudou. Num dia mau demoro dez minutos a chegar ao trabalho e isso realmente faz toda a diferença. Estou tão perto que, por vezes, venho a casa à hora de almoço para apanhar ou estender roupa. Também venho cá para dar almoço aos mais velhos quando ficam em casa.

Venho a casa naqueles dias em que estou cansada ou aborrecida e só quero algum tempo com os meus pensamentos. 

Também estou perto das escolas e num instante vou buscar algum indisposto ou cujas aulas já terminaram.

Adoro estar assim próxima de tudo e todos e estou bem ciente do luxo que é. Todos os dias agradeço não ter que fazer quilómetros e mais quilómetros. Não ter enfrentar filas imensas de carros e tempo interminável em semáforos. 

É tão bom não ter nada disso. Por aqui o máximo que temos são ovelhas e cavalos que nos distraem dos buracos nas estradas. 

Gente nem tudo pode ser perfeito 😁

 

O tempo não é generoso para todos

Temos andado a treinar a autonomia. Os gémeos já se despem e vestem sozinhos. Também já sabem apertar os botões do bibe e conseguem vestir os casacos. À noite querem ajudar a pôr a mesa e facas para cortar a comida. Quando dou por mim estão em cima de cadeiras para chegar a algo que está no armários superiores. No banho não querem que os esfregue. Não querem ajuda a lavar os dentes.

Basicamente pensam que já são homens e eu, embora adore esta nova etapa, não consigo deixar de ficar triste. Sinto que uma vez mais o tempo me está a ser roubado. Em Setembro o Leonardo juntar-se ao Guilherme na escola do segundo ciclo. E para o ano os gémeos vão para a primária. Eles estão ansiosos, perguntaram muitas vezes quando vão para a escola dos crescidos. Têm sempre demasiada pressa em crescer. No fundo a vida é passada com as crianças a pensarem que não crescem depressa o suficiente e com os pais a pedir para crescerem maus devagar.

O maravilhoso mundo das viroses

No sábado o Salvador queixou-se que lhe doía muito a barriga. Estávamos no parque e ele teve um bom bocado sentado num banco a queixar-se. Depois ficou melhor e lá brincou um pouco.

No domingo acordou com as mesmas queixas que foi repetido ocasionalmente durante o dia. Passado um pouco o Santiago começou com os mesmos sintomas. 

Ontem à noite comecei eu. O meu intestino resolveu andar de montanha-russa a noite toda. Toda a noite, toda a noite. A festa foi de tal forma que não se calou o tempo todo. Parecia que estava possuído pelo demónio. Eu só queria dormir, descansar mas ele não estava para aí virado.

Acabei por perceber que os meus filhos tinham razão à cerca das dores porque isto dói a brava. O bom da história é que bastou dois dias para eles ficarem bons por isso estou a meio caminho.

Mãe sofre... 

Romantismo ou segundas intenções

Quando fomos à piscina com os rapazes fui abordada por duas senhoras. O marido entrou com os rapazes e eu fiquei a falar com as senhoras. Entrei passados uns minutos e o marido questiou:

- Então o que estavam a vender?

- Estão a oferecer alguns tratamentos de estética.

- Ofereceram-te tratamentos? 

- Sim.

- E tu vais?

- Acho que sim, porquê? 

- Porque és perfeita e não precisas de tratamentos nenhum.

Fiquei sensibilizada com a resposta mas, passado um pouco, dei por mim a pensar se aquelas palavras teriam sido ditas por romantismo, ou por medo da fortuna que poderia gastar em tratamentos😂

Manhãs de sexta

Cá em casa as manhãs de sexta são as mais difíceis. O cansaço vai acumulando durante a semana e à sexta feira está tudo exausto. Hoje o Santiago perguntava porque nunca o deixávamos dormir mais. Disse que tinha muito sono e que queria ficar na cama. Como não lhe dei conversa foi ter com o Leonardo para lhe fazer queixinhas. 

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O Leonardo explicou que amanhã ficávamos em casa mas não foi o suficiente para melhorar a coisa. 

O rapaz demorou a descer. Demorou a escolher o pequeno almoço. Depois queixou-se do que escolheu e afinal já queria o que o Salvador estava a comer. Estas birras matinais trazem transtorno a todos nós, às tantas o Leonardo disse alguma coisa e o Guilherme respondeu de forma brusca. Eu tenho que mediar isto tudo enquanto imagino uma manhã maravilhosa sem birras e choros com um pouco de silêncio pelo meio.

O que vale é que é sexta feira e nada me estraga o espírito de pré fim de semana... 

Tempo para cada um

Como mãe de quatro debato-me muitas vezes com o facto de encontrar tempo individual para cada um. É difícil. Quando estou a tentar ter uma conversa com um todos se lembram de aparecer para dizer algo. Outras vezes querem conversar num momento em que não posso. Ainda ontem passei em casa para abrir a porta ao Guilherme, estava atrasadissima para ir buscar o Leonardo e o Guilherme queria falar sobre as notas dos testes. Ouvi as notas dei-lhe os parabéns e saí a correr.  Fico de coração partido por não ter mais tempo. Sei que todos nós iríamos gostar muito se assim fosse.

Como tal não é possível resta-me arranjar soluções para criar tempo. No fim de semana passada saí de casa para comprar umas coisas, tinha que ir à farmácia, à padeira, à loga de agricultura. Se fosse de carro iria fazer tudo num instante mas optei por não ir. Convidei os mais velhos e fomos à pé. Demoramos mais de hora e meia. Foi uma hora e meia em que passeamos de mão dada. Falamos, observamos coisas em conjunto, fizemos compras. Ganharam chupas sem açúcar na farmácia e broas na padaria. Voltaram para casa cansados mas contentes.

Eu gostei e percebi se não consigo ter mais tempo tenho que dar melhor uso ao que tenho. Tenho que os envolver mais nas actividades que me ocupam, assim ganhamos tempo em família e vão aprendendo as dinâmicas da vida de adulto. 

Passei a sair a horas de casa

Durante meses pedi aos rapazes para se depacharem. Certos dias dava por mim a súplica para pararem as birras e ficarem prontos a sair se casa. Noutros ameaçei castigos e houve dias em que simplesmente gritei com eles.

Tudo isto é passado porque descobri uma nova tática e as manhãs estão a correr muito melhor.

- Meninos vamos embora.

- Já? Ainda não brincamos nada.

- Se queres brincar mais vai brinca, eu vou para baixo e vou ganhar.

- A MÃE ESTÁ A DESCER AS ESCADAS E VAI GANHAR!

Correm pelas escadas a baixo, vão buscar os sapatos e num ápice estão calçados.

- Meninos já calcei um pé.

- Eu já calçei dois. Leonardo depressa dá-me o bibe e o casaco.

- Eu também já calçei os dois. Vou ganhar! 

Cinco minutos depois estamos a sair de casa. É certo que os bibes vão apenas com dois botões apertados, por vezes em casas trocadas e os casacos sem as golas de fora. Eu cá nem quero saber, chama-se autonomia😄. 

Enfiei-me num buraco escuro e agora estou a tentar sair dele

Tudo começou quando fui à Alemanha e o marido teve que levar o Guilherme à consulta de desenvolvimento. Ainda não tinha entrado no voo já o marido me dizia que a médica tinha passado um medicamento para ele experimentar. Eu questionei imediatamente se o dito medicamento era Ritalina porque a minha resposta continuava a ser não. Na receita apenas vinha mencionado o composto químico pelo que o marido não me soube negar ou confirmar. Acordamos que quando eu voltasse da viagem iríamos conversar e analisar o que fazer.

Claro que não consegui esquecer o assunto e foi mais uma preocupação durante os dias que estive fora. Assim que voltei a casa quis ver a receita e o marido confirmou que já tinha visto e era de facto a Ritalina. Eu disse logo imediatamente que não. Que a minha ideia não tinha mudado e que nunca o meu filho ia tomar tal substância. O marido apenas me disse para falar com o Guilherme antes de tomar uma decisão.

Sentei-me a conversar com o rapaz e fiquei de coração nas mãos. Percebi que o meu filho se sente diferente dos outro e que isso o entristece. Disse-me que o seu cérebro tem vida própria, que ele quer estar com atenção mas a sua cabeça não para. Vi nele uma tristeza total por se esforçar mais que todos os seus colegas sem qualquer resultado. Pediu-me para o deixar tomar a medicação talvez iludido que um simples comprimido o fará ser uma pessoa nova.

Eu sai do quarto arrasada porque nunca tinha percebido o quanto ele se sentia impotente. O marido explicou-me que a médica lhe tinha dito que se ele sem ajuda conseguia ter umas notas assim assim, com alguma ajuda poderia ser muito melhor. Que a médica lhe perguntou se já tínhamos pensado que na nossa aversão à medicação poderíamos estar a privar o nosso filho de uma vida melhor.

Ouvir tudo isto foi pior do que levar uma tareia. De repente deixei de acreditar nas minhas crenças e passei a duvidar tudo.

É verdade que não preciso que o meu filho tenha notas óptimas mas nunca tinha pensado no que ele precisa. Não quero de forma alguma que um dia mais tarde pense que poderia ter entrado para a faculdade mas como os pais lhe recusaram a medicação não teve notas para tal. Não quero que sinta que nós nunca o apoiamos. Não quero cavar um fosso entre nós.

Bem sei que é demasiado novo para saber o que quer mas tem que ter alguma opinião na sua própria vida. Já lá vai o tempo em que tal não acontecia.

Como já disse senti-me triste e encurralada. Senti-me entre a espada e a parede sem saber que decisão deveríamos tomar. Sempre quis o melhor para o meus filhos mas e se o que eu pensava ser o melhor afinal era o pior? Passei noites em claro na esperança de saber o que decidir. Por fim fui à farmácia e aviei a receita.

Depois de aviado o remédio teve dias em casa por abrir. Cada vez que olhava para ele não conseguia perceber se estava a envenenar ou a ajudar o meu filho. Li as contra indicações com as lágrimas a correr pela cara. Cada uma pior que a outra e o meu coração de mãe apertadinho. Por fim dei-lhe o primeiro comprimido e passei o dia numa ânsia a questionar-me se estaria bem. Dei-lhe o segundo e ele continuou igual. O terceiro, o quarto e entramos na rotina.

Nada disso significa que estou confiante na decisão que tomei. Nada disso significa que não me continue a questionar todos os dias. Esta decisão mexeu muito comigo. Fiquei deprimida, revoltada, zangada com o mundo. Tudo o que eu sempre quis é que os meus filhos sejam felizes, nunca ninguém me disse que seria tão difícil chegar a essa felicidade. Vivia iludida que o amor resolvia tudo mas afinal não chega.

Durante os últimos meses estive apática sem vontade de nada. Até escrever no blog se mostrou um sacrifício. Tudo o que queria era ficar quieta até a dor passar. Enfiei-me num buraco e não está fácil sair dele. Aos poucos vou conseguindo deixar a tristeza para trás. O rapaz continua a tomar a medicação e não noto diferença nenhuma. Decidimos continuar com a medicação até ao final do período, depois vamos analisar os resultados e decidir se paramos ou continuamos no próximo. Vamos debater e discutir em família porque afinal é uma decisão que nos afecta a todos.

Eu cá vou continuando a tentar deixar para trás esta sensação de ter falhado como mãe. 

Já não há respeito por uma mãe

- O QUE É ISTO! - gritei eu na cozinha

O marido e o Leonardo correram logo para ver se eu precisava de alguma coisa.

- O que foi mãe?

- Está aqui um bicho nas minhas plantas. Mas isto é uma lesma? 

Mostro uma mini lesma que não tinha mais que dois ou três centímetros que tinha retirei do vaso com a ajuda de um palito. 

- É uma lesma. Deita para o lixo. 

- Isso é que não. Leonardo vai buscar a chave da porta para eu a soltar no quintal. Como é que veio aqui parar?

- Devia vir no vaso. 

- Já tenho esta planta à tanto tempo. Não me parece. Não sei como é que aqui chegaste mas eu não te vou matar. Vais ficar em liberdade no quintal e podes seguir a tua vida. 

- Mãe? Tu estás mesmo a falar com a lesma? 

- Sim. 

- Tu sabes que a lesma não fala não sabes? Ou será que estás a ficar louca? 

Já não existe respeito por uma mãe que gosta de falar com animais 😂

 

 

 

Tenho uma coisa na garganta

- Mãe tenho uma coisa na garganta, olha. - diz o Salvador enquanto abre a boca.

- Não vejo nada. Deve ser só impressão tua.

- Não mãe, tenho mesmo. Olha bem.

- Filho não vejo nada. Tens a garganta inflamada e é isso que estás a sentir.

- Não mãe tenho um pico na garganta. Está aqui espetado. - diz enquanto aponta para a maçã de Adão.

- Tens um pico na garganta? É como é que ele foi aí parar.

Ele olha para mim de olhos muito abertos com cara de gozo e diz:

- Foi magia.

😂

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