Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Tive a sorte de conhecer este poço quando era muito jovem. Já perdi a conta aos verões que passei por ali. É um pequeno paraíso que durante anos foi mantido em segredo. Com o passar dos anos passou a ser falado em roteiros turísticos e sofreu uma invasão. Está crescente procura por este local trouxe muitas obras de melhoramento o que foi bom. No entanto vi um ponto muito negativo desta última vez que ali estive. Latas e garrafas deixadas abandonadas pelas rochas. Custou-me ver o desrespeito por um espaço que deve ser mantido e preservado para que seja utilizado por todos.
Quem chega ao local vê o novo restaurante construído com vistas sobre o rio.
Junto ao restaurante existe uma zona de areia onde a maior parte das pessoas vai ao banho.
De frente para o edifício existe um carreiro que dá acesso a um miradouro de onde podemos ver as quedas de água. Estas quedas são lindas no verão mas tiram-nos o folgo no inverno.
Em relação a banhos eu ca prefiro subir mais um pouco, ignorar os carros estacionados na ponte e andar mais uns cem metros. Estacionar o carro na subida e descer a serra por entre as árvores. Para mim é ali que esta o melhor sítio deste local.
Se visitarem a zona de seia tirem umas horas e passem por aqui. Garanto que não se vão arrepender.
Cresci a comer amoras silvestres. Passava dias à procura delas, arranhava-me toda nas silvas para as apanhar mas tudo valia a pena quando sentia aquela pequena delícia na boca. Ainda hoje é um dos meus frutos preferidos.
No fim de semana estava a descer um carreiro e lá estavam elas a olhar para mim.
Sem pensar peguei numa e comi.
- Mãe o que estás a comer? - perguntou o Santiago
- Amoras.
- Também quero.
Nunca vou esquecer a expressão que fez quando a colocou na boca. Claro que passou o resto do fim de semana a apanhar amoras sempre que as via.
Foi um fim de semana cansativo. Quisemos aproveitar ao máximo, fazer tudo e não deixar nada ao acaso. Tomamos muitos banhos de rio. Passeamos. Revimos familiares que não víamos à anos. Soube tão bem que nem foi difícil arranjar força para vir embora. Eram 21 horas quando finalmente saímos e começámos a viagem de regresso. Chegamos tarde, dormimos pouco. O calor também não ajudou e eu dei por mim a suspirar pelo meu quarto lá na terra que é fresquinho como sei lá.
A vida continua e voltamos qualquer dia. Agora que os gémeos são crescidos é tudo mais fácil. Enquanto não voltamos ficam as fotos para recordar.
O novo livro do Cuquedo chegou cá a casa no aniversário dos gémeos. Oferta de uma amiga. Os rapazes adoraram o livro e estão sempre a querer ouvir a história. Hoje até resolveram levar o exemplar para a escolinha para a educadora lhes contar a história.
No sábado à noite fui para o quintal como marido. Passava um pouco das vinte e três mas estava uma noite excelente. Ele sentou-se no sofá e eu deitei-me com a cabeça nas pernas dele, para poder admirar o céu estrelado enquanto conversávamos. Estivemos um bom bocado na conversa até que algo me captou a atenção. Deixei de ouvir o que o marido dizia e pisquei o olhos várias vezes para perceber se estava a ver bem. De olhos esbugalhados e cheia de medo de ter enlouquecido apontei para o céu e disse:
- Diz-me que estás a ver o mesmo que eu.
- O que é aquilo?- perguntou ele depois de um longo silêncio
- Não faço ideia mas também vês, certo?
- Claro que sim.
Ambos víamos um monte de pontos luminosos que se deslocavam em conjunto no céu e não estou a falar das luzes de um avião nem nada que se pareça. Imaginem quando vêm um bando de passados a voar pelo céu. Dezenas de pássaros a voar em conjunto todos no mesmo sentido. Era parecido mas com pontos luminosos como se fossem estrelas. Ficamos ali estupefactos sem querer acreditar no que os nossos olhos viam. O marido disse-me que devíamos filmar mas nenhum dos nossos telemóveis conseguiu registar o momento, apenas gravavam um céu preto e mais nada. Acabámos por ficar ali a desfrutar daquele espectáculo que não sabíamos explicar. Brincamos com naves espaciais e raptos alienista. Brincamos que estávamos ambos sobre o efeito da vela de citronela que perfumava a noite para afugentar as melgas.
Por fim aquelas dezenas de pontos acabaram por desaparecer no céu. Provavelmente ficaram a uma distância que a olho nu não conseguíamos ver. Acabado o espectáculo, a minha mente cientifica queria encontrar explicação para o que tinha assistido. Procurei na Internet e não tardei a encontrar esta informação neste site:
28 de Julho, 29 - . Southern Delta Chuva de Meteoros Aquarids Os Aquarids Delta pode produzir cerca de 20 meteoros por hora em seu pico. O chuveiro atinge o auge em 28 de julho e 29, mas alguns meteoros também pode ser visto a partir de 18 julho - 18 agosto. O ponto radiante para este chuveiro estará na constelação de Aquário. Uma lua quase cheia poderia arruinar o show deste ano, ocultando muitos dos meteoros com seu brilho. Melhor visualização geralmente é para o leste após a meia-noite a partir de um local escuro.
Mais contente de saber que existia uma explicação para o que tínhamos presenciado, fiquei contente de poder ter assistido a este espectáculo da natureza por pura coincidência. No fim afirmei ao marido que temos mesmo que comprar um telescópio porque o céu aqui é fantástico.
Estou a contar os dias para o fim de semana. Para reunir a nossa família. Para passarmos dois dias juntos. Passear pelas aldeias. Tomar banhos de rio.
Espero ansiosa por voltar a sentir o cheiro que me acompanhou durante a infância. Por dormir e acordar com o som da ribeira a correr. Ouvir o som da natureza como so se ouve ali.
Tenho uma grande relação emocional com aquela terra e tenho pena de não conseguir voltar mais vezes. Hoje conto os dias para voltar. Espero matar saudades e conseguir passar uns dias divertidos com os meus rapazes todos.