De volta aos trabalhos manuais
Já tinha saudades de sujar as mãos.
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Já tinha saudades de sujar as mãos.
Não sei bem se lhe posso chamar viver ou sobreviver. Durante mais de uma semana tivemos que passar sem ele e nem acredito nas dificuldades que senti. Passei a frequentar o supermercado ainda mais que o habitual. As compras passaram a ser feitas para a hora e não para a semana ou mês. Deixei de comprar iogurtes e outros derivados de leite.
Com a morte do frigorífico morreu também a minha vontade de cozinhar. Só de pensar em ter que comprar tudo para uma refeição e não poder guardar as sobras deu cabo de mim. Odeio desperdício alimentar mas por outro lado tenho imenso medo de gastroenterites pelo que não arrisquei de maneira nenhuma. Cozinhei coisas seguras que não se estragavam entre a noite e a hora de sair para o trabalho. Andei com carne e peixe para a frente e para trás, entre o frigorífico do trabalho e a nossa casa. Basicamente fomos vivendo um dia de cada vez à espera do telefonema a dizer que as peças tinham chegado para reparar a nosso electrodoméstico.
Os mais velhos passarem a semana com os avós porque era de todo impossível para mim vir cozinhar à hora de almoço. Os pequenos perguntaram pelos irmãos todos os dias. Eu e o marido sentimos a falta da nossa família a toda junta. Finalmente o dia tão esperado chegou e temos o nosso amigo de volta. Mesmo a tempo das nossas férias da Páscoa.
Hoje é um bom dia para nós.
Todos os dias dá muitos remédios ao meu irmão. Xaropes com um ar apetitoso e umas bolinhas que parecem rebuçados. Eu olho para eles todos e também quero provar. A mãe é má e diz que eu não estou doente e não posso tomar remédios. Eu fico muito triste...
Vamos lá ver o que vai sair daqui.
No fim do ano fui surpreendida por aglomerado de gente e um veiculo da autoridade na rua vizinha. Estranhei aquilo tudo uma vez que passo por aquele local todos os dias e nunca tinha visto nada assim. Ao aproximar-me do local vejo um carro enfiado numa casa. Sim leram bem. O carro estava literalmente enfiado na casa, mais concretamente na porta de entrada. As pessoas não conseguiam entrar nem sair e segundo sei foi um castigo para tirar o carro do sitio. Valeu o facto de a casa ser antiga e ter aquelas paredes de meio metro de espessura caso contrário o carro teria feito um estrago maior.
O assunto serviu de falatório durante semanas. Quando vivemos numa zona onde não acontece nada este tipo de coisas duram uma eternidade.
Semanas depois, para meu grande espanto estava outro carro espetado contra a casa. Este não acertou na porta mas sim na parede ao lado. Mais um carro desfeito e a casa com um simples amasso. O raio da casa é resistente. Novo falatório na zona. Eu tentei perceber se é habitual aquilo acontecer uma vez que a casa está num cruzamento. Pelo que apurei foram os dois primeiros acidentes que aconteceram naquele sitio, ou pelo menos ninguém se lembra de outros.
Uns dias depois, quando cheguei ao trabalho uma colega pergunta-me se eu tinha visto que outro carro tinha batido na casa. Eu referi que quando passei já não estava nada mas ela afirma que hora e meia antes estava lá outro carro se bem que este bateu ao de leve na casa.
Dizem que não à duas sem três mas eu se fosse os vizinhos tratada de mudar de casa. Para mim isto parece-me mais tentativa de homicídio do que coincidência, não?
Na sexta-feira resolvi levar os mais velhos a visitar a escola antiga. Assim que saímos do carro fomos reconhecidos pelos ex-colega do mais velho.
- Guilherme, Guilherme.
- Guilherme à tanto tempo.
- Então Guilherme como estás?
- Olá ... Como é que se chama o outro?
- Leonardo! - responde o mais velho com um ar emproado.
- Leonardo tens que aprender a ser popular se não nem de de lembram do teu nome.
Lá seguiu para dentro da escola com ar de quem já é alguém só porque saiu do primeiro ciclo.
Está pré-adolescência...
Infelizmente esta é uma realidade em Portugal. Anos atrás achava que isto era um género de mito mas aos pouco fui percebendo a realidade. Percebi que na verdade mais salário apenas é igual a mais descontos e não isso não se reflecte apenas nos maiores escalões.
Na minha empresa temos salários médios e todos se queixam do mesmo. Quando fazemos horas reparamos que o valor que nos cai na conta é quase o mesmo ao de um mês normal. Olhamos o recibo e verificamos que o dinheiro que deveríamos receber foi praticamente todo para descontos. Tenho colegas que calculam quantas horas podem fazer até subir de escalão de IRS e não fazem nem mais uma. Se o fizerem o dinheiro evapora-se da conta e vai direitinho para o estado.
No outro dia um dos temporários brincava com o facto de com a subida do ordenado mínimo ter começado a receber menos. Eu fiquei estupefacta e quis saber mais. Explicou-me que antes não descontava para o IRS e que com a subida do ordenado o passara a fazer. Bem sei que provavelmente vai reaver este dinheiro quando fizer o IRS mas as pessoas precisam do dinheiro para o dia a dia. Existe muito boa gente a quem 10 ou 15€ fazem toda a diferença.
A situação mais caricata que tivemos foi o ano passado quando a empresa resolveu pagar as diuturnidades que nunca tinha pago a todos os funcionários. Inicialmente ficamos todos contentes e começamos a fazer cálculos de quanto íamos receber. Quando o dinheiro caiu na conta ficamos admirados e aguardamos o recibo. Na altura percebemos que no mínimo cinquenta porcento tinha ido para descontos. Existiam casos de colegas com mais anos de casa que ficaram sem uma percentagem maior. Duas semanas depois recebemos o salário e nem queríamos acreditar. A maior parte recebeu um terço do habitual. Tudo porque o rendimento auferido nesse mês tinha que ser calculado com a soma do ordenado e da diuturnidade recebidas. Isso fez com que o escalão de IRS subisse ainda mais e dissemos adeus a mais dinheiro nosso. Entretanto chegou a altura da declaração do IRS e o reembolso foi menor do que nos ouros anos. As despesas não foram suficientes devido ao valor extra recebido e dissemos adeus a mais uma parte do nosso dinheiro. Para além disso existiram ainda casos que como eu tem filhos na IPS e que devido a toda esta situação viram as suas mensalidades aumentadas. Eu cá até não ficava chateada se isso significasse mais dinheiro para a instituição mas sei que na verdade isto apenas significa que passaram a receber menos da segurança social. Ou seja mais dinheiro nosso que foi para o Estado.
No final se fizermos bem as contas, do dinheiro que recebemos ficou nas nossos bolso um redondo zero.
Esta situação é ridícula. As pessoas precisam de mais dinheiro para ajudar no crescimento da economia. Não precisamos de ser roubados desta maneira pelo nosso próprio governo.
Agora digam-me que estou errada.
Ontem cá em casa.
- GUILHERME! O que andas a fazer aí em cima. Olha as horas vais perder o autocarro. Todos os dias a mesma coisa!
- Mas mãe hoje é quarta-feira. Eu não tenho a primeira hora e tu tens que me levar à escola.
- Hoje é quarta-feira? De certeza?
- Sim. Ontem tive EV e essa aula é à terça. Olha o meu telemóvel. Quarta dia 21.
- Desculpa filho nem acredito que já é meio da semana...
- É porque anda uma grande confusão cá em casa, com isto do frigorífico e tudo. Não é mãe?
- Mãe?
- Sim Santiago.
- Mãe tu tens um bebé na barriga?
A minha primeira reação foi olhar para a minha barriga pensando de onde é que teria vindo aquela conversa.
- Não amor a mãe não tem um bebé na barriga.
- Mas eu nunca vi um bebé na barriga da mãe!
- A mãe já teve muitos bebés na barriga mas agora não.
- Mas eu quero!!!!!
Fiz o que qualquer progenitor faz para resolver o assunto.
- Então logo tens que ir pedir ao pai.
😂
Algo se passa connosco neste últimos tempos. Se eu fosse de acreditar em maus olhados e assim, já anda paranóica. Acho que a fase pior começou quando nos bateram no carro e este foi para a oficina. Tive que andar dum lado para o outro para deixar o nosso e buscar o do seguro. Dias depois tive que entregar o do seguro e o nosso nem sequer estava pronto. A oficina disponibilizou um carro mas de cinco lugares, tivemos que nos desenrascar com um carro velho que nem a velocidade marcava e no qual não cabíamos os seis.
Finalmente a história do carro ficou resolvida e então veio a história da máquina de lavar roupa. Uma semana sem máquina com uma tonelada de roupa é algo que não quero relembrar. Entretanto fomos à gastro e ficou confirmado o refluxo do Salvador. Começou o omeoprazol e vamos ver como reage. No dia seguinte fomos ao otorrino e veio o diagnóstico que o Salvador tem otites serosas. Viemos com um batalhão de medicamentos e a conta na farmácia foi bastante jeitosa.
No dia seguinte descubro que os pequenos trouxeram um presente da escola. Primeiro nem sabia bem o que era, foi necessário ir ao google e pesquisar imagens de piolhos para ter a certeza. Sou mãe à quase onze anos e nunca tinha tido piolhos em casa. Mais euros na farmácia. Novo corte de cabelo aos gémeos e a família toda com champô na cabeça. Passei os dias seguintes a lavar tudo o havia em casa para garantir que ficávamos sem ovos dos ditos cá em casa. Acho que lavei mais roupa em dois dias do que costumo lavar num mês.
Segunda-feira volto ao trabalho exausta, mas com vontade de espairecer. O dia correu bem, tirando o facto de estar aterrorizada com os piolhos. Passei o tempo todo a coçar a cabeça sem saber se era psicológico ou se o champô me irritou a cabeça. Mais tarde cheguei a casa e percebi que tudo o que tinha no congelador estava a descongelar. Pensei que a porta tivesse ficado mas fechada e tratei de o fazer correctamente. Voltei uma horas mais tarde e estava tudo na mesma. Passei a noite a cima e baixo a acompanhar o processo, até que me conformei que não havia nada a fazer. Deitei fora o que não tinha salvação, partilhei o que podia ser consumido nos próximos dias. Ontem cheguei a casa e percebi que o frigorífico juntou-se ao irmão. Apesar de terem compressores diferentes o problema parece afectar os dois. Ou isso ou estamos outra vez a sofrer com os sentimentos dos nossos electrodomésticos.
A verdade é que aqui estamos nós, uma família de seis sem frigorífico ou congelador. O técnico vem hoje e eu só peço que seja algo para o qual tenha peças. Caso contrário terá que encomendar material e sabemos lá quando a coisa estará resolvida. É caso para dizer o que mais pode acontecer?