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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

Perigos de se viver perto do mar

- Mãe se pudesses ir viver para fora de Portugal para onde ias?- pergunta o Leonardo

- Eu mudava para Punta Cana, Caribe ou algo do género.

- Porquê?

- Porque lá está quase sempre calor e podíamos passar a vida na praia.

- Íamos viver na praia?- pergunta o Guilherme

- Claro que não. Íamos viver numa casa mas as casas lá são muito perto da praia.

- Eu cá não queria mudar para ai porque se viesse um Tsunami estávamos feitos.- explica o Guilherme

- Eu também não porque já não gosto de praia!

- Tu não gostas de praia? Desde quando?

- Desde que vi um programa que me explicou que o animal mais venenoso é a lesma do mar. 

Claro que passou os dez minutos seguintes a descrever os perigos de ser picado por uma lesma do mar.

Quem é que estava certo?

Ontem a caminho do trabalho cruzamos com alguns animais. Primeiro, um gato atravessou a estrada. Um pouco mais à frente tive que parar para três cães passarem.

O Santiago disse-me tinha visto quatro gatos. 

O Salvador disse que viu um gato, um galo é um porco.

Quem é que estava certo? Acho que eu mas sinceramente ando tão cansada que nem vou teimar. 

Escrevi só para demonstrar como as pessoas podem ter uma interpretação tão diferente da mesma situação 😊

42 meses

De amor. De alegria. De gargalhadas. De confusão. De loucura. De gritos.

42 meses de noites mal dormidas. De doenças. De hospitais. 

42 meses de colo. De beijos. De abraços. De orgulho.

42 meses desde que passamos de 4 a 6. De convívio. De partilha.  De família.

42 meses difíceis mas muito recompensadores. Na verdade já nem me recordo como era a vida antes.

42 meses que espero que dupliquem, tripliquem e cujo número continue a crescer. Que venham mais dias de loucura porque com eles vem um amor que não se consegue medir.

Uma aventura na farmácia

Precisava aviar o antibiótico para o Salvador. Não me pareceu viável perder tempo a ir deixa-los a casa para depois ir à farmácia. Analisei alternativas e resolvi experimentar uma farmácia em que os medicamentos são avisados em drive in. Claro que como sou um pessoa cheia de sorte a dita farmácia estava fechada. Não me restou outra hipótese se não ir à normal. 

Entrei com os rapazes e disse-lhe que fossem brincar no espaço para as crianças. Não tínhamos ninguém à nossa frente pelo que a nossa estadia na farmácia será breve. Eis que o Santiago grita:

- Quero fazer xixi e cocó!

Ouvem-se gargalhadas na farmácia e eu procuro algo que indique uma casa de banho. Como não vi nada digo ao rapaz para aguentar. Olho desesperada para os nove posto de atendimento para ver qual fica disponível para mim e o Santiago grita:

- Estou a fazer! Não aguento!

O nosso numero aparece no ecrã corro para o posto atiro as receitas para o farmacêutico enquanto lhe pergunto onde é a casa de banho. Ele indica-me o caminho com um ar surpreso, eu digo-lhe que pode preparar o antibiótico enquanto corro com os dois rapazes para a casa de banho. Chegada ao cubículo tento fechar a porta com os três lá dentro. Quando fecho a porta já o Santiago está sentado na sanita, o Salvador baixa a calça e diz que está aflito para fazer xixi. O Santiago continua na sanita e eu peço para que o Salvador aguentar. Minutos depois conseguimos sair da casa de banho, os pequenos apressam-se para a casinha de brincar e eu dirijo-me ao posto de atendimento que está vazio. Penso que quando o farmacêutico voltar vou estar à espera como uma pessoa normal quando o Santiago grita novamente:

- Mais cocó.- enquanto corre para a casa de banho

A mim só me resta pegar no Salvador e correr atrás. No caminho para a casa de banho passo pelo farmacêutico que se dirige ao local de trabalho já com o nosso antibiótico preparado. Digo adeus à minha hipótese de parecer uma pessoa normal. Nova ginástica na pequena casa de banho, regresso à frente da farmácia a tempo e dar os dados e fazer o pagamento. Agradeço e saiu envergonhada ciente que tão depressa não volto ao local do crime.

Seis meses de mudança

Pensámos que a mudança de casa nos traria um maior sossego. Almejamos por mais tempo disponível, por serões mais tranquilos, por mais liberdade para os rapazes. Sim almejamos por muita coisa mas a verdade é que ainda não estamos nesse ponto. Por vezes a vida tem uma forma de nos pregar rasteiras, rasteiras estas que nos podem fazer cair ou abrandar dependendo da nossa reacção. Por aqui não caímos totalmente mas abrandamos.

A verdade é que não posso dizer que foi a mudança de casa que nos trouxe todos os problemas, provavelmente se estivéssemos onde estávamos, hoje em dia, teríamos os mesmos desafios. É o primeiro ano que lidamos com três estabelecimentos de ensino diferentes. É a primeira vez que lidamos com com um quinto ano e com todas as mudanças que isso trás.

Passaram pouco mais de seis meses desde a mudança, seis meses de aprendizagem constante. Foi necessário recomeçar ao mais ínfimo pormenor. Experimentar várias padarias da zona para perceber que pão nos agrada mais. Visitar todas as farmácias e ainda não me decidi qual é a minha favorita. Perceber onde existe uma retrosaria, uma churrasqueira,uma florista, um fotografo. Procurar pelo posto dos CTT, pela biblioteca e pela esquadra da policia.

Existe ainda imensa coisa para aprender e muita coisa a que temos que nos adaptar. Felizmente existe outras a que já nos habituamos muito bem. Adoro a calma da zona, a ausência de barulho. Adoro a proximidade do meio rural. Adoro acordar com o cantar do galo. Adoro ver as galinhas da vizinha a fazer malabarismo nos muros da casa. Adoro ver os cavalos e os póneis nos campos. Descobri uma imensidão de pássaros diferentes, deixo-me estar a observa-los nas árvores do quintal e, todos os dias, vejo espécies que nunca tinha visto. Outra coisa que adoro são os cheiros , o cheiro a lareira, o cheiro a fruta mais concretamente os citrinos, nesta época do ano. Estou apaixonada pela nossa laranjeira cujas laranjas são divinais, há anos que não comia laranjas tão boas.

Resumindo tudo muito resumido existem coisas boas e coisas menos boas mas não existe nenhuma péssima o que já é bom. Continuamos em processo de adaptação mas estou certa que mais uns tempos e teremos limadas estas arestas que ainda faltam limar.

Andamos sempre a correr e, por vezes, nem vemos a beleza do que nos rodeia

Ao fim do dia sou sempre eu que levo os gémeos para casa. Vou sempre com pressa para ir fazer o jantar, ajudar o marido nos banhos e, por vezes, ajudar os mais velhos nos trabalhos. Neste dia especifico não foi excepção, apressei-me a caminho de casa, estacionei o carro, fechei o portão e tirei os gémeos do carro. Abri a porta de casa e disse aos rapazes para entrarem. Eles por norma costumam dar umas corridas rápidas e entrar em casa mas desta vez estavam parados. Chamei-os mais uma vez para que entrassem porque estava frio na rua e o Santiago disse-me:

- Espera mãe. Estamos a ver as estrelas. Olha são muitas.

Acabei por me juntar a eles e olhar para cima. A verdade é que o céu estava simplesmente lindo, repleto de pequenos pontos luminosos. Acabei por me deixar ficar ali um pouco com eles a apreciar aquele céu. Demoramos tanto que o marido estranhou e veio à porta saber de nós. Quando perguntou o que se passava respondemos que estávamos a ver as estrelas. 

O facto é que andamos numa correria tal que podemos passar pela paisagem mais bela do mundo e nem nos apercebemos. Estamos tão focados nos milhões de coisas que temos que fazer que nos esquecemos de apreciar as coisas simples que nos rodeiam. Eu, felizmente, tenho os rapazes que me chamam à razão e me alertam para as coisas que estou a perder. Agora, todos os dias, tiro um minuto para contemplar o céu e a verdade é que nunca é igual.