Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Uma noite destas os rapazes estavam todos sentados à mesa. Eu e o marido preparávamos os pratos. Andávamos os dois pela cozinha a colocar copos, pratos, talheres e guardanapos. A determinada altura cruzamos-nos e trocamos um beijo, na verdade mais um roçar de lábios mas foi o suficiente para ouvir uns sussurros à mesa.
- Ele deram um beijo.- murmurava o Leonardo enquanto ria.
- Eu vi.- respondia o Guilherme no mesmo tom e também a sorrir.
- Eu também quero um beijinho.- gritou logo o Santiago enquanto saltava da cadeira e vinha até nós.
O Salvador seguiu o irmão e logo tivemos que distribuir beijos por todos. O mesmo se passa se nos virem abraçados. Quando damos conta temos quatro rapazes abraçados a nós. Um grande abraço de grupo acompanhado por muitas gargalhadas.
Quando olho para trás percebo que mesmo quando apenas tínhamos o Guilherme a coisa funcionava da mesma maneira. Se ele nos visse a trocar um carinho vinha logo a correr juntar-se a nós. Fico a pensar se todas as crianças tem este comportamento ou se serão apenas os meus?
Na segunda-feira quando cheguei a casa o Leonardo correu para mim imensamente feliz e disse que tinha uma surpresa. Percebi logo que já devia saber as notas dos testes e pelo sorriso vi que tinham sido boas. Ele disse-me que tinha tido muito bom a tudo, com um tom de vós elevado da excitação, e correu a mostrar-me as fichas. Eu vi as fichas abracei o rapaz e dei-lhe os parabéns.
Fiquei muito contente porque sinto sempre que descuido o Leonardo por causa do irmão. O Leonardo nunca precisa de ajuda nos trabalhos enquanto que o Guilherme precisa de ajuda do principio ao fim pelo que monopoliza toda a minha atenção. O mesmo se passa quando vão ter testes. Desde o segundo ano que eu estudo para todos os testes com o Guilherme e nunca até hoje me sentei com o Leonardo. Vejo o Leo sempre confiante e pronto para a avaliação enquanto que o irmão está sempre receoso e confuso.
Estávamos então a dar os parabéns ao Leonardo e ouvi o Guilherme a dizer baixinho ( como quem está a pensar e o pensamento sai pela boca sem darmos conta) :
- Quem me dera ser como o Leonardo!
Caiu-me a ficha e percebi que ele se sente inferior ao irmão. Tudo é fácil para o irmão enquanto que ele tem que batalhar o dobro para ter um resultado inferior. Senti-me triste. Muito triste. Senti-me apreensiva. Tive medo. Tudo isto por causa de uma frase mas uma frase que me fez pensar em tudo.
Como é suporto os pais lidarem com estas diferenças dos filhos sem lhes destruírem a auto-estima. Não acho certo não felicitarmos o que teve boas notas para o outro não se sentir menosprezado. Mas também é difícil assistir à tristeza do que tem mais dificuldades perante o sucesso do irmão. No meu caso resolvi abraçar o Guilherme e dizer-lhe o que lhe digo tantas vezes. Que ele é um ser lindo e maravilhoso. Que é tão ou mais esperto que o irmão e que a única diferença entre os dois é que o Leo se aplica nas aulas enquanto ele anda sempre de cabeça no ar. Expliquei-lhe mais uma vez que se estiver com atenção nas aulas iria aprender melhor e não teria que estudar tanto. Disse-lhe como lhe venho a dizer desde pequeno que é capaz de tudo e que nuca aceite que lhe digam o contrário. Por fim repeti-lhe mil e uma vezes que não preciso que os meus filhos tenham as melhores notas, a única coisa que preciso é que tenham notas suficientes para passarem e que sejam felizes.
Não sei se a mensagem entrou naquela cabeça ou não. Tenho notado um pessimismo crescente nele, não sei se é um indicio da pré-adolescência ou outra coisa. Vou continuar a acompanhar estas mudanças de perto para tentar ajuda-lo o melhor que posso.
Quando pensamos no Outono, pensamos em folhas amarelas e avermelhadas caídas das árvores. Pensamos em montes imensos de folhas secas nos quais quase nos apetece mergulhas. Pensamos em ventos mais fortes que brinca com as folhas, que as levam pelos ares e enfeitam as ruas.
Contudo o outono não são só temperaturas mais baixas e folhas caídas. Não é só o cheiro de castanhas assadas. O Outono também é tempo de flores e nunca ninguém fala nisso. Por aqui temos uma nespereira em flor que liberta um agradável aroma.
Temos também pequeno botões a abrir no limoeiro.
E estrelícias que nos animam a vista com as suas cores vibrantes.
Quando pensarem no Outono lembrem-se que à mais do que folhas caídas.